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Presidente decorativo, vice no comando

13 de fevereiro de 2019

Jair Messias Bolsonaro ainda não começou a governar. Pelo jeito seria até melhor se ele continuasse como chefe de Estado decorativo e deixasse Mourão no comando, afirma o colunista Thomas Milz.

Vice-presidente Hamilton Mourão
Vice-presidente Hamilton Mourão: "A voz do bom senso no governo Bolsonaro"Foto: Getty Images/AFP/N. Almeida

Até agora, Bolsonaro passou a metade de sua "gestão" no hospital. Não dá para culpá-lo por isso. Da outra metade, só ficaram na memória aqueles estranhos seis minutos no Fórum Econômico Mundial de Davos, nos quais ele leu, sem carisma algum, um texto de pouca inspiração diante da elite financeira global. O que se pode esperar dele e se dá para esperar algo dele ainda não se sabe.

A impressão transmitida até aqui é a de uma figura triste, quase apática. Insiders relatam sobre encontros perturbadores de Bolsonaro com delegações de governos estrangeiros em janeiro, nos quais o presidente mal pronunciou uma palavra. Em vez disso, ele logo a passou a seus ministros – especialmente ao ministro da Economia, Paulo Guedes, a estrela e esperança deste variado gabinete. Além disso, o vice-presidente, Hamilton Mourão, teria várias vezes corrigido posições do presidente.

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Mourão se destaca com a ausência forçada de Bolsonaro. Para desagrado do grupo de Bolsonaro, ele elogia o ativista ambiental Chico Mendes, se encontra com sindicalistas da CUT e tem até palavras conciliatórias para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso. E assegura ao embaixador dos palestinos de que nada mudará na política brasileira para o Oriente Médio.

O vice opera uma política de relações exteriores própria e alternativa, que claramente visa limitar danos que a política externa oficial do ministro das Relações Exteriores de Bolsonaro, Ernesto Araújo, ameaça causar. Enquanto Araújo segue cegamente a política americana de confrontação em relação ao governo da Venezuela, Mourão se diz a favor de um papel de mediação do Brasil. O general disse ser necessário dar a Maduro uma possibilidade de escapar. Mourão também tenta afastar a mudança da embaixada brasileira para Jerusalém anunciada por Bolsonaro.

Thomas Milz é colunista e correspondente da DW Brasil Foto: Arquivo Pessoal

Os sites pró-Bolsonaro dos direitistas brasileiros já alvejam Mourão. Dizem que ele é um puxa-saco das mídias tradicionais, aquelas que Bolsonaro quer punir. Outros suspeitam que ele já esteja se posicionando para assumir a Presidência. Seja lá o que estiver por trás dos esforços individuais de Mourão, pelo menos ele mostra que esse governo dispõe de um mínimo de bom senso.

Mourão também exigiu que a legenda de Bolsonaro, o PSL, esclareça os casos de candidatos falsos nas eleições de outubro. Nos últimos dias, a mídia tem reportado que o partido teria registrado "candidatos-laranjas" para desviar dinheiro público. Isso arranha a imagem de político honesto de Bolsonaro.

E ele também fez declarações sobre o escândalo envolvendo o filho do presidente Flávio Bolsonaro. "Apurar e punir, se for o caso", afirmou o vice-presidente. Um ex-assessor de Flávio fez em sua conta movimentações de altas quantias consideradas suspeitas, e a primeira-dama Michele Bolsonaro também recebeu dinheiro. As conexões de Flávio com milícias no Rio de Janeiro são consideradas especialmente problemáticas. Também o pai dele elogiou frequentemente as milícias no passado.

Agora, até Steve Bannon ataca o vice Mourão. O ex-gerente de campanha do presidente dos EUA, Donald Trump, e mentor do movimento alt right revela laços cada vez mais próximos com o clã Bolsonaro. Eduardo, um dos filhos do presidente, foi recentemente nomeado por ele como líder de seu movimento The Movement na América do Sul. O objetivo do movimento, em resumo, não é levar o mundo a um século 21 pacífico, mas de volta à caótica Idade Média.

Há apenas algumas semanas não teria passado pela cabeça de ninguém chamar o vice-presidente Mourão de portador da esperança. Mas considerando a atuação de Bolsonaro, que aparenta não dar conta da função, fica-se tentado a torcer por Mourão.

Thomas Milz saiu da casa de seus pais protestantes há quase 20 anos e se mudou para o país mais católico do mundo. Tem mestrado em Ciências Políticas e História da América Latina e, há 15 anos, trabalha como jornalista e fotógrafo para veículos como o Bayerischer Rundfunk, a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung. É pai de uma menina nascida em 2012 em Salvador. Depois de uma década em São Paulo, mora no Rio de Janeiro há quatro anos.

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