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PolíticaMéxico

Presidente do México tem apoio de 90% em referendo inédito

11 de abril de 2022

Mexicanos foram às urnas dizer se queriam que López Obrador concluísse mandato, mas menos de 20% dos eleitores votaram. Referendo impulsionado pelo presidente foi alvo de críticas de opositores.

O presidente do México, Andres Manuel López Obrador
"Não temos um rei no México. É uma democracia, e o povo está no comando", disse López ObradorFoto: Eduardo Verdugo/AP Photo/picture alliance

Nove em cada dez mexicanos que foram às urnas neste domingo (10/04) votaram a favor de o presidente Andrés Manuel López Obrador permanecer no cargo, em um referendo inédito na história do país que reafirmou seu domínio em meio à polarização política.

Entre 90,3% e 91,9% dos eleitores apoiaram López Obrador na votação, segundo estimativas preliminares divulgadas pelo Instituto Nacional Eleitoral (INE) do México.

Desencadeando uma onda de críticas de seus adversários, o presidente saudou o resultado do referendo como "histórico" e comparou a cifra com números conquistados por rivais derrotados por ele nas eleições presidenciais e em outras eleições.

"Não temos um rei no México", disse em um pronunciamento em vídeo. "É uma democracia, e o povo está no comando."

Estima-se que o comparecimento às urnas tenha sido de 17% a 18,2%, segundo o INE, um número bem abaixo dos 40% necessários para ser vinculativo e também inferior ao que previam algumas pesquisas. Um levantamento publicado pelo jornal El Financiero neste mês esperava um comparecimento de 16% a 25%. Cerca de 93 milhões de mexicanos estavam aptos a votar neste domingo.

O primeiro recall do México

O presidente mexicano argumentara que o referendo, também conhecido como recall, seria vital para confirmar seu mandato democrático, mas a oposição viu o processo como uma dispendiosa distração dos problemas reais do país.

López Obrador, um esquerdista que governa o país desde dezembro de 2018, é o idealizador do primeiro recall no México, e tanto seus críticos quanto apoiadores já esperavam que ele venceria facilmente.

O referendo alimentou a especulação de que poderia abrir a porta para a prorrogação dos limites do mandato presidencial, em um país onde o chefe de Estado é autorizado a servir apenas um único período de seis anos.

López Obrador nega querer prolongar seu mandato, mas usou o referendo para incendiar seus apoiadores e tentar atingir a oposição, da qual muitos líderes encorajaram os mexicanos a ignorar a votação, sob o argumento de que o processo seria um exercício de propaganda para o presidente.

Como prometido, López Obrador anulou seu voto escrevendo "Vida longa a Zapata!" em sua cédula, em homenagem ao herói revolucionário mexicano. Ele havia dito que não votaria em si mesmo, mas que era importante participar do processo.

Com um custo de milhões de dólares e muito divulgado na capital, o referendo perguntou aos mexicanos se o mandato de López Obrador deve ser revogado "devido à perda de confiança", ou se ele deveria concluir seu mandato, como previsto, em 30 de setembro de 2024.

Teste de força

O plebiscito também é um teste da força do presidente antes das eleições governamentais de junho. López Obrador não tem conseguido cumprir as promessas de campanha para reduzir a criminalidade e erguer a economia, e deixou investidores apreensivos ao tentar renegociar contratos assinados por governos passados e apertar o controle estatal sobre recursos naturais e energéticos.

Mas o lançamento bem-sucedido de programas de bem-estar social e seu esforço diário em apresentar uma narrativa política na qual ele é um defensor moralmente correto dos pobres contra uma elite rica e corrupta tem ajudado a fortalecer sua popularidade.

Muitos mexicanos consideram López Obrador uma alternativa bem-vinda em relação aos líderes anteriores, muitas vezes vistos como distantes da população em geral, em uma sociedade que permanece altamente desigual.

López Obrador usou referendos para aplicar políticas controversas, e provocou o cancelamento da obra de um aeroporto parcialmente construído na Cidade do México antes mesmo de tomar posse, com uma votação na qual apenas uma pequena fração da população participou. Ele foi eleito com uma larga vantagem em 2018, quando recebeu mais de 30 milhões de votos, a maior de toda a história mexicana.

ek/lf (Reuters, AFP)

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