Preço da banana na Alemanha gera atrito com Equador
Hardy Graupner rk
22 de fevereiro de 2019
Maior exportador mundial da fruta, país sul-americano suspende exportação a supermercados alemães por reduzirem demais o valor do produto. Banana tem papel tão importante quanto petróleo no combate à pobreza no Equador.
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Maior exportador de bananas do mundo, o Equador vem tentando há tempos organizar uma frente de países produtores na América do Sul para impedir a rede alemã de supermercados Aldi de aplicar pressão injusta sobre agricultores locais através de sua política agressiva de preços.
Uma reportagem do jornal alemão TAZ publicada na semana passada afirmou que, além do mercado de descontos Aldi, os rivais nacionais Netto e Edeka também têm vendido banana a menos de um euro por quilo, um valor tão baixo que viola os diretos humanos dos agricultores no Equador e em outros países latino-americanos.
Segundo o site World's Top Exports, o Equador se destacou como o maior exportador de banana do mundo em 2017, tendo sido responsável por 3 bilhões de dólares em vendas, ou 24,6% das vendas globais. Como um todo, a América Latina e o Caribe somaram o maior valor de exportações da fruta no período, totalizando 7,2 bilhões de dólares em vendas.
Só para a Alemanha foram enviadas, em 2018, 90 mil toneladas de bananas produzidas em fair trade (comércio justo) em Costa Rica, Equador, Guatemala e Colômbia, afirma o TAZ. O país europeu tem participação de 12,5% no comércio mundial de bananas. Segundo o jornal, a fruta se tornou "a predileta dos alemães".
O barateamento da banana levou o Equador a interromper suas vendas ao Aldi, e o fornecimento só será retomado quando um preço mais alto por engradado for negociado, informou à DW Dieter Overath, diretor administrativo da Transfair, uma organização alemã sem fins lucrativos.
O governo do Equador protestou contra a política de preços da rede alemã em carta aberta. O Aldi, por sua vez, não respondeu a um pedido de entrevista da DW.
Overath enfatizou que nem todas as redes de supermercados alemãs seguiram a redução de preços do Aldi. Ele mencionou especificamente a rede de descontos Lidl, que anunciou no ano passado que, em breve, venderia apenas bananas fair trade em suas filiais.
"Esperávamos um efeito dominó, que outras redes seguissem [o exemplo]", explicou Overath ao TAZ. "É chocante que esteja acontecendo exatamente o contrário e que a reação de alguns supermercados baratos seja diminuir os preços ainda mais."
Segundo a organização Fairtrade International, com sede em Bonn, na Alemanha, algumas dessas redes de descontos expressaram intenção de reduzir para 4,50 dólares o preço do engradado de 18 quilos de banana.
A instituição calculou ser necessário um valor mínimo de 9,45 dólares por engradado para que se possa oferecer salários decentes e treinamentos aos agricultores locais, permitindo assim que eles atinjam padrões ecológicos modernos de produção. No Equador, segundo o diário TAZ, o preço mínimo definido por lei é de 6,20 dólares por engradado.
A estratégia de precificação agressiva do Aldi e de alguns outros supermercados de descontos na Alemanha atraiu a ira do ministro alemão do Desenvolvimento, Gerd Müller, que deverá viajar à América Latina – incluindo o Equador – daqui a algumas semanas para discutir o assunto com autoridades locais.
Para a Transfair e a Oxfam – outra organização sem fins lucrativos –, são os consumidores que poderão desempenhar um papel decisivo para fazer o Aldi e seus concorrentes reconsiderarem sua política de preços.
Mesmo com renda média muito superior a dos brasileiros, alemães pagam menos no supermercado, também em relação à maioria de seus vizinhos europeus. Veja comparação de preços de alguns produtos entre Brasil e Alemanha.
Foto: DW/A. Wojcieszak
Nutella
Ao fazer comprar em mercados alemães, muitos brasileiros se admiram com os preços de alguns produtos. Por exemplo, um pote de Nutella de 350 gramas, que no Brasil custa cerca de R$ 22, na Alemanha sai por volta de 2,25 euros (R$ 9). É bom lembrar que frente a seus vizinhos diretos, como Holanda e Dinamarca, o custo de vida na Alemanha é mais barato. Só Polônia e República Tcheca são mais em conta.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Brandt
Papel higiênico
Outro exemplo é o papel higiênico. Os inúmeros tipos e marcas dificultam a comparação, já que na Alemanha mesmo os produtos mais baratos têm mais camadas. Um pacote de folha tripla com 16 rolos sai por volta de 4,30 euros (R$ 17), enquanto no Brasil a mesma quantidade em folha dupla fica por cerca de R$ 22.
Foto: Imago/M. Westermann
Xampu
No geral, o custo de produtos de higiene na Alemanha é mais baixo. Exemplo disso é o xampu. Um frasco de 400 ml – da mesma marca – que no Brasil custa em média R$ 16 sai por volta de 3 euros (R$ 12) na Alemanha. Os preços da Alemanha são mais baixos que em países como Suíça, Luxemburgo, França e Áustria, o que gera um verdadeiro turismo de compras nas fronteiras.
Foto: Fotolia/P. Marcinski
Absorvente higiênico
Absorventes e tampões são taxados com mais de 25% no Brasil e quase 20% na Alemanha. Mesmo assim, nos tampões, a diferença de preço é quase o dobro: pacote com 20 unidades no Brasil custa cerca de R$ 14 contra 2 euros (R$ 8) na Alemanha. Já uma embalagem com 32 absorventes, que custa cerca de R$ 20 no Brasil, sai na Alemanha por 3,70 euros (R$ 15), comparando produtos de marcas iguais.
Foto: Imago
Leite, arroz e espaguete
Alguns produtos básicos têm preços semelhantes na Alemanha e no Brasil, apesar de a renda média do alemão ser quase sete vezes maior que a do brasileiro. Na Alemanha, o litro do leite custa cerca de 0,80 euro (R$ 3,20) e no Brasil, R$ 2,20. Já o quilo do arroz fica por 0,90 euro (R$ 3,60) contra R$ 2,70. Enquanto o espaguete sai, em ambos países, por volta de 0,50 euro (R$ 2).
Batata
Mas nem tudo é mais barato na Alemanha. Apesar de ser o país da batata, o quilo do produto nos supermercados alemães custa cerca de 2,50 euros (R$ 10), já no Brasil sai por R$ 3 no Brasil. Apenas pouco mais que 10% da renda dos alemães é destinada à compra de alimentos, segundo o jornal "Die Welt". No Brasil, os últimos dados oficiais apontam que essa cifra gira em torno de 16%.
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Combustível
Na hora de abastecer o carro, por exemplo, o Brasil também é mais em conta, apesar de a maioria dos postos da Alemanha não terem frentistas. O litro da gasolina na Alemanha custa cerca de 1,35 euro (R$ 5,40) contra R$ 4,20 no Brasil. Assim como o diesel, que fica por volta de 1,20 euro (R$ 4,80) para os alemães, contra R$ 3,40 para os brasileiros.
Foto: picture-alliance/dpa/C. Klose
Banana e café
Banana e café são realmente típicos da América Latina, isso também se nota no supermercado. Enquanto para comprar uma dúzia de banana nanica na Alemanha é preciso desembolsar cerca de 4 euros (R$ 16), no Brasil ela custa por volta de R$ 4. A diferença de preço no pó de café também é grande: pacote de meio quilo que sai por R$ 11 no Brasil custa 5,50 euros (R$ 22) na Alemanha.
Foto: Colourbox
Camisinha
Outro item mais barato no Brasil é o preservativo. Comparando a mesma marca de camisinha, um pacote com oito unidades que custa cerca de R$ 9 no Brasil, na Alemanha fica por volta de 3,70 euros (R$ 15). Vale a pena dizer que o preço dos preservativos na Alemanha é mais baixo que em boa parte dos países europeus, onde em média uma camisinha custa 0,70 euro (R$ 2,80).
Foto: Imago/Mint Images
Fraldas e lenços umedecidos
Uma das maiores diferenças de preço fica por conta de artigos de bebê. Na Alemanha, um pacote com 80 fraldas custa cerca de 14 euros (R$ 56), já no Brasil, é preciso desembolsar R$ 80 para produto da mesma marca. Nos lenços umedecidos a diferença é ainda maior: 3,50 euros (R$ 14) contra R$ 54 para embalagem com 168 lencinhos.
Foto: imago/imagebroker
Carne de gado
Já a carne de gado é um exemplo clássico de um produto bem mais barato no Brasil. O quilo do filé mignon na Alemanha custa cerca de 50 euros (R$ 200), já no Brasil esse valor gira em torno de R$ 60. Isso também vale para o quilo do peito de frango, que na Alemanha custa 10 euros (R$ 40) e no Brasil por volta de R$ 14. O salário mínimo na Alemanha é 8,84 euros (35 reais) por hora.
Foto: HLPhoto/Fotolia.com
Coca-cola
Tão comuns no Brasil, na Alemanha não se encontra garrafa de Coca-Cola de dois litros, apenas embalagens com quantidades menores. A garrafa de 1,5 litro, que custa cerca de R$ 6 no Brasil, sai por 1 euro (R$ 4). Na Alemanha, existem ainda diversas alternativas locais e com preços competitivos à marca americana, como Fritz-Kola e Afri-Cola.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Kalaene
iPhone 8 e TV Samsung 40"
Apesar de serem mais baratos nos Estados Unidos, para os brasileiros também vale a pena comprar produtos eletrônicos na Alemanha. Por exemplo, um iPhone 8 com 64 gigas, que custa cerca de R$ 4 mil no Brasil, na Alemanha, fica por volta de 800 euros (R$ 3.200). Já uma Smart TV de 40 polegadas da Samsung sai em média por 470 euros (R$ 1880) contra R$ 2.400.