Prefeita suspende policiais envolvidos na morte de negro
4 de setembro de 2020
Vídeo mostra agentes colocando capuz na cabeça de Daniel Prude, que morreu no hospital dias depois. Incidente é mais um relacionado à violência policial no país, que têm provocado uma série de protestos.
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Sete policiais envolvidos na morte por asfixia do homem negro Daniel Prude foram suspensos, anunciou nesta quinta-feira (03/09) Lovely Warden, prefeita de Rochester, cidade no estado de Nova York onde ocorreu o incidente, em março passado.
Em entrevista coletiva, a prefeita, que também é negra, criticou a ação policial. "O senhor [Daniel] Prude perdeu a vida na nossa cidade. Perdeu a vida por causa da ação dos nossos agentes de polícia", disse Warden. Ela alegou ter sido "enganada" por meses sobre as circunstâncias do caso.
A prefeita ressaltou que o chefe da polícia local disse que Prude morrera em sequência de uma overdose. Ela informou que só soube que a morte dele envolveu uso de força em 4 de agosto.
"O racismo estrutural e institucional levou à morte de Daniel Prude. Sou contra [o racismo] e peço justiça", sublinhou Warren, acrescentando que a morte foi uma "falha do nosso departamento de polícia, do nosso sistema de saúde mental, da nossa sociedade e falha minha''.
A ordem de suspensão ocorre um dia depois de os advogados da família de Prude terem divulgado imagens captadas pela câmara de vídeo da própria polícia e que mostram os agentes colocando um capuz na cabeça do homem enquanto o mantêm sentado no chão.
Também nesta quinta-feira, o governador de Nova York, Andrew Cuomo, exigiu respostas sobre a morte de Prude. "Vi o vídeo da morte de Daniel Prude em Rochester. O que vi é alarmante e quero respostas", disse Cuomo através de comunicado.
O caso da morte de Daniel Prude se soma a outros casos semelhantes ocorridos nos últimos meses e que geraram protestos nos Estados Unidos contra a violência policial de caráter racista.
Uma breve história do Black Lives Matter
02:19
Em Rochester, manifestantes saíram às ruas na noite de quinta-feira num segundo dia consecutivo de protestos. Cerca de 200 pessoas se reuniram perto da esquina da rua onde Prude foi contido pela polícia.Alguns ativistas afirmam que a suspensão dos policiais não é suficiente. Na cidade de Nova York, centenas de manifestantes pediram justiça pela morte de Daniel Prude.
O homem negro de 41 anos, com aparentes problemas mentais, morreu em 30 de março, quando foram desligados os aparelhos que o mantinham vivo, sete dias após sua interação com a polícia em Rochester. O caso recebeu pouca atenção pública até quarta-feira, quando sua família deu uma entrevista coletiva e divulgou as imagens da câmera de corpo de um dos policiais e relatórios obtidos por meio de um pedido de que os registros fossem de domínio público.
A vítima foi detida em 23 de março quando estava correndo sem roupas por ruas de Rochester, depois de o próprio irmão ter ligado para a polícia para alertar que Prude apresentava distúrbios mentais. "Eu fiz a ligação para que meu irmão recebesse ajuda. Não para que meu irmão fosse linchado", disse Joe Prude.
Os vídeos mostram Prude, completamente nu em meio à queda leve de neve, obedecendo quando a polícia pede que ele se deite no chão e coloque as mãos atrás das costas. Em seguida, ele é algemado. No início, Prude está calmo e cooperando com os policias. Mas momentos depois, ele fica agitado e começa a gritar enquanto está sentado no asfalto. "Dê-me sua arma, eu preciso dela", ele gritava.
Em seguida, os policiais colocam um capuz especial em sua cabeça, um dispositivo conhecido como spit hood e usado para evitar que os detidos cuspam ou mordam. Na época, o estado de Nova York estava no estágio inicial da epidemia de coronavírus.
Prude pediu que retirassem o capuz, mas um policial atirou o homem ao chão e outro manteve a sua cabeça pressionada contra o asfalto. Ouve-se os policiais pedindo que Prude se acalmasse e que "parasse de cuspir". Um terceiro policial pressionava suas costas com o joelho. "Estão tentando me matar!", disse Prude, com sua voz ficando abafada e angustiada sob o capuz. "Pare. Eu preciso disso, eu preciso disso", implorou antes que seus gritos se transformassem em gemidos e grunhidos.
Um legista concluiu que a morte de Prude foi um homicídio causado por "complicações de asfixia no contexto de contenção física".
MD/lusa/ap/afp/dpa/rtr
Protestos pela morte de George Floyd
Milhares se manifestaram nos Estados Unidos e até no Canadá contra o maltrato sistêmico de negros pela polícia, redundando em confrontações violentas. Trump contribuiu para acirrar os ânimos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/J. Cortez
"Não consigo respirar"
Protestos tensos contra décadas de brutalidade policial perante cidadãos negros se alastraram rapidamente de Minneapolis a outras localidades dos Estados Unidos. As manifestações começaram na cidade do centro-oeste após a morte do afro-americano George Floyd, de 46 anos: em 25/05/2020, um policial o algemou e pressionou o joelho em seu pescoço até ele parar de respirar.
Foto: picture-alliance/newscom/C. Sipkin
De pacífico a violento
No sábado, os protestos foram basicamente pacíficos, mas se tornaram violentos com o avançar da noite. Em Washington, a Guarda Nacional foi mobilizada diante da Casa Branca. Tiroteios no centro de Indianápolis deixaram pelo menos um morto: segundo a polícia, não havia agentes envolvidos. Policiais ficaram feridos em Filadélfia. Em Nova York, dois veículos da polícia avançaram contra uma multidão.
Foto: picture-alliance/ZUMA/J. Mallin
Saques e destruição
Em Los Angeles, manifestantes enfrentaram com brados de "Black Lives Matter!" (Vidas negras importam) os agentes da lei armados de cassetetes e revólveres com balas de borracha. Na cidade, assim como em Atlanta, Nova York, Chicago e Minneapolis, os protestos se transformaram em revoltas de massa, com saques e destruição de estabelecimentos comercias.
Foto: picture-alliance/AP Photo/C. Pizello
Provocador de Estado
O então presidente Donald Trump ameaçou enviar militares para abafar os protestos: "Minha administração vai parar a violência de massa, e de uma vez só", anunciou, acirrando as tensões nos EUA. Apesar de ele ter culpado supostos grupos de extrema esquerda pelas agitações, o governador de Minnesota, Tim Walz, citou diversos relatos de que supremacistas brancos estariam incitando o conflito.
Foto: picture-alliance/ZUMA/K. Birmingham
Mídia na mira da polícia
Diversos jornalistas que cobriam os protestos foram atacados por policiais. Na sexta-feira (29/05), o correspondente da CNN Omar Jimenez e sua equipe foram presos em Minneapolis. A polícia local também atirou na direção de Stefan Simons, da DW, quando ele se preparava para transmitir ao vivo, na noite de sábado. Outros repórteres foram alvejados com projéteis ou detidos quando estavam no ar.
Foto: Getty Images/S. Olson
Além das fronteiras
As manifestações chegaram até o Canadá: no sábado milhares marcharam pelas ruas de Vancouver e Toronto. Nesta cidade, os participantes também lembraram a morte da afro-canadense Regis Korchinski-Paquet, de 29 anos, na quarta-feira (27/05), caída da varanda de seu apartamento no 24º andar, onde se encontrava só com policiais.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/A. Shivaani
#GeorgeFloyd
Milhares também desfilaram diante da embaixada dos Estados Unidos em Berlim, manifestando indignação contra o homicídio de Floyd e o racismo sistêmico.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M:.Schreiber
Casa Branca cercada
A Força Nacional fez um cordão de isolamento, no domingo, para proteger a Casa Branca. O presidente Trump chegou a ser levado para um bunker na sede do Executivo, que foi alvo de manifestações por dias.
Foto: Reuters/J. Ernst
Soldados em Washington
Após Trump anunciar o uso de soldados para conter as manifestações, o Pentágono deslocou cerca de 1.600 militares para a área de Washington para apoiar as forças de segurança da capital caso seja necessário, diante dos protestos que marcaram uma semana da morte de Floyd. Na Alemanha, o ministro do Exterior, Heiko Maas, criticou a ameaça de Trump de usar militares armados contra os manifestantes.
Foto: Getty Images/AFP/W. McNamee
Recado de Obama
No dia em que a procuradoria endureceu as acusações contras os quatro policias envolvidos na ação, o ex-presidente dos EUA Barack Obama disse que protestos refletem "mudança de mentalidade" no país e incentivou os jovens a continuar realizando as manifestações. "Espero que (os jovens) sintam esperança, ao mesmo tempo que estão indignados, porque eles têm o poder de mudar as coisas", afirmou.
Foto: Reuters/J. Skipper
Funeral reúne centenas em Minneapolis
Centenas participaram de uma cerimônia fúnebre em homenagem a George Floyd em 04/06. Elas ficaram em silêncio por 8 minutos e 46 segundos, tempo em que Floyd ficou com o pescoço prensado pelo joelho de um policial. "É hora de nos levantarmos em nome de Floyd e dizer: tirem o seu joelho dos nossos pescoços", afirmou o reverendo e ativista pelos direitos civis Al Sharpton (foto) durante o funeral.