Harry acusa imprensa de semear a discórdia na família real
Christine Lehnen
9 de janeiro de 2023
Às vésperas do lançamento de seu livro de memórias "Spare", príncipe fala sobre a conflituosa relação da monarquia com a imprensa e sobre o preconceito com Meghan e revela ter pedido ao pai para não se casar com Camilla.
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Uma entrevista do príncipe Harry à emissora britânica ITV neste domingo (08/01) repercutiu na imprensa britânica e internacional. Antes do lançamento mundial de seu livro de memórias Spare, nesta terça-feira, o príncipe falou sobre a obra, em que acusa a imprensa, especialmente os tabloides, de semear o conflito no seio da família real.
Em uma reação incomumente discreta, os jornais britânicos de todos os espectros políticos se concentraram em dois assuntos da entrevista: o príncipe Harry afirmou que nunca acusou a família britânica de racismo, mas apenas de preconceito inconsciente em relação a sua esposa, Meghan.
Em segundo lugar, ele revelou suas emoções conflitantes em relação à madrasta, Camilla, a rainha consorte, o que ganhou as manchetes da edição impressa do jornal britânico The Guardian. Ele disse ainda na entrevista que pediu ao pai, o rei Charles 3º, que não se casasse com Camilla, aconselhando-o a ficar com ela sem o matrimônio. Mesmo assim, ele afirmou ter ficado muito feliz por eles quando se casaram.
A mídia britânica está mais tolerante com Harry?
No Reino Unido, a repercussão da entrevista na mídia impressa foi relativamente respeitosa, talvez em resposta às acusações do príncipe. Alguns meios de comunicação repercutiram mais a entrevista em seus portais online, como o The Guardian, que descreveu a entrevista como "furiosa", embora Harry não tenha se mostrado zangado durante a conversa, e enfatizando a sua felicidade na vida privada e o amor pela família.
Mais adiante na entrevista, porém, referiu-se à monarquia britânica e à família real como "agressores". "O silêncio só protege o agressor", disse ele, quando questionado sobre seus motivos para publicar um livro de memórias ao mesmo tempo que insiste que a imprensa respeite sua privacidade. Ele falou ainda longamente sobre o trauma da morte prematura da mãe.
A princesa Diana, apelidada de "a princesa do povo" devido à sua popularidade, morreu num acidente de carro em Paris em 1997, enquanto era perseguida por paparazzi. O acidente aconteceu um ano depois de Diana e Charles terem se divorciado formalmente, após anos de infelicidade no casamento.
Questionado se compareceria à coroação do pai, no próximo dia 6 de maio, se fosse convidado, Harry disse que "muita coisa pode acontecer entre agora e então", evitando uma resposta direta.
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Desafiando a monarquia
Apesar de na última década estar diminuindo o apoio da geração mais jovem do Reino Unido à monarquia britânica, Harry disse na entrevista que o seu problema nunca foi com a própria monarquia, mas com a relação entre ela e a imprensa. Ele afirma que a família real alimenta os tabloides britânicos com informações, tornando-se cúmplice da relação prejudicial entre o público e a coroa.
Harry também disse na entrevista que "o mundo" pede a responsabilização da família real britânica pelo que fez a ele e à sua esposa, enquanto países da Commonwealth, da Austrália à Jamaica, discutem a possibilidade de remover o monarca britânico como seu chefe de Estado.
Enquanto isso, historiadores no Reino Unido e políticos das antigas colônias têm apelado para que a família real britânica e o Reino Unido reconheçam a opressão colonial que exerceram no passado e sua participação no comércio transatlântico de escravos.
A atenção da mídia para Harry e Meghan
O duque e a duquesa de Sussex geraram polêmica quando lançaram seu documentário da Netflix Harry and Meghan, em dezembro de 2022. Desde que deixaram a família real em 2020 e se mudaram para a Califórnia, nos Estados Unidos, eles mesmos passaram a ser responsáveis por gerir recursos para seu sustento.
Segundo sondagens do final de 2022, antes do lançamento do documentário e das memórias do príncipe, Harry e Meghan tinham alguns dos mais baixos índices de popularidade entre os membros da família real, enquanto o herdeiro do trono, William, e a sua esposa, Catherine Middleton, mantinham o posto de mais queridinhos entre o público britânico desde a morte da rainha Elisabeth 2ª, em setembro de 2022.
A família real britânica
O conceito de "família real" surgiu na metade do século 19, com o príncipe Alberto e a rainha Victoria. Desde então, não é só uma rainha ou um rei que representam o Império Britânico, mas uma família inteira.
Foto: Daniel Lea/AFP
Um conceito de família
O conceito de "família real" surgiu na metade do século 19, com o príncipe Alberto, a rainha Victoria e os nove filhos. Desde então, não é só uma rainha ou um rei que representam o Império Britânico, mas uma família inteira. Os Windsor modernizaram e aperfeiçoaram esse conceito. Tanto que a rainha Elizabeth 2ª até aceitou a segunda esposa de seu filho Charles na família.
Foto: picture-alliance/dpa/PA Wire/Yui Mok
Monarquia em perigo
O rei George 5º e seu primo, o czar Nicolau 2º da Rússia, eram até bem parecidos em sua fisionomia, mas George se distanciou de Nicolau quando este teve de abdicar devido à revolução de fevereiro de 1917. Temendo revoltas em seu próprio império, ele logo voltou atrás numa oferta de asilo político. Pouco depois, Nicolau 2º foi assassinado.
Foto: picture-alliance/Heritage Images
Rei George 5º e Mary of Teck
Controverso durante a Primeira Guerra Mundial, o reinado de George 5º se estabilizou rapidamente após a mudança de nome para Windsor. Enquanto em outros lugares as monarquias enfrentavam crises, George 5º liderava o Reino Unido através da crise econômica e permitiu a independência de colônias britânicas dentro da Commonwealth.
Foto: picture-alliance/akg-images
Reinado curto de Edward 8º
Após a sua morte, em 1936, George 5º foi sucedido no trono pelo filho Edward 8º. O reinado deste foi um dos mais curtos da história britânica, com apenas 326 dias. A relação entre o playboy e a americana Wallis Simpson foi um escândalo e causou uma crise constitucional. O governo conservador acabou forçando Edward a abdicar.
Foto: picture-alliance/Photoshot
O pai de Elizabeth
Seu irmão mais novo assumiu o trono em 1937 como George 6º. Com a esposa, Elizabeth, e suas duas filhas, Elizabeth e Margaret Rose, ele trouxe uma família intacta ao palácio. Ele conduziu o país durante a Segunda Guerra Mundial, mas esta lhe custou a saúde: ele morreu em 1952, aos 56 anos, por causa de uma trombose coronariana.
Foto: picture-alliance/IMAGNO/Austrian Archives
Castelo de Windsor
Uma das receitas para o sucesso dos Windsor é a forma como eles enfrentam as crises. Durante a Segunda Guerra Mundial, a família real compartilhou das dificuldades vividas pelos súditos e viveu, por exemplo, apenas com as rações de comida. O rei permaneceu em Londres apesar dos bombardeios alemães e dos danos no Palácio de Buckingham. Só os fins de semana ele passava com a família em Windsor.
Foto: picture-alliance/IMAGNO/Austrian Archives
"Queremos o rei!"
Com o seu engajamento e sua determinação, os membros da família real se tornaram símbolos da resistência britânica ao fascismo. Após a rendição das tropas alemãs em 8 de maio de 1945, uma multidão eufórica gritou em frente ao palácio de Buckingham: "Queremos o rei!". George 6º estava no auge da popularidade.
Foto: picture-alliance/akg-images
Casamentos reais como eventos do ano
Em 1947, multidões foram a Londres para o casamento da então princesa Elizabeth e de Philip Mountbatten. A união livre de escândalos gerou quatro filhos, assegurando continuidade aos Windsor em tempos em que muitas monarquias se desfizeram.
Foto: picture-alliance/akg-images
Charles esperou muito pelo trono
O casamento entre o príncipe Charles e Lady Diana nunca foi feliz. Ele terminou em 1992, trazendo danos à imagem da família real. Os dois filhos tiveram de superar não só a separação dos pais, como a morte da mãe em um acidente de carro em 1997. Levou muito tempo até que Charles voltasse a ser visto como um membro respeitado da família real.
Foto: picture-alliance/dpa
Um reinado de aniversário
Em 2012, o reino celebrou as bodas de diamante da rainha Elizabeth e, em 2016, o seu aniversário de 90 anos. Nenhum outro soberano esteve por tanto tempo à frente da monarquia britânica. Ela é o chefe de Estado há mais tempo no cargo em todo o mundo. Apesar das críticas à família real britânica, o apoio à monarquia, no reinado dela, segue inabalado.
Foto: imago/i Images
William e Kate, a monarquia moderna
Após a separação dos pais e a trágica morte da mãe, a vida privada de William, neto da rainha, começou a ser alvo do interesse do público. Em 2011, ele se casou com Kate Middleton, uma plebeia que demonstrou gosto pelo seu papel na família real. O casal já ampliou a família com três pequenos herdeiros.
Foto: AFP/Getty Images/C. de Souza
A próxima geração
Os novos membros da família Windsor já concentram as atenções da mídia. "Efeito príncipe George" é o nome dado à influência que o pequeno príncipe exerce sobre a economia e a cultura pop. Ou seja: o que George veste ou usa vende bem. Na foto, vê-se George ao lado da irmã, Charlotte.
Foto: imago/i Images
Mais um na linha de sucessão
Em 23 de abril de 2018, Kate deu à luz seu terceiro filho. O menino é o quinto na linha de sucessão ao trono britânico. O primogênito da rainha, príncipe Charles, encabeça a lista, seguido pelo príncipe William, George, Charlotte e o mais novo membro da família real.
Foto: picture-alliance/ZUMAPRESS.com/T. Nicholson
Mais dois netos para a rainha
Em 6 de maio de 2019, a poucos dias de completarem um ano de casados, o príncipe Harry e a esposa, Meghan Markle, anunciaram a chegada do primeiro filho, Archie, que é o sétimo na linha de sucessão ao trono britânico. Em 4 de junho de 2021 nasceu a filha deles, Lilibet Diana.
Foto: Prince Harry and Meghan, The Duke and Duchess of Sussex/dpa/picture alliance
O "Megxit"
Em janeiro de 2020, Harry e Meghan renunciaram ao título "sua alteza real" e a recursos públicos, em troca de uma vida independente. O casal passou a ser "apenas" duque e duquesa de Sussex. A família real concordou com a renúncia após o casal comunicar à rainha o desejo de abdicar do status de "membros sêniores" da monarquia para serem economicamente independentes e viver na América do Norte.
Foto: AFP/D. Leal-Olivas
Entrevista bombástica a Oprah Winfrey
Em março de 2021, Harry e Meghan falaram da dificuldade de conviver com a família real, racismo e depressão. Segundo Meghan, a família e quem comanda a instituição são coisas separadas. Filha de uma afro-americana, Meghan falou da "preocupação sobre quão escuro" seria seu filho. A pressão a fez pensar em suicídio. Harry disse que o pai e o irmão estão "presos" em seus papéis.
Foto: Harpo Productions/Joe Pugliese/REUTERS
Grande perda para a rainha
Em 9 de abril de 2021, morreu o príncipe Philip, marido da rainha Elizabeth 2ª. O Duque de Edimburgo tinha 99 anos, e sua saúde vinha se deteriorando há algum tempo. Ele e a rainha da Inglaterra estavam casados desde 1947.
Foto: John Patrick Fletcher/Action Plus/imago images
70 anos no trono
Elizabeth 2ª acumulou recordes notáveis: aos 96 anos de idade, foi a monarca reinante mais antiga e teve o casamento mais duradouro na história da realeza britânica. Sua coroação entrou para a história, com recorde de espectadores – carca de 300 milhões mundo afora. E, por fim, ninguém jamais ocupou por tanto tempo o trono britânico. Em 2022, ela completou 70 anos no trono.
Foto: Daniel Leal/AFP
A morte de uma rainha
No dia 8 de setembro de 2022, foi anunciada a morte da rainha Elizabeth 2ª, causando comoção em toda Commonwealth. No seu enterro, em 19 de setembro, compareceram chefes de governo e de estado do mundo inteiro. Multidões acompanharam os féretros e as cerimônias fúnebres.