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Cinema 'queer'

18 de fevereiro de 2011

O Teddy foi criado para tirar do gueto o cinema de temática gay. Em 25 anos de existência, o prêmio mantém o fino equilíbrio entre o ativismo e as plumas e paetês. Brasileira Beth Sá Freire compõe o júri este ano.

O Teddy Award, autodenominado "mais importante prêmio do filme queer do mundo", celebra seu jubileu de prata em 2011. Transcorrendo paralelamente ao Festival Internacional de Berlim (Berlinale), sua lista de premiados e homenageados é um verdadeiro who's who do mundo gay: cineastas do porte de Derek Jarman, Gus Van Sant, Pedro Almodóvar, Rosa von Praunheim, Werner Schroeter e François Ozon constam lado a lado com ícones das telas como Helmut Berger, Joe Dallesandro ou Tilda Swinton.

Para fora do gueto

'A lei do desejo' recebeu o primeiro dos prêmios, em 1987Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library

A ideia de um prêmio, à sombra da Berlinale, para o cinema de temática LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) nasceu em 1987. Seus criadores, Wieland Speck e Manfred Salzgeber, desejavam, acima de tudo, que produções de qualidade pudessem ser assistidas e levadas a sério para além do gueto gay.

Selecionados a partir de qualquer seção do grande festival – da mostra competitiva e Panorama até o Berlinale Shorts ou Forum – os laureados com o Teddy teriam, assim, a chance de uma presença mais ampla na mídia e no meio profissional, que até então lhes era vedada.

Entre seus numerosos motivos de orgulho, o Teddy ostenta o fato de ter como primeiro premiado o filme A lei do desejo (La ley del deseo), de Almodóvar. Entre os protagonistas, encontrava-se o jovem Antonio Banderas, ainda longe da associação com Madonna, Zorro e todo o hype hollywoodiano.

Irmão gay do Urso de Ouro

Mas, na verdade, a história começa pelo menos sete anos antes, quando Salzgeber assumiu, na Berlinale, a seção Info-Schau, que mais tarde seria intitulada Panorama. Ativista do movimento gay, ele passou a dar maior espaço para as obras LGBT em sua programação.

Wieland Speck, diretor do prêmioFoto: Bernd Sobolla

Cinco anos mais tarde, Salzgeber criou uma rodada de debates intitulada Nachtcafé, para a qual convidava cineastas como Jarman e Van Sant. Wieland Speck, que o assistia na organização do ciclo, o sucederia na direção do Panorama, em 1992. Este foi também o ano em que o Festival de Berlim reconheceu o Teddy Award, incluindo-o em sua lista oficial de prêmios.

O título do prêmio já diz muito sobre sua natureza. Afinal, o Teddy (de teddy bear – ursinho de pelúcia) é o irmão mais novo e gay do respeitável Urso de Ouro, concedido na Berlinale. Indo mais longe, os "ursos" são um subgrupo da cena gay: peludos, corpulentos e barbados – como o próprio Wieland Speck, daddy of the Teddies.

Política e glamour

Estatueta do Teddy, criação de Ralf KönigFoto: Barbara Dietl

Programático é também seu troféu, desenhado pelo cartunista Ralf König. Em contraste com o urso em posição de luta do grande prêmio da Berlinale, o Teddy lembra, antes, uma gorda ratazana sentada, de olhar lúbrico e bonachão. "Aqui nada é como você espera, nem é absolutamente sério", parece dizer a estatueta.

Por outro lado, longe da pachorra do urso de König, o evento desenvolveu ao longo dos anos um caráter político, enfocando a discriminação e as violações de direitos humanos em diversas partes do mundo. O diretor da Berlinale, Dieter Kosslick, define o Teddy Award como "um fanal na luta contra a homofobia, a violência movida pelo ódio e a aids".

Por fim, a cerimônia de entrega, na última sexta-feira da Berlinale (18/02), nada tem de barriguda e feiosa: plumas, paetês e anatomias perfeitas são o que não falta. O prefeito de Berlim, Klaus Wowereit, orgulhosamente homossexual, é o patrono do evento e presença obrigatória na apresentação da cerimônia. A festa de gala que se segue é um evento social disputado a unha, com altíssima concentração de VIPs – quer reais, quer pretensos.

Cartaz do Teddy Award 2011, por Pierre et GillesFoto: Teddy Award/Ilona Firtzsche

Homenageados ilustres

No ano de jubileu, o júri internacional do prêmio do cinema queer inclui a brasileira Beth Sá Freire. A advogada e especialista em comércio exterior é diretora adjunta do Festival de Curtas de São Paulo e figura de destaque no meio cinematográfico. Em 2001, integrou o júri da Berlinale.

Atualmente, o Teddy é concedido em quatro categorias – Melhor Longa Metragem, Melhor Curta, Melhor Documentário/Ensaio e o Prêmio do Júri – além de duas distinções especiais – o prêmio dos leitores da revista Siegessäule e o Special Teddy Award, que premia uma personalidade pelo conjunto de sua obra e/ou atuação pelos direitos humanos.

Instituído em 2007, este último já foi recebido pelo diretor argentino Santiago Otheguy, pelo ator inglês John Hurt (2009) e pelo cineasta alemão Werner Schroeter (2010). Em 2008, a distinção coube ao conjunto de colaboradores de Derek Jarman – Keith Collins, Simon Fisher Turner, Isaac Julien, James Mackay e Tilda Swinton – por preservarem o legado do realizador britânico, "como família e como combatentes".

Pieter-Dirk UysFoto: AP

O Special Teddy Award vai este ano para o humorista sul-africano Pieter-Dirk Uys e seu alter ego Evita Bezuidenhoud, a "mulher branca mais conhecida da África do Sul", nas palavras do político Nelson Mandela. Aos 65 anos de idade, Uys desenvolve um importante trabalho de conscientização contra a aids nas escolas de seu país.

O visual do 25º Teddy Award é ditado pelo duo de artistas franceses Pierre et Gilles. Em sua característica combinação de romantismo e erotismo, o cartaz mostra um jovem adônis seminu sobre fundo azul celeste, o corpo todo coberto de marcas de batom e cercado por corais cintilantes e um enxame de bocas. Ele representa o slogan "Mil beijos – Proteja todo beijo".

Autoria: Augusto Valente
Revisão: Roselaine Wandscheer

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