Arte digital
5 de novembro de 2011 Quem visitar o Centro de Arte e Tecnologia da Mídia (ZKM, na sigla em alemão) em Karlsruhe, na Alemanha, tem a oportunidade de conhecer uma enorme variedade de trabalhos de arte digital. Uma parede com 50 monitores de televisão piscam como se alguém estivesse constantemente zapeando pelos canais.
Perto dali, é possível pedalar uma bicicleta através de um mundo virtual, seguindo em meio a palavras projetadas em uma enorme tela. Os visitantes também podem usar um iPhone para criar pinturas aleatórias.
Apesar das diferenças sobre quando, como e por que foram criados, os trabalhos da exibição intitulada Trabalhos de Arte Digital: Os desafios da Conservação têm pelo menos uma coisa em comum: todos correm o risco de desaparecer.
"Nos últimos 10 anos tivemos que perceber que a possibilidade de apresentar estes trabalhos de arte está se reduzindo cada vez mais, que estamos perdendo a chance de mostrá-los ao público", conta Bernhard Serhexe, curador da mostra.
A exibição traz 10 estudos de caso, resultantes de um projeto suíço-franco-alemão, que vem testando diferentes estratégias para preservar a arte digital. Há inúmeras questões que ainda precisam ser superadas, segundo os envolvidos.
Peças obsoletas
Um exemplo na mostra é particularmente visível. "Os aparelhos de televisão datam dos anos 90, e eles não mais existem no mercado", afirma Serhexe.
Para evitar problemas com hardwares obsoletos, o ZKM, assim como outras instituições, estão estocando desesperadamente peças de reposição. Recentemente, por exemplo, eles adquiriram mil aparelhos antigos de tevê.
Uma visita ao depósito do museu, repleto de engenhocas e de peças antigas, é uma verdadeira viagem pelo tempo. "Temos um monte de objetos aqui, como velhos computadores Macintosh, interfaces digitais para instrumentos musicais MIDI, e também equipamentos de som como caixas de som 'ultrasonic speakers' e outros componentes, como controles usados na tecnologia de interface no museu", conta Martin Häberle, técnico-chefe do centro.
Häberle e seus colegas estão sempre buscando peças antigas no site de compras eBay e por meio de vendedores especialistas em eletrônicos. Mas ele acredita que em algum momento as peças vão acabar, aumentando a preocupação sobre como manter os trabalhos artísticos funcionando.
"Temos softwares de décadas atrás que não funcionam nos novos equipamentos de hardware. O que poderemos fazer para manter estes softwares antigos funcionando?", questiona o técnico.
A morte da arte imortal
Uma solução seria reescrever o código fonte, mas contratar programadores para fazerem isso sairia, em alguns casos particulares, bem caro. Diante do fato de que aparelhos eletrônicos estão em constante avanço, assim como sistemas operacionais e formatos de armazenamento de dados, levanta-se a questão se os artistas deveriam se dedicar a criar trabalhos digitais que tenham potencial de durar mais.
Esta é uma sugestão que Bernd Lintermann rejeita totalmente. Além de chefe do Instituto de Mídia Visual no ZKM, Lintermann também é um artista que escreve seus próprios programas para criar complexos mundos virtuais usando sons e imagens 3D.
"Eu crio usando os recursos disponíveis da melhor maneira possível. Pensar no futuro me limita, me limita em relação ao que pode ser, ao que é meu pensamento sobre o futuro", diz Lintermann.
Mais dinheiro e mais pesquisas
Essa é uma visão muito diferente daquela de muitos outros artistas, que esperam que seus trabalhos possam alcançar algum tipo de imortalidade. "Diferentemente da pintura e da escultura, que você pode sempre renovar e resgatar o original, acho que na arte digital isso tem um limite, que é alcançado geralmente quando o artista responsável pelo trabalho morre", afirma.
Para Serhexe, isso também significaria que o mundo enfrenta a perda de algumas de suas artes da contemporaneidade mais inventivas e inovadoras. Mais dinheiro e mais pesquisas são urgentemente necessários para encontrar maneiras de preservar esses itens culturais da história.
No momento, visitantes podem admirar a mostra sobre conservação de arte digital no ZKM de Karlsruhe até 12 de fevereiro de 2012. Depois ela deve passar por outras cidades da Borgonha e Estrasburgo, na França.
Autora: Kate Hairsine (msb)
Revisão: Carlos Albuquerque