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Pressão sobre Alemanha vai além do futebol

Jonathan Harding de Moscou, ca
15 de junho de 2018

Escândalo político envolvendo jogadores paira como fantasma na concentração alemã. Seleção enfrenta tripla pressão: vencer, brilhar e, talvez a mais dura de todas, de defender os valores percebidos de uma nação.

Joachim Löw, ao fundo, comanda treino com Özil (esq.) e Gündogan (dir.) já na Rússia
Joachim Löw, ao fundo, comanda treino com Özil (esq.) e Gündogan (dir.) já na RússiaFoto: picture-alliance/dpa/I. Fassbender

Apesar de o gramado ser alguns milímetros mais alto do que desejado pelo técnico Joachim Löw, o primeiro treino da seleção alemã no campo do CSKA Moscou foi um retrato de serenidade. Depois de alguns passes e de uma minipartida ou duas, logo veio a hora de selfies e autógrafos com os cerca de 300 torcedores nas arquibancadas. Os atuais campeões do mundo parecem tranquilos no início do torneio, mas a pressão em torno deles está cada vez maior.

A Alemanha quer ser o primeiro país a conseguir o bi mundial seguido desde o Brasil em 1962. O elenco é o bom, o técnico Joachim Löw, que comandou o tetracampeonato, tem amplo apoio da torcida. Mas o persistente imbróglio em torno da foto que Mesut Özil e Ilkay Gündogan tiraram com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, não quer se dissipar como esperado.

A boa reputação da equipe de Löw, tanto dentro quanto fora do campo, sofre agora o seu primeiro revés, e a forma como essa mudança de atenção pública vai ser tratada pode ser um fator decisivo na Rússia.

Seleção alemã chega à Rússia para disputar a Copa do Mundo

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"Quanto mais forte a coesão interna, menos interferência externa atinge a equipe", diz o psicólogo esportivo Jens Kleinert ao considerar o possível clima em campo.

Por mais que isso seja verdade, e por mais forte e unida que essa equipe possa ser, os alemães estão tendo que enfrentar uma tripla pressão: a de vencer, a de brilhar e, talvez a mais dura de todas, de defender os valores percebidos de uma nação.

Na coletiva de imprensa realizada no hotel da equipe em Vatutinki, nesta quarta-feira (13/06), Löw parecia cansado ao falar sobre o incidente que envolveu Özil, Gündogan e o presidente turco.

O técnico da seleção alemã explicou que a sua tarefa agora seria preparar os dois jogadores da melhor maneira possível, apesar de admitir que, depois do amistoso contra a Arábia Saudita em Leverkusen, Gündogan ainda precisava "decolar".

O presidente da Federação Alemã de Futebol (DFB), Reinhard Grindel, também foi indagado sobre o assunto e foi mais direto em sua resposta. "Em 2014, a integração era vista como positiva. Isso mudou com a imigração em 2015. As pessoas veem problemas. Temos uma posição clara como federação. Estamos lidando com uma questão social... Há problemas neste país que vão muito além desta equipe", respondeu.

Embora isso possa ser verdade, a seleção alemã visa há muito contribuir positivamente para resolver esses problemas. Não ajuda em nada a determinação da diretoria de encerrar uma discussão que o país não concluiu. Embora Gündogan possa, como Grindel disse na quarta-feira, ter feito todo o possível desde o incidente, a DFB talvez tenha subestimado a dimensão da questão e, ao fazê-lo, adicionou mais pressão a um clima já tenso.

Muitos desejam que o esporte volte a ocupar o centro das atenções, e Kleinert afirma que eles não terão que esperar muito por isso. "Quanto mais avançar o torneio na Rússia, menor a importância de fatores externos. É um efeito psicológico. Quanto mais perto eu estiver do meu objetivo, mais me concentro nele", opina o psicólogo.

Como Löw afirmou no ano passado, em vez de apenas defender o título, a Alemanha quer vencer esta Copa do Mundo. Vencer quando for importante é o que essa equipe construiu em torno de si, então seria uma tolice julgá-la antes de sua estreia, contra o México no domingo. A cada partida que passa, o cenário ficará mais claro.

Recentemente, Löw admitiu à agência de notícias DPA que a Alemanha pode se transformar numa equipe mediana quando permite que erros se instalem. O desempenho na preparação para a Copa foi fraco, e a tentativa de silenciar a questão política deu ainda mais munição para os críticos.

Tudo isso colocou a equipe da Alemanha sob uma luz menos lisonjeira do que a que estava acostumada. Mas se os jogadores de Löw conseguirem manter a sua autodeclarada reputação de time copeiro e levantar a taça daqui a quatro semanas, é provável que tudo isso não acabe como uma simples nota de rodapé.

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