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Entrevista

20 de junho de 2009

Suécia assume presidência rotativa do Conselho da União Europeia no próximo semestre. Em entrevista à Deutsche Welle, primeiro-ministro sueco Fredrik Reinfeldt fala sobre objetivos de seu país à frente da UE.

Fredrik Reinfeldt acredita que seu país vai introduzir o euro, no futuroFoto: DW-TV

No contexto do encontro de cúpula de chefes de Estado e governo da União Europeia (UE), que se encerrou nesta sexta-feira (19/06) em Bruxelas, a Deutsche Welle entrevistou o primeiro-ministro sueco Fredrik Reinfeldt, que assumirá a presidência do Conselho da União Europeia a partir de 1° de julho próximo. A Suécia sucederá à República Tcheca à frente da presidência rotativa do Conselho. O mandato é de seis meses.

Deutsche Welle: Sr. primeiro-ministro, durante a cúpula da UE, os chefes de Estado e governo do bloco indicaram José Manuel Durão Barroso para um segundo mandato como presidente da Comissão Europeia. No entanto, ele não tem maioria no Parlamento Europeu. A decisão dos líderes europeus foi errada?

Fredrik Reinfeldt: Bem, ele desfruta de amplo apoio por parte dos chefes de Estado e governo, mas nós precisamos também do apoio do Parlamento Europeu. A atual presidência tcheca do Conselho da UE e eu estamos em negociações com esses grupos parlamentares. Nós devemos ter em mente que, com as eleições europeias recém encerradas, a liderança de tais bancadas ainda não foi decidida, e eu espero que tenhamos diálogos construtivos.

A Europa precisa de liderança, precisa de respostas a questões sobre mudanças climáticas, sobre crise financeira. Nós não estamos precisamos de discussões prolongadas sobre quem devemos nomear em uma situação na qual temos somente um candidato.

Em poucos dias, o senhor assumirá a presidência temporária da União Europeia. Qual o seu principal objetivo político?

Na verdade, eu tenho dois. Em primeiro lugar, encontrar uma resposta global às mudanças climáticas. Nessa área, a Europa já demonstrou capacidade de liderança, mas sem uma resposta global não poderemos resolver o problema. O segundo objetivo é a crise financeira, que ainda afeta a Europa e todo o mundo. Estamos perdendo postos de trabalho e devemos fazer mais para conseguir estabilidade nos mercados financeiros e combater o desemprego.

Nessa crise profunda, diminui a disposição dos Estados de investir em proteção ambiental. O que pretende fazer para que a proteção ambiental torne-se novamente popular?

Acredito que, no futuro, o crescimento será uma combinação de competitividade e capacidade de reduzir as emissões de CO2. Essa é a resposta que a China está precisando, essa é a resposta para a Europa. Muitos dos atuais investimentos preparam-se para o período após a crise. É muito importante que investimentos sejam efetuados de forma a nos proporcionar eficiência energética, empregos e soluções verdes, e já agora.

Nesse contexto eu lembro a conferência sobre o clima em Copenhague, como também a solução que lá iremos procurar. Essa valerá para o período após 2012. Ou seja, para a época pós-Protocolo de Kyoto. E só resta agora esperar que a economia europeia esteja em melhor forma em 2012.

O senhor está contente com a atitude que os europeus tomaram diante do colapso dos mercados financeiros?

Sim. No início, vimos países que tentaram resolver os problemas por si. Dessa experiência, aprendemos que a solução encontrada por um país poderia, muito rapidamente, tornar-se um problema para o país vizinho. Ao iniciarmos a aplicação de soluções europeias coordenadas, acredito que encontramos o caminho certo.

Já coordenamos a distribuição de garantias para o setor bancário e programas conjunturais de apoio à economia, agora coordenamos a supervisão financeira. Ela já funciona, parcialmente, mas acredito que ainda temos que fazer muito mais. Nós aprendemos que devemos encontrar soluções transnacionais, pois papéis tóxicos e crises não são mais problemas nacionais no dias de hoje.

Em termos de supervisão dos mercados financeiros, o Reino Unido não quer instituições europeias fortes. Os esforços por uma nova supervisão financeira europeia não mostram que é difícil evitar uma volta ao nacionalismo?

Deve haver uma combinação de instâncias de controle nacionais e europeias. Acredito que, na situação atual, conseguimos chegar a uma nova fase. Percebemos que precisamos de uma supervisão financeira europeia. Aproveitaremos o tempo da presidência sueca da UE para preparar os [respectivos] projetos de lei, que deverão estar disponíveis até dezembro próximo. O atual texto constata, claramente, que precisamos de uma combinação de mecanismos de controle nacionais e transnacionais.

Economistas de todo o mundo estão de acordo em dizer que o euro é e foi o fator decisivo para a estabilidade da Europa nesta crise. O senhor concorda?

O euro, o pacto de estabilidade e crescimento, a abertura dos mercados, a regulação das ajudas estatais. O conjunto de tudo isso ajudou a Europa a se afirmar diante da crise e da recessão. Sem essas medidas, teríamos uma guerra comercial europeia com problemas bem maiores do que os que vimos até agora.

Mas o senhor é o chefe de governo de um país cuja moeda não é o euro. Muitos na Europa se perguntam quando a Suécia vai introduzir a moeda europeia?

Em 2003 tivemos um referendo no qual a grande maioria dos suecos rejeitou o euro. Eu teria preferido que o resultado tivesse sido "sim", porque acredito firmemente no euro. Mas temos que aceitar a vontade do povo sueco. Para que haja um novo referendo, é necessário que as pesquisas de opinião mostrem que o euro é apoiado por uma clara maioria e conta, ao mesmo tempo, com o amplo apoio dos partidos suecos. Esse não é o caso, no momento.

Mas essa pergunta será feita, no futuro, novamente à população. Entre os cidadãos suecos, já notamos agora uma tendência em direção a uma opinião positiva – talvez uma reação à crise financeira.

E isso é justamente o que falamos anteriormente. A crise financeira atinge principalmente aqueles que têm uma moeda pequena e que são vizinhos de países com uma moeda forte como o euro. Foi justamente o que acabou de acontecer novamente com a moeda sueca. No futuro, a pergunta será feita novamente, mas primeiro precisamos conseguir mais clareza entre os eleitores suecos.

Outro grande tema da presidência sueca será a reforma da UE. O Tratado de Lisboa ainda não foi ratificado por todos. Em que país estão as maiores ameaças para esse tratado?

É um longo caminho. Nós demos agora um bom passo à frente, porque formulamos as garantias legais para a Irlanda. Existem ainda três presidentes na Europa que devem assinar o tratado. Quanto tudo estiver consumado, o Tratado de Lisboa poderá entrar em vigor e, assim, a União Europeia poderá funcionar melhor. Então poderemos empregar mais energia política em temas que são importantes para os meus eleitores: as mudanças climáticas e a crise financeira.

Autor: Christian Trippe

Revisão: Alexandre Schossler

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