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PolíticaEspanha

Premiê espanhol aposta alto e convoca eleições antecipadas

29 de maio de 2023

Pedro Sánchez dissolve Parlamento após seu partido amargar derrota nas eleições regionais de domingo. Decisão arriscada busca mobilizar eleitores que temem extrema direita no governo nacional, avaliam analistas.

Pedro Sánchez
Sánchez afirmou que busca um "esclarecimento sobre os desejos do povo da Espanha"Foto: ANDREAS SOLARO/AFP/Getty Images

O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, anunciou nesta segunda-feira (29/05) a dissolução do Parlamento e a convocação de eleições antecipadas para 23 julho.

A decisão foi tomada após sua legenda, o esquerdista Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), ter amargado uma grande derrota nas eleições regionais e municipais de domingo, que favoreceram os candidatos de direita do Partido Popular (PP) e da legenda de extrema direita Vox.

As eleições parlamentares estavam originalmente previstas para ocorrer o final do ano, e a antecipação pegou de surpresa a maior parte de seu governo, segundo fontes próximas ao primeiro-ministro citadas pela agência Reuters.

No domingo, o PSOE perdeu 400 mil votos em comparação com a eleição regional de 2019, e seu parceiro de coalizão, a legenda de extrema esquerda Podemos, também registrou derrotas em todas as regiões.

Já o PP e o Vox tiveram um desempenho melhor do que o esperado. O PP conquistou a maioria absoluta na capital, Madri, enquanto os socialistas perderam o controle de Valência, Aragão e das Ilhas Baleares, bem como de seu reduto tradicional Extremadura e das cidades de Valência e Sevilha.

Sete das dez principais cidades do país e o governo quase todas as comunidades autônomas da Espanha agora estão sob controle da direita.

Aposta no medo da extrema direita

Alguns analistas avaliaram que a decisão de Sánchez pode ser uma tentativa de pegar seus opositores conservadores no contrapé e dar ao seu partido uma chance de assegurar o poder, ao invés de se enfraquecer ainda mais até o final de ano.

Essa estratégia considera que o PP, apesar de ter obtido o controle das maiores cidades espanholas, não conseguiu ter uma clara maioria de votos em âmbito nacional, o que o forçará a negociar uma aliança com o Vox para as eleições parlamentares.

Sánchez pode ter apostado que seus rivais não estariam prontos para fazer uma campanha coordenada até 23 de julho. Além disso, o premiê deve explorar o risco de a Espanha ter a extrema direita no poder pela primeira vez desde a morte do ditador Francisco Franco, em 1975, para tentar mobilizar os eleitores de esquerda e moderados.

É uma aposta parecida com a usada pelo premiê português Antônio Costa em janeiro de 2022, mas é incerto se funcionará também na Espanha, onde o próprio PP conseguiu em algumas cidades atrair eleitores moderados com o discurso de evitar a ascensão da extrema direita.

Sánchez diz buscar "esclarecimento" sobre o eleitor

O premiê espanhol descreveu a derrota de seu partido no domingo como um claro voto de desconfiança em seu governo de coalizão e disse que se sentia compelido a "assumir responsabilidade pessoal" pelo resultado.

Sánchez afirmou que busca um "esclarecimento sobre os desejos do povo da Espanha, um esclarecimento sobre a direção política que o governo deveria tomar e sobre as forças políticas que devem conduzir o país nesta fase". "Acredito que é necessário dar uma resposta e submeter nosso mandato democrático à vontade do povo", disse ele em um discurso televisionado.

O líder do PP, Alberto Nunez Feijoo, conclamou os eleitores a aproveitar as eleições antecipadas para torná-lo o próximo premiê. "Quanto mais cedo [a eleição], melhor", disse, pedindo aos eleitores que deem ao seu partido uma "maioria clara" para governar o país, acrescentando que vem mantendo conversas informais com o Vox.

O líder do Vox, Santiago Abascal, disse que seu partido estava aberto a "criar uma alternativa" a Sánchez, formando coalizões de governo nacionais e regionais com o PP.

Fama de tomador de riscos

David Hernandez Martinez, professor de relações internacionais da Universidade Complutense de Madri, afirmou à Reuters que Sanchez esperava usar a presidência espanhola do Conselho da UE, no segundo semestre de 2023, para se vender aos eleitores como um estadista internacional, e que o resultado de domingo "coloca uma enorme obstáculo nos seus planos".

Mas o primeiro-ministro é conhecido por assumir riscos políticos. Ele assumiu o cargo em junho de 2018 ao vencer o primeiro voto de desconfiança da história da Espanha, destituindo o primeiro-ministro do PP, Mariano Rajoy, após negociar um pacto com os partidos pró-independência catalão e basco. A fragilidade de seu governo o forçou também a convocar eleições antecipadas duas vezes em 2019.

"A alternativa seriam seis meses de sangria do governo", disse Oriol Bartomeus, cientista político da Universidade Autônoma de Barcelona, à agência de notícias AFP. "Ele decidiu apostar tudo. É típico de Pedro Sanchez, é o que ele faz."

bl (Reuters, AFP, ots)

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