Candidato é cobrado por suas polêmicas declarações contra os homossexuais e discute com Luciana Genro e Eduardo Jorge, que o acusam de homofobia e incitação ao ódio.
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O candidato à Presidência da República Levy Fidelix (PRTB) esteve no centro de uma das discussões mais fortes do debate exibido pela TV Globo nesta quinta-feira (02/10). Fidelix entrou num debate sobre temas comportamentais com os candidatos Eduardo Jorge (PV) e Luciana Genro (Psol). Eles pediram que Fidelix se desculpasse aos brasileiros por suas declarações sobre a comunidade LGBT no debate de segunda-feira, transmitido pela Record.
Na ocasião, o candidato do PRTB disse que "aparelho excretor não reproduz" e pregou que "a maioria enfrente a minoria gay". As frases tiveram enorme repercussão nas redes sociais, levando a hashtag "Levy, você é nojento" a ser o assunto mais comentado pelos brasileiros no Twitter. Diversos políticos e artistas repudiaram a fala de Fidelix, que está sendo processado, na Justiça, por uma série de organizações de defesa dos direitos LGBT. A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) pediu a cassação da sua candidatura. Luciana Genro e Eduardo Jorge entraram com uma representação contra Fidelix no Ministério Público, por homofobia e incitação ao ódio.
"Perdão aos brasileiros"
A discussão começou quando Eduardo Jorge, que, pelas regras do encontro poderia escolher com quem queria debater, escolheu Fidelix. Ele disse que o candidato havia agredido a população LGBT. "Eu proponho que o senhor peça perdão ao povo brasileiro", concluiu. Fidelix respondeu que o candidato do PV não tinha "moral" para lhe acusar. "Você, acima de tudo, propõe que os jovens consumam maconha, isso é crime. Isso é apologia ao crime. Ao aborto. Apologia ao crime. Está lá no Código Penal", retrucou Fidelix, em referência às bandeiras da legalização do aborto e das drogas, defendidas por Eduardo Jorge.
Visivelmente nervoso e exaltado, Fidelix disse que tinha direito a se expressar livremente. Eduardo Jorge respondeu que o candidato havia "envergonhado o Brasil". "Vamos nos encontrar na Justiça, quando o Ministério Público abrir o processo e o senhor for chamado, e nós seremos testemunhas", disse o verde. Ele também desafiou Fidelix a lhe processar, pela suposta apologia ao crime: "Faça e vamos ver na Justiça", concluiu.
Transtornado, Fidelix chamou o candidato verde de "cara" e continuou a acusá-lo. "Envergonha você, cara, porque você está praticando apologia a crimes, a jovens que estão indo para clínicas de abortos se matarem. Então vire sua boca para lá."
Holocausto
Logo em seguida ao confronto com Eduardo Jorge, Fidelix foi obrigado a fazer uma pergunta para Luciana, a única candidata disponível, que ainda não havia sido questionada. No debate anterior, foi justamente uma pergunta da candidata do PSOL que motivou as declarações polêmicas de Fidelix.
"A senhora mandou seu ex-marido me procurar para pedir que não fizesse pergunta [à candidata Marina] porque queria questioná-la sobre economia", afirmou. "Mas você veio para algo que não tínhamos apalavrado. Você será uma presidente sem palavra, também?", perguntou, em referência aos bastidores do debate anterior, na Record.
Luciana reforçou que o candidato deveria "pedir perdão" e defendeu a criminalização da homofobia. "Estamos lutando na Câmara Federal para que para que pessoas que façam discursos como o teu saiam algemadas, e era assim que tu deveria ter saído do debate, algemado diretamente para a prisão", afirmou. A candidata do Psol disse que Fidelix "apavorou, chocou, ofendeu e humilhou" milhares de pessoas com o seu discurso.
Os candidatos à Presidência
Relembre as principais propostas dos candidatos e a campanha eleitoral.
Foto: NELSON ALMEIDA/AFP/Getty Images
Dilma Rousseff (PT)
A corrida eleitoral tem sido usada pela candidata à reeleição para ressaltar os êxitos sociais e programas do seu governo. A atual presidente é alvo dos concorrentes devido a escândalos recentes, mas sempre faz questão de lembrar que é a única entre os presidenciáveis a apresentar propostas para o combate à corrupção e à impunidade.
Foto: Reuters
Marina Silva (PSB)
A ambientalista tem sido acusada pelos outros presidenciáveis de ser inconsistente e ceder a pressões de diversos grupos. No início da campanha, Marina divulgou um programa de governo que defendia o casamento homossexual e a criminalização da homofobia, mas voltou atrás e alterou o texto. Sua proposta mais inovadora e polêmica é a independência do Banco Central.
Foto: Reuters/R. Moraes
Aécio Neves (PSDB)
Denúncias de corrupção ligadas ao PSDB são usados pelos adversários para atacar o tucano. Na sua defesa, Aécio tem lembrado os sucessos de sua gestão no governo de Minas Gerais. Ele promete reduzir o número de cargos comissionados e de ministérios, por meio da união de algumas pastas, como a criação do Ministério da Infraestrutura e o Superministério da Agricultura.
Foto: Reuters/Nacho Doce
Pastor Everaldo (PSC)
O pastor da Assembleia de Deus defende propostas polêmicas. O candidato promete privatizar estatais, inclusive a Petrobras, reduzir o número de ministérios e também a isenção do imposto de renda para trabalhadores que ganham até 5 mil reais por mês. Ele diz defender os valores cristãos e da família.
Foto: Miguel Schincariol/AFP/Getty Images
Luciana Genro (PSOL)
Durante a corrida à Presidência da República, Luciana Genro tem adotado a estratégia de mostrar as semelhanças entre os três candidatos mais fortes. Ela defende a reforma agrária, a demarcação de terras indígenas, o debate sobre drogas nas escolas e uma alíquota de imposto sobre as fortunas no país.
Foto: Miguel Schincariol/AFP/Getty Images
Eduardo Jorge (PV)
O médico é contra o financiamento de campanhas por empresas. Em suas propostas, trata de temas controversos e, por isso, ignorados por outros candidatos. O candidato do PV defende a descriminalização do aborto e a legalização de drogas para cortar o fluxo de dinheiro para facções criminosas.
Foto: Miguel Schincariol/AFP/Getty Images
Levy Fidelix (PRTB)
O candidato ganhou destaque após as declarações homofóbicas feitas no último debate na TV, quando associou homossexuais à pedofilia e propôs "coragem" para "enfrentar a minoria" gay. Levy defende a diminuição da maioridade penal, o aumento no orçamento de segurança e a posse de arma para todos.
Foto: Miguel Schincariol/AFP/Getty Images
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"Tu incitou o direito de uma suposta maioria enfrentar uma minoria. Isso já no passado aconteceu e resultou nos mais diversos tipos de genocídio, resultou no Holocausto, Levi. O teu discurso de ódio é o mesmo discurso que os nazistas fizeram contra os judeus."
Fidelix negou a acusação e ressaltou que era seu direito "defender a família" e ter uma "expressão cristã". "Em nenhum momento pedi para que as pessoas atacassem alguém”, rebateu. Luciana argumentou que a religião não justificava o discurso de ódio e protestou pela suspensão do chamado kit gay. Em 2011, a presidente Dilma Rousseff vetou o material anti-homofobia, que seria distribuído pelo Ministério da Educação na rede pública de ensino.
"Por pressão da bancada fundamentalista no Congresso Nacional, ela [Dilma] desistiu de levar para dentro das escolas o debate contra a homofobia, para que não tenhamos mais adultos como o senhor Fidelix, e sim crianças que tenham a educação para a tolerância e não-discriminação."
"Eu estudei você, tá bem?"
Em outra oportunidade, Fidelix novamente escolheu Luciana. O tema sorteado era descriminalização das drogas. "Você esteve em Cuba, esteve na Venezuela, e treinou muito lá guerrilha. Sim, falando muito bom espanhol, posou lá com a estátua do Che Guevara, eu vi sua história, estudei você, tá bem?", disse o candidato do PRTB.
Luciana defendeu a descriminalização das drogas e a desmilitarização da polícia. Fidelix retrucou: "Não adianta vir dar uma de mocinha porque está incitando o jovem a consumir mais drogas, está fazendo apologia". O candidato do PRTB novamente mencionou a polêmica com os gays. "Exijo respeito, nunca tive um processo na minha vida", protestou.
Momentos marcantes da campanha eleitoral
Durante quase três meses os candidatos à Presidência da República disputaram votos. A campanha eleitoral foi intensa e marcada por ataques, escândalos e a morte de um presidenciável.
Foto: Reuters
Começa a disputa
Com a presidente Dilma Rousseff com amplo favoritismo e ainda com Eduardo Campos, a corrida ao Planalto começou em 6 de julho. A partir de então foi liberada a propaganda eleitoral dos candidatos à Presidência, governos estaduais, Congresso Nacional e Assembleias Legislativas.
Foto: Antonio Cruz/ABr
Tragédia muda cenário
A corrida eleitoral, que começara em 6 de julho, teve seus primeiros meses marcados pela morte de Eduardo Campos, candidato a presidente pelo PSB. Campos estava em plena campanha, quando o jato particular que o levava caiu em Santos, no litoral paulista, no dia 13 de agosto. Devido à tragédia, Dilma Rousseff e Aécio Neves suspenderam suas campanhas por alguns dias.
Foto: picture-alliance/dpa
Nova candidata
Depois de sete dias de reuniões e discussões, o PSB confirmou em 20 de agosto os nomes de Marina Silva e Beto Albuquerque como novos candidatos à Presidência e vice pelo partido. A entrada da nova candidata representou uma guinada na corrida eleitoral.
Foto: Getty Images/Mario Tama
No rádio e na TV
A propaganda eleitoral no rádio e na TV começou no dia 19 de agosto. O primeiro programa foi marcado por homenagens a Eduardo Campos. Logo, porém, o tempo passou a ser usado pelos partidos, sobretudo PSDB e PT, para ataques aos adversários.
Foto: AFP/Getty Images/Evaristo Sa
Ataques e debates
O espaço destinado ao debate entre os presidenciáveis foi marcado por ataques mútuos e discussões sobre escândalos de corrupçao. A apresentação de propostas acabou ficando em segundo plano.
Foto: picture-alliance/dpa/Sebastião Moreira
Altos e baixos
A entrada de Marina Silva na disputa pela Presidência casou uma reviravolta nas intenções de voto. A candidata teve um crescimento vertiginoso. Deixou para trás Aécio Neves, ficando em segundo lugar nas pesquisas, e passou a disputar votos acirradamente com Dilma Rousseff. Mas nas últimas sondagens, Marina vem perdendo força.
Foto: Reuters/Paulo Whitaker
Escândalos de corrupção
A um mês da eleição, o vazamento do depoimento de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, à Polícia Federal, sobre políticos beneficiados por um esquema de corrupção na estatal, serviu de munição para ataques a Dilma. Em sua defesa, ela vem afirmando ser a única presidenciável a apresentar propostas de combate à corrupção.
Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP/Getty Images
Campanha na ONU
A presidente Dilma Rousseff levou um discurso similar ao de sua campanha à abertura da Assembleia Geral da ONU. Ela usou o espaço para ressaltar os êxitos sociais de seu governo. Dilma negou ter usado o evento de campanha eleitoral e afirmou que o discurso seguiu a linha adotada nos anos anteriores.
Foto: Reuters/Mike Segar
Declarações homofóbicas
O quarto debate dos presidenciáveis da televisão foi marcado pelas declarações homofóbicas do candidato pelo PRTB, Levy Fidelix. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pediu a cassação de sua candidatura. Em algumas cidades do país, simpatizantes da causa LGBT organizaram beijaços em repúdio às declarações.
Foto: Miguel Schincariol/AFP/Getty Images
Reta final
A corrida eleitoral entrou na sua reta final. A propaganda eleitoral no rádio e na TV termina nesta quinta-feira (02/10) e na sexta é o último dia de vinculação de propaganda paga. No domingo, o Brasil vai às urnas eleger o próximo presidente da República, além de governadores, senadores e deputados federais e estaduais.