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Presidente interina da Bolívia anuncia candidatura

25 de janeiro de 2020

Após negar intenção de concorrer à presidência, Jeanine Áñez volta atrás e diz que aliança política permitiu sua entrada na disputa eleitoral. Decisão pulveriza bloco que faz oposição ao partido de Evo Morales.

Jeanine Áñez
Áñez assumiu a presidência em cargo em 12 de novembro após a renúncia de Evo MoralesFoto: picture-alliance/dpa/J. Karita

A presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez, anunciou nesta sexta-feira (24/01) que disputará a eleição para a presidência do país marcada para 3 de maio. O anúncio ocorreu depois dela ter negado sua participação no pleito e foi criticado por adversários da senadora.

Com o anúncio, a presidente interina, que assumiu o cargo em 12 de novembro após a renúncia de Evo Morales em meio a uma convulsão social devido irregularidades nas eleições de outubro, pôs fim aos tumores sobre sua candidatura.

Há uma semana, quando uma possível candidatura começou a ser ventilada por aliados e ministros do governo provisório, Áñez disse que não entraria na briga eleitoral e que tinha cumprido seu papel ao convocar as eleições.

Áñez voltou atrás depois de uma união de seu grupo político com forças que se aliaram ao ex-presidente Carlos Mesa no pleito anulado de outubro. "Quero me dirigir às famílias bolivianas para anunciar que tomei a decisão de me apresentar como candidata para as eleições", disse em um evento que contou com a presença de vários de simpatizantes em La Paz.

"Não estava nos meus planos. Nas últimas semanas procuramos construir consensos mínimos com as principais forças e atores políticos, apelando à grandeza deles. Como parte desse processo, conseguimos construir uma grande aliança que me permite ser candidata nessas eleições", disse a presidente.

Com o nome de Áñez oficializado, Mesa, derrotado em primeiro turno por Morales nas eleições anuladas de outubro, perde importantes aliados, como o governador do estado de Tarija, Adrián Oliva, que deixa a coalizão Comunidade Cidadã para se unir ao movimento liderado pela presidente interina.

A expectativa é que o prefeito de La Paz, Luis Revilla, componha a chapa encabeçada por Áñez. No entanto, o nome do candidato à vice-presidência ainda não foi confirmado pela nova aliança política, batizada de Juntos.

Para justificar a mudança de opinião sobre a candidatura, a presidente afirmou que tomou a decisão porque viu que os nomes que se lançaram na corrida eleitoral até o momento não foram capazes de unir os bolivianos.

Áñez não descartou se aliar a outras legendas para formar uma frente mais ampla para enfrentar Luis Arce, ex-ministro da Economia durante grande parte dos três mandatos de Morales e escolhido como candidato do Movimento ao Socialismo (MAS) à presidência.

"Estendo uma mão a eles e garanto que a porta segue aberta para que se unam a esta frente ampla e diversa. Convidamos todas as forças democráticas e líderes sociais a se somarem a essa grande proposta para construir um consenso nacional", afirmou Áñez.

Antes do anúncio, pesquisas indicavam a liderança de Arce, que recebeu a benção de Morales, com 20,7% das intenções votos. Em segundo lugar, aparecia Áñez, com 15,6%, seguida de Mesa, com 13,8%.

A candidatura de Áñez pulverizou ainda mais à oposição ao partido de Morales que disputa os mesmos segmentos do eleitorado da classe-média. Além da atual presidente e Mesa, o ex-presidente de direita Jorge Quiroga e o Luis Fernando Camacho, líder de protestos contra Morales após as acusações de fraude, também disputam o pleito.

A decisão da senadora foi alvo de críticas. O ex-candidato Samuel Doria Medina acusou Áñez de usar o aparato estatal em sua campanha e disse que ela fará exatamente o que criticava em Morales. Quando surgiram os rumores da candidatura de Áñez, Camacho afirmou que "não seria ético" a participação da atual presidente na eleição.

Os bolivianos voltam às urnas no próximo dia 3 de maio para eleger um novo presidente e renovar também os representantes do Legislativo depois da anulação do pleito de outubro por denúncias de fraude apresentadas pela oposição e por entidades como a Organização de Estados Americanos (OEA).

A Bolívia passa por um grave conflito desde o dia seguinte às eleições de 20 de outubro, quando surgiram acusações de que o pleito foi fraudado em favor de Evo Morales, que mais tarde foi proclamado vencedor para um quarto mandato consecutivo.

Em 10 de novembro, a OEA advertiu em um relatório sobre graves irregularidades nas eleições e Morales anunciou sua renúncia, pressionada pelas Forças Armadas, para no dia seguinte seguir em asilo para o México. Depois, ele viajou para a Argentina, onde pediu refúgio político. De Buenos Aires, o ex-presidente coordena a candidatura do MAS para as próximas eleições.

A renúncia de Morales foi descrita como "golpe de Estado" por vários governos e políticos latino-americanos, enquanto outros países reconheceram o governo interino de Áñez. Parte da comunidade internacional insistiu no diálogo sem se pronunciar sobre a crise política na Bolívia.

Mas à repressão violenta aos protestos de partidários de Morales foi criticada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que denunciou o "uso desproporcional da força policial e militar".

A Comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, também denunciou "o uso inútil e desproporcional da força pela polícia e pelo Exército" na Bolívia.

CN/efe/afp

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