Ex-chanceler federal alemão e Viktor Orbán negam que encontro seja provocação a Merkel e afirmam que compartilham dos objetivos da líder alemã na crise de refugiados.
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O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, visitou nesta terça-feira (19/04) o ex-chanceler federal alemão Helmut Kohl em Ludwigshafen, no sul da Alemanha. A visita foi interpretada como uma crítica velada do antigo chanceler alemão à política de refugiados de Merkel.
Kohl raramente recebe visitas de chefes de Estado ou de governo, e Orbán é um dos maiores críticos da chanceler federal alemã e ferrenho adversário da sua política de portas abertas para os refugiados. Kohl era o antigo mentor de Merkel e é, desde 2000, desafeto dela por causa do escândalo de financiamento irregular da União Democrata Cristã (CDU).
Mas também é verdade que Kohl e Orbán se conhecem de longa data. Kohl tem um carinho especial pela Hungria, pois, em 1989, quando ele governava a Alemanha, o então país comunista abriu sua fronteira com o Ocidente, permitindo que milhares de alemães-orientais fugissem para a Áustria e, de lá, para a Alemanha Ocidental. Na época, Orbán era um líder da oposição anticomunista.
Os dois mantiveram contato ao longo dos anos. Em 2000, quando Merkel conclamou o seu partido, a CDU, a virar as costas para o velho líder, envolvido no escândalo de financiamento irregular, Orbán o condecorou por ter ajudado a Hungria a se livrar do comunismo e se aproximar da Europa. Em 2002, foi a vez de Kohl ajudar Orbán, pedindo votos para o amigo numa eleição.
Em Ludwigshafen, Orbán entregou a Kohl um exemplar da edição húngara do livro Aus Sorge um Europa (Por preocupação com a Europa, em tradução livre). O livro escrito por Kohl tem prefácio de Orbán e um novo prefácio do próprio Kohl.
No novo texto, o antigo chanceler incluiu um trecho que observadores afirmam ser uma crítica a Merkel. Kohl escreve que "decisões unilaterais devem pertencer ao passado", o que seria uma referência à decisão de Merkel de abrir as fronteiras da Alemanha aos refugiados sem consultar os demais países europeus.
Em comunicado conjunto, Kohl e Orbán disseram, porém, não ver divergências entre as suas posições e os esforços da chanceler alemã na crise dos refugiados. "Vemos unidade na definição dos objetivos. Trata-se de achar o melhor caminho para milhões de pessoas numa questão existencial, considerando os aspectos humanitários." A questão, segundo eles, não é se a Europa deve ajudar, mas como.
O governo alemão descartou ver o encontro como provocação. "O ex-chanceler federal é obviamente totalmente livre na escolha de seus visitantes ou das pessoas com quem se encontra. Alegra-nos saber que o seu estado lhe permite participar de forma ativa da vida política", afirmou um porta-voz.
KG/ap/dpa/afp
A vida de um refugiado após selfie com Merkel
Há quem seja viciado em tirar autorretratos no celular, só ou acompanhado. Outros ridicularizam a moda como coisa de adolescentes. Para o sírio Anas Modamani, de 19 anos, um selfie foi o momento que transformou sua vida.
Foto: Anas Modamani
Encontrando Angela Merkel
Quando estava alojado no acampamento de refugiados de Berlim-Spandau, Anas Modamani ficou sabendo que a chanceler federal alemã, Angela Merkel, viria visitar e conversar com os migrantes. O sírio de 19 anos, um adepto das mídias sociais, resolveu tirar um selfie com a chefe de governo, na esperança de que a iniciativa iniciasse uma mudança real em sua vida.
Foto: Anas Modamani
Fuga para a Europa
Quando a casa dos Modamani em Damasco foi bombardeada, Anas, seus pais e irmãos se transferiram para Garia, uma cidade menor. Foi aí que o jovem resolveu escapar para a Europa, na esperança de que sua família se unisse a ele mais tarde, quando tivesse conseguido se estabelecer. Primeiro, viajou para o Líbano, seguindo então para a Turquia, e de lá para a Grécia.
Foto: Anas Modamani
Jornada perigosa
Por pouco, Anas não morreu no caminho. Para atravessar o Mar Egeu, entre a Turquia e a Grécia, ele teve que pegar um barco inflável, como a maioria dos refugiados. O sírio conta que a embarcação estava superlotada, acabando por virar, e ele quase se afogou.
Foto: Anas Modamani
Cinco semanas a pé
O trajeto entre a Grécia e a Macedônia ele teve que fazer a pé, ao longo de cinco semanas, seguindo então para a Hungria e a Áustria. Em setembro de 2015, alcançou sua destinação final: Munique. Uma vez na Alemanha, Anas decidiu que queria ir para Berlim, onde está vivendo desde então.
Foto: Anas Modamani
Espera por asilo
Na capital alemã, o jovem de Damasco passou dias inteiro diante da central para refugiados LaGeSo. Lá, ele conta, a situação era difícil, sobretudo com a chegada do inverno. Por fim, foi enviado para o acampamento de Berlim-Spandau. Ele queria chamar a atenção para sua situação como refugiado, e um selfie com Merkel lhe pareceu a oportunidade ideal.
Foto: Anas Modamani
Enfim uma família
Anas confirma que o retrato ao lado da chanceler federal foi um elemento de mudança chave em sua vida. Ele recebeu grande atenção midiática depois que o selfie foi postado online, e foi assim que sua família adotiva chegou até ele. Há dois meses o sírio de 19 vive em Berlim com os Meeuw, que o apoiam em todos os aspectos.
Foto: Anas Modamani
Saudades de casa
Anas diz nunca ter estado tão feliz como agora, ao lado de sua família alemã. Além de fazer curso de idioma alemão, tem numerosas atividades culturais e já fez muitos amigos. Com curso médio completo na Síria, ele pretende fazer o curso superior na Alemanha. Porém, sua prioridade no momento é obter oficialmente asilo e poder trazer seus pais e irmãos para a Alemanha.
Foto: Anas Modamani
Onda de rejeição aos refugiados
O sírio Anas Modamani espera ter uma vida longa e segura em sua terra de adoção. Contudo está preocupado com os atuais sentimentos negativos contra os refugiados na Alemanha. Ele teme que esse clima de rejeição possa escalar e influenciar as leis referentes aos migrantes. Se isso acontecer e ele não obtiver asilo, será o fim do sonho de ter a própria família junto de si.