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Presidência portuguesa para Comissão Européia

(sv)27 de junho de 2004

O primeiro-ministro de Portugal, José Manuel Durão Barroso, é indicado para suceder Romano Prodi na presidência da Comissão da UE. Schröder confirma o apoio de Berlim à escolha.

Durão Barroso: nome de consenso após longas discussõesFoto: AP

Após um fim de semana de incessantes especulações – a rejeição pelos social-democratas, a dúvida se o indicado aceitaria a candidatura – o premiê irlandês Bertie Ahern, que ocupa a presidência rotativa da União Européia, anunciou através de um comunicado pela internet a notícia tão aguardada.

Chegou-se, enfim, a um consenso a respeito de um nome para substituir o italiano Romano Prodi na presidência da Comissão Européia: o português José Manuel Durão Barroso. Oficialmente ele será indicado num encontro da UE na próxima terça-feira (29), em Bruxelas, mas o anúncio de Ahern significa que não há divergências em torno de seu nome.

Benção de Berlim

A benção de Berlim, segundo informou a mídia portuguesa, Durão Barroso já havia pedido na última sexta-feira (25), em conversa telefônica com o chanceler alemão Gerhard Schröder. Na Alemanha, o atual chefe de governo português contou também com o apoio explícito da presidente da conservadora União Democrata Cristã (CDU), Angela Merkel. Segundo consta, Merkel teria, através de uma conversa telefônica com o presidente francês, Jacques Chirac, sido uma das articuladoras da indicação de Durão Barroso para o cargo.

Antes de embarcar para Istambul, onde participa do encontro de cúpula da Otan, Schröder confirmou seu aval à escolha do político português para a presidência da Comissão Européia: "Acredito que ele poderá contar com apoio suficiente dentro da UE".

Apesar das divergências de partido (Durão Barroso pertence ao PSD, que apesar do título social-democrata, representa a corrente política de centro-direita em seu país), Schröder assegurou seu apoio à escolha divulgada por Ahern: "Há momentos em que é preciso colocar à frente as concordâncias e não as divergências".

Vice-comissário alemão

Comissário para ampliação Günter Verheugen: próximo homem da economia?Foto: AP

A Alemanha pretende indicar, "em troca do apoio", o vice-comissário de Economia na nova composição da Comissão Européia. Schröder afirmou que, em conversa com a representante da oposição, Angela Merkel, teria ficado claro que é direito de Berlim indicar o homem forte nas questões econômicas. "Defendemos a mesma posição de que seria bom se a Alemanha assumisse uma responsabilidade político-econômica de peso dentro da UE", completou o premiê. O atual comissário para a ampliação da União Européia, Günther Verheugen, é tido como um dos candidatos ao cargo.

A "solução portuguesa" selou o fim das dúvidas que atormentaram a UE desde o último encontro de cúpula, quando a impossibilidade de consenso entre os candidatos Guy Verhofstadt, apoiado pelos socialistas, e Chris Patten, indicado pelos conservadores, impediu que o sucessor de Prodi pudesse ser definido.

Discreto, poliglota, conservador e "sem carisma"

Durão Barroso, 48 anos, prima pela discrição. É improvável que vá querer brigar pelas luzes da mídia com "estrelas" como Blair, Berlusconi, Schröder ou Chirac. Seu perfil é mais de um burocrata do que de um estadista e sua força política vem antes da capacidade de propor consensos que da força de liderança.

Formado em Ciências Políticas nos EUA, Durão Barroso fala bem inglês e francês. O domínio do francês, diga-se en passant, é uma condição sine qua non para Paris aceitar qualquer nome na presidência da Comissão Européia.

Ex-ministro do Exterior de seu país, Durão Barroso, que também é presidente do Partido Social Democrata (apesar do nome, uma facção conservadora de direita), assumiu a chefia de governo há dois anos atrás, embora a mídia portuguesa tivesse duvidado até o fim que o político "sem carisma" fosse mesmo vencer as eleições.

O fantasma dos Açores

Cúpula dos Açores: Durão Barroso, Blair, Bush e AznarFoto: AP

"O carisma vem com o poder", costuma dizer Durão Barroso, parafraseando o ex-premiê espanhol José Maria Aznar, com quem mantinha boas relações. Exatamente essa estreita ligação com Aznar foi motivo da resistência inicial do governo socialista de Madri à sua indicação para o cargo.

E não é apenas o atual premiê espanhol José Luis Rodríguez Zapatero que se lembra exatamente que Durão Barroso foi, afinal, o anfitrião da chamada cúpula dos Açores, em 2003, quando Bush, Blair, Aznar e ele próprio encontraram-se no meio do caminho entre Europa e EUA, para dar o último empurrão à guerra do Iraque.

Até hoje, Portugal mantém 130 soldados estacionados no país. "A cúpula dos Açores pesa contra ele. É a fotografia que estraga tudo", disse um diplomata europeu citado pelo diário português Público.

Se esse foi "o" ponto causador da resitência em torno do nome de Durão Barroso pela facção social-democrata no Parlamento Europeu, foi exatamente esse apoio aberto a Washington e Londres que fez com que o primeiro-ministro português se tornasse o queridinho de Blair para ocupar o cargo.

Primeiro escalão, país pequeno, zona do euro e Schengen

A "gratidão" pelo apoio à guerra no Iraque, para outros membros da UE, conta, porém, menos que outras qualidades que Durão Barroso traz na bagagem: o fato de ser um chefe de governo (ou seja, membro do primeiro escalão) de um país pequeno (para não correr o risco de ser acusado de estar fazendo lobby para os grandes aqui e acolá). E o fato de o país de onde vem ser um membro da zona do euro e fazer parte do Acordo de Schengen. Uma combinação que não se encontra em qualquer esquina.

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