Presidente da Moldávia celebra resultado pró-UE em referendo
21 de outubro de 2024A presidente da Moldávia, Maia Sandu, afirmou nesta segunda-feira (21/10) que o país "venceu de forma justa uma luta injusta", em referência ao triunfo no primeiro turno do pleito presidencial, neste domingo, que ocorreu concomitantemente ao referendo para decidir se a nação deveria manter a candidatura para ingressar na União Europeia (UE).
A declaração de Sandu, que é pró-UE, ocorre um dia após o governo moldavo acusar a Rússia de interferência nos resultados.
Aprovado por uma pequena maioria de 50,46%, o referendo foi considerado o grande teste eleitoral para a ex-república soviética com pouco mais de 2,6 milhões de habitantes. O país faz fronteira com a Ucrânia e, portanto, também seria de interesse do presidente russo, Vladimir Putin.
No final deste domingo, Sandu, 52 anos, ex-economista do Banco Mundial e primeira mulher a presidir a Moldávia, disse que o país havia testemunhado "um ataque sem precedentes" à democracia, culpando "grupos criminosos que trabalham em conjunto com forças estrangeiras hostis aos nossos interesses nacionais". A presidente alega que ao menos 300 mil votos foram comprados por milhões de dólares.
"Vencemos a primeira batalha em uma luta difícil que determinará o futuro do nosso país. Nós ouvimos vocês: sabemos que precisamos fazer mais para combater a corrupção", declarou Sandu a repórteres, conclamando os moldavos a votar no segundo turno.
O Kremlin, por sua vez, pediu à presidente moldava que "provasse" a acusação de interferência eleitoral no país e alegou "anomalias" na contagem de votos.
Observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) afirmaram que tanto o primeiro turno da eleição presidencial quanto o referendo sobre as aspirações da Moldávia à UE foram "bem administrados", ainda que tenham sido registrados interferência estrangeira e esforços ativos de desinformação.
Em um relatório publicado nesta segunda-feira, a missão da OSCE disse que avaliou a votação "de forma extremamente positiva", mas observou alguns problemas processuais e o uso indevido de recursos administrativos durante as campanhas.
Cumprimentos e críticas de governos
A União Europeia e também países membros do bloco comentaram a eleição. O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, saudou a Moldávia como uma "nação corajosa", e a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, parabenizou o país por sua "bravura". A UE também lamentou o fato de a eleição ter sofrido "interferência e intimidação sem precedentes" da Rússia.
O governo alemão condenou o que chamou de tentativas "constantes" da Rússia de manipular e influenciar a Moldávia: "Vemos que a Rússia e também atores pró-Rússia estão tentando desestabilizar a Moldávia em grande escala", declarou a porta-voz adjunta do governo, Christiane Hoffmann.
Ela também disse que Berlim condena "essa manipulação contínua e as tentativas de influenciar uma eleição democrática e, por fim, o processo de tomada de decisão do povo moldavo".
Hoffmann pediu uma investigação sobre as acusações de interferência russa e disse que a Alemanha continuará apoiando o caminho da Moldávia rumo à adesão à UE.
Uma porta-voz do Ministério do Exterior em Berlim disse que a Alemanha enviou especialistas civis e policiais para ajudar a combater a desinformação como parte de uma parceria conjunta com a UE.
Segundo turno contra aliado de Putin
De acordo com a comissão eleitoral em Chisinau, capital da Moldávia, o primeiro turno da eleição presidencial terminou com vitória de Maia Sandu com 42% dos votos. Seu principal rival, Alexandr Stoianoglo, um ex-procurador da República apoiado por socialistas pró-Rússia, terminou com uma taxa bem acima das expectativas: 26%. Os dois se enfrentarão no segundo turno, em 3 de novembro.
"Temos uma grande chance de vencer em 3 de novembro, e venceremos", disse Stoianoglo, 57 anos, a jornalistas na sede de seu partido, classificando o resultado da votação como um "fracasso retumbante e vergonhoso" para o governo.
Os críticos de Sandu dizem que ela não fez o suficiente para reformar o Judiciário e combater a inflação em um dos países mais pobres da Europa. Em sua campanha, Stoianoglo, que foi demitido do cargo de promotor justamente por Sandu, defendeu a "restauração da justiça" e prometeu adotar uma "política externa equilibrada".
A eleição deste domingo revelou "profundas divisões" no país, conforme avaliação da analista sênior do Grupo de Crise da UE, Marta Mucznik, para quem o impacto das campanhas de desinformação pró-Rússia era "evidente".
"Tanto Bruxelas quanto Chisinau devem se preparar para mais tensões e reconsiderar suas estratégias se quiserem promover efetivamente o projeto de adesão à UE", disse Mucznik.
Prisões devido a suspeitas
Nas últimas semanas, centenas de prisões foram efetuadas depois que as autoridades descobriram um esquema de compra de votos "sem precedentes" que poderia macular até um quarto das cédulas.
A polícia informou que milhões de dólares teriam vindo da Rússia com o objetivo de corromper eleitores.
Além disso, centenas de jovens foram treinados na Rússia e nos Bálcãs para criar "desordem em massa" na Moldávia, inclusive usando táticas para provocar ações policiais.
gb/ra (AFP, dpa, Reuters)