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Presença militar russa divide população da Crimeia

Mikhail Bushuev (msb)2 de março de 2014

Criticado internacionalmente, envio de tropas para a península do Mar Negro por Putin é visto com esperança por maioria russa. Outras etnias estão receosas, e também paira o temor de uma guerra.

Foto: REUTERS

O júbilo é grande, entre parte da população da Crimeia. Carreatas transportando a bandeira da Rússia, pessoas festejando nas ruas das cidades de Sevastopol e Simferopol, capital da República Autônoma. Elas comemoram a aprovação, pelo Parlamento russo, de um pedido do presidente Vladimir Putin para enviar tropas militares à península pertencente à Ucrânia.

O entusiasmo dos grupos de origem russa, que respondem por aproximadamente 60% da população da Crimeia, já havia sido despertado antes, com a antecipação de um referendo sobre o status da península do dia 25 de maio para 30 de março. Este poderá ser o primeiro passo para uma maior independência da península em relação à Ucrânia, culminando com sua separação total do país, ou até mesmo com uma anexação à Rússia.

Símbolo de bravura

Após o anúncio do envio de tropas russas, houve manifestações nas duas maiores cidades da Crimeia. Estima-se que mais de 5 mil pessoas se reuniram na maior praça de Sevastopol, a pouca distância dos edifícios da administração pública. "Rússia! Rússia!" era a palavra de ordem.

Muitos manifestantes traziam a fita de São George – um símbolo de bravura militar, sobretudo para os russos, e lembrança de sua vitória sobre os nazistas. Entre 1941 e 1942 ocorreu no porto de Sevastopol uma das batalhas mais difíceis na Segunda Guerra Mundial. Atualmente, é lá que a frota russa no Mar Negro se encontra estacionada.

A maioria dos manifestantes quer uma aproximação à Rússia. "Esta é nossa escolha. Por que a imprensa internacional não fala isso?", questiona a escriturária Svetlana Konycheva. Ela se diz chocada com o fato de a imprensa ucraniana só informar sobre "medo e pânico entre as pessoas na Crimeia". Contudo, se trata exatamente do contrário, garante.

Fitas de São George distribuídas entre pró-russosFoto: DW/M. Bushuev

Intolerância com novo governo em Kiev

Poucas vezes o clima na Crimeia esteve tão politizado. Nos cafés, mercados e ruas só se fala em política. Há pouco tempo, a situação era bem diferente. "Geralmente vivemos com bastante tranquilidade. Mesmo durante os protestos em Kiev, tudo esteve bem calmo por aqui, até o novo governo ucraniano alterar a lei do idioma", conta Galina, proprietária de uma pequena loja. "Essa foi a gota d'água. De repente, 30 mil pessoas vieram para esta praça protestar", lembra.

A maioria dos cidadãos de Sevastopol tem dificuldade em entender e aceitar a revolução em Kiev – embora sejam poucos os que viam no presidente deposto Viktor Yanukovytch um bom chefe de Estado. Mas os que assumiram agora o poder na Ucrânia assustam boa parte da população da Crimeia.

"Não queremos uma Maidan aqui", mostra um cartaz, referindo-se à Praça da Independência de Kiev, foco dos protestos pró-europeus. Os russos que vivem em Sevastopol e Simferopol lutam, sobretudo, pelo direito de ter sua língua materna reconhecida como idioma regional. A lei nesse sentido fora aprovada sob Yanukovytch, mas o novo presidente interino, Oleksander Turchinov, vetou a decisão do Parlamento de suspender a lei do idioma.

A população de origem russa espera que a fraca economia da Crimeia possa ganhar novo impulso sob orientação do Kremlin. "Vivemos há mais de 20 anos sob regime da Ucrânia. E o que eles fizeram pela Crimeia? Temos uma dívida pública de 130 bilhões de dólares, que os meus netos precisarão quitar. E nossa economia está no chão", critica o pintor Oleg Tanzüra, inspirado pelo que ele chama de "energia dos protestos".

Pró-Kremlin participam de carreatas com bandeiras nacionais russasFoto: DW/M. Bushuev

Preocupações do outro lado

Mas muita gente na Crimeia não está feliz de que a crise na Ucrânia tenha chegado a este ponto; entre eles, alguns russos que vivem na península. Não são todos os que apoiam os últimos movimentos de Moscou. "Tenho medo de que isso vire uma guerra", desabafa Pavel, um executivo de Simferopol.

Profundamente preocupada estão as minorias que vivem na península – entre eles os tártaros, que respondem por 15% da população, e os ucranianos, que somam 10%. "Estamos a apenas meio passo de uma catástrofe", avalia Refat Tchubarov, presidente de uma importante associação de tártaros da Crimeia.

Sua etnia não tem boas lembranças da política do Kremlin. Na Segunda Guerra, o ditador soviético Josef Stalin mandou deportar os tártaros da Crimeia para a Ásia Central. Hoje, eles defendem que a integridade territorial da Ucrânia não seja ferida – por isso são contrários à separação da Crimeia. Tchubarov conclamou os cidadãos a não entrar em pânico e a manterem-se unidos. "Devemos manter tudo tranquilo", afirmou o tártaro na televisão.

Para os ucranianos que vivem na península e que apoiaram integralmente a revolução em Kiev, o anúncio sobre a ocupação pela Rússia fez o mundo vir abaixo. "Estamos chocados", afirma o coordenador do movimento Euromaidan Crimeia, Andrei Chekun: "Temos medo de protestar. Hoje, eu fui atacado na rua."

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