Presidentes assinam pacto para preservação da Amazônia
7 de setembro de 2019
Encontro reúne líderes da Bolívia, Colômbia, Equador e Peru. Após cancelar viagem, Bolsonaro faz participação por videoconferência e aproveita para denunciar o que chamou de "indústria de demarcação de terras indígenas".
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Presidentes e representantes de sete países sul-americanos assinaram nesta sexta-feira (06/09) o "Pacto de Letícia pela Amazônia", um acordo de cooperação para a proteção da região e promoção do seu desenvolvimento sustentável. A iniciativa ocorre em meio à crise internacional provocada pelas queimadas na região, em especial na parte brasileira da Amazônia.
"Aqui estamos assinando um pacto em que coordenamos e trabalhamos harmonicamente por objetivos comuns. Nos motiva a proteger a Amazônia e fazer trabalhos de prevenção e mitigação quando houver riscos como os incêndios florestais", disse o presidente da Colômbia, Iván Duque, ao assinar o pacto na Cúpula pela Amazônia, realizada na cidade colombiana de Letícia.
O pacto foi assinado por Duque, anfitrião do encontro, e pelos presidentes de Peru, Martín Vizcarra, Bolívia, Evo Morales, e Equador, Lenín Moreno, pelo vice-presidente do Suriname, Michael Ashwin Adhin, e pelo o ministro de Recursos Naturais da Guiana, Raphael Trotmano. O representante do Brasil foi o chanceler Ernesto Araújo.
Jair Bolsonaro não viajou por recomendação médica. Ele deve ser submetido a uma nova cirurgia no próximo domingo. O brasileiro se limitou a fazer uma participação por videoconferência. No vídeo, ele aproveitou a ocasião para mais uma vez denunciar o que chamou de "indústria de demarcação de terras indígenas" e um suposto plano para "tornar a Amazônia um patrimônio mundial".
"A questão das queimadas é quase que uma cultura em muitas regiões do Brasil e também nos países de vocês", disse o brasileiro para outros líderes durante a transmissão.
Mais tarde, durante um evento em Brasília, ele falou sobre a assinatura do pacto e aproveitou para criticar o boliviano Morales. "Ele disse que o capitalismo está destruindo a Amazônia. Como se no país dele não tivesse ocorrido as maiores queimadas", disse Bolsonaro.
O brasileiro não foi o único ausente entre os líderes de um país com território na Floresta Amazônica. O venezuelano Nicolás Maduro também não participou.
Embora a Venezuela participe da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, Maduro não foi convidado para o encontro porque seu governo não é reconhecido por quase todos os países que participaram da cúpula, entre eles Brasil e Peru.
Segundo o colombiano Duque, o encontro desta sexta-feira serviu para chamar a atenção dos governos da região sobre a urgência de enfrentarem unidos o narcotráfico, a mineração ilegal e a destruição das florestas.
Na cúpula foi também determinada a necessidade de que os países da região tenham "uma cooperação científica e técnica permanente", segundo Duque. O presidente peruano, Martín Vizcarra, afirmou que é preciso "passar a ações concretas, porque somente a boa vontade não é suficiente" para preservar a Amazônia.
A devastação da floresta por conta dos incêndios é um tema que ultrapassou as fronteiras da América Latina e ganhou repercussão global.
"Todos os países do planeta devemos pensar em como contribuir para preservar a Amazônia melhor, e a maior responsabilidade é dos países que a temos em nosso território", comentou Vizcarra.
Já o brasileiro Ernesto Araújo ressaltou que, com o documento, os países da região amazônica dizem que são "capazes, dignos e que individualmente e coletivamente têm ideias de trabalho para a conservação e o desenvolvimento racional sustentável, reafirmando a nossa soberania".
Focos de incêndio na Floresta Amazônica atingem seu pior agosto em quase uma década. Em Rondônia, fogo é a última etapa de uma cadeia criminosa que inclui invasão de terras, extração ilegal de madeira e desmatamento.
Foto: Imago Images/Agencia EFE/J. Alves
Chamas em agosto
Com 30.901 focos de queimadas registrados por satélites no bioma Amazônia, o mês de agosto de 2019 superou o registrado no mesmo mês em todos os anos anteriores até 2010, quando o número chegou a 45.018. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que monitora as queimadas desde 1998. O recorde para o mês de agosto ainda é de 2007, com 63.764 focos.
Foto: Flávio Forner
Prejuízos à saúde
Na região de Porto Velho, capital de Rondônia, a fumaça das queimadas causa problemas sérios de saúde. Em um estudo realizado no estado, a Fiocruz analisou dados de 1998 a 2005 e concluiu que o número de mortes de idosos acima de 65 anos por doenças respiratórias aumenta durante os meses de queimadas. Até 80% das mortes estão relacionadas aos incêndios florestais.
Foto: Flávio Forner
O futuro da floresta nacional
A Floresta Nacional do Bom Futuro, perto de Porto Velho, foi criada em 1988 para proteger originalmente 280 mil hectares da Floresta Amazônica. Em 2010, um decreto reduziu a área para 98 mil hectares por conta da ocupação da região. A Flona (floresta nacional) é uma das mais ameaçadas no bioma, com histórico de invasões, desmatamento e queimadas.
Foto: Flávio Forner
Plantão na floresta
Brigadistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) ficam de plantão na região da Floresta Nacional do Bom Futuro 24 horas por dia na época das queimadas, de julho a outubro. Eles fazem rondas diárias para evitar crimes e, quando identificam fogo, usam bombas costais e abafador para apagar as chamas.
Foto: Flávio Forner
Solo mais pobre
O primeiro efeito da queimada é a perda de nutrientes e da biota do solo, alerta o biólogo Marcelo Ferronato, da ONG Ecoporé. Com o passar dos anos, os nutrientes que estavam ali sendo depositados pelas florestas desaparecem, como folhas e galhos. "O solo vai se enfraquecendo, a área começa a ser degradada, a produtividade cai, e novas áreas são abertas, alimentando o ciclo do desmatamento."
Foto: Flávio Forner
Lote ilegal
O capim cresce na área já desmatada dentro da Floresta Nacional do Bom Futuro. A estaca fixada no chão serve para demarcar o lote que, mais para frente, será vendido de forma ilegal. A área onde o crime ocorreu fica a menos de um quilômetro da estrada de terra que corta a unidade de conservação.
Foto: DW/N. Pontes
Desmatamento antes do fogo
Esta clareira na Floresta Nacional do Bom Futuro foi aberta cinco dias antes de a equipe da DW Brasil visitar o local. Algumas árvores mais antigas ainda estão de pé, como uma da espécie tauari de 200 anos, de cerca de 40 metros de altura, que também é um porta-sementes. Segundo brigadistas, os criminosos esperam a mata derrubada secar por alguns dias antes de colocar fogo.
Foto: Flávio Forner
Reflorestamento em risco
Alguns projetos de compensação ambiental de outros empreendimentos são revertidos para a Floresta Nacional do Bom Futuro. Na foto, árvores nativas da Amazônia crescem numa área do tamanho de 70 campos de futebol que foi desmatada. Se elas sobreviverem aos crimes cometidos na região, precisarão de 50 anos para voltar a ganhar o aspecto de uma floresta densa.
Foto: Flávio Forner
Pressão em terras indígenas
No estado de Rondônia, 21 reservas são destinadas a povos indígenas. A Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, a cerca de 300 quilômetros de Porto Velho, tem sete aldeias e comunidades que escolheram viver isoladas na Floresta Amazônica. Criado em 1985, o território de uso exclusivo dos indígenas sofre ameaças constantes de madeireiros e grileiros.
Foto: Flávio Forner
Preocupação com a floresta
Segundo os indígenas, a destruição da floresta é muito rápida. Eles acreditam que a "empreitada" para desmatar e queimar a mata, que conta com entre 10 e 15 pessoas, seja custeada por quem tem muito dinheiro. Depois de tirar a madeira, os criminosos queimam a área e jogam sementes de capim, conta Taroba Uru-Eu-Wau-Wau (foto).
Foto: Flávio Forner
Desmatamento e pastagem
Segundo estudos de pesquisadores da Universidade Federal de Rondônia (Unir), o desmatamento ilegal serve para ampliar áreas de pastagem. Dados oficiais estimam que o rebanho no estado ultrapasse 14 milhões de cabeças. Aos poucos, as pastagens têm se convertido em plantações, como de soja, afirma a pesquisadora Maria Madalena Cavalcante, da Unir.