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PolíticaBangladesh

Primeira-ministra de Bangladesh foge do país após protestos

5 de agosto de 2024

Premiê Sheikh Hasina, no poder havia 15 anos, anuncia renúncia. Militares anunciam governo interino. País vem sendo palco de protestos desde junho, que culminaram em invasão da residência oficial da premiê nesta segunda

Bangladesch
Celebrações após Sheikh Hasina anunciar renúncia e fugir do paísFoto: Mohammad Ponir Hossain/REUTERS

A primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, renunciou nesta segunda-feira (05/08), em meio a uma violenta onda de protestos que já provocou centenas de mortes e que culminou numa invasão da residência oficial da chefe de governo.

Após renunciar, Hasina, que comandava o país havia 15 anos, fugiu do país, segundo o Comando das Forças Armadas. Os militares anunciaram ainda a formação de um governo interino. O paradeiro da agora ex-premiê é desconhecido, mas, segundo a imprensa local, Hasina deve buscar refúgio na vizinha Índia.

Um dos países mais populosos do mundo, com mais de 170 milhões de habitantes, Bangladesh, no sudeste asiático, vem sendo palco de protestos estudantis nas últimas semanas que já deixaram 300 mortos. Só no último domingo, 90 pessoas morreram após confrontos entre manifestantes, forças policiais e apoiadores da Hasina.

Após os confrontos de domingo, o Ministério do Interior decretou um toque de recolher obrigatório por tempo indeterminado, em todo o país, a partir das 18 horas locais.

Lideradas por estudantes, as manifestações começaram em junho após a Suprema Corte do país reinstituir um controverso sistema de cotas para contratação no setor público que havia sido extinto em 2018, e que previa reservar 30% das vagas a descendentes de veteranos da guerra da independência do país contra o Paquistão, em 1971. Em julho, o Supremo chegou a reduzir a cota para 5%, mas, os protestos continuaram e se transformaram num movimento mais amplo contrário ao governo de Hasina. 

Na semana passada, os manifestantes voltaram às ruas em grande número, no que foi caracterizado como um movimento de "não-cooperação" com o objetivo de paralisar o governo e exigir a renúncia da primeira-ministra.

Sheikh Hasina estava no poder desde 2009Foto: Peerapon Boonyakiat/SOPA Images/IMAGO

O que aconteceu nos protestos de domingo

Milhares de manifestantes se aglomeraram na Praça Shahbagh, no centro de Dhaka. Em determinado momento, segundo a polícia, grupos atacaram um importante hospital público dessa região, incendiando vários veículos.

Um policial que pediu para não ser identificado disse à agência de notícias AFP que "toda a cidade se transformou em um campo de batalha”. Foram registrados confrontos nas ruas em vários locais da capital, bem como em outras cidades.

No bairro de Uttara, em Dhaka, a polícia disparou gás lacrimogêneo para dispersar centenas de manifestantes que bloquearam uma estrada principal.

Pelo menos 91 pessoas morreram em todo o país, segundo a polícia e os serviços de saúde. Há "pelo menos 14 policiais" entre os mortos e outros 300 agentes feridos, disse o porta-voz da polícia Kamrul Ahsan.

Manifestantes atacaram o hospital Bangabandhu Sheikh Mujib, da Universidade de Medicina, em Dhaka.Foto: Munir Uz Zaman/AFP/Getty Images

Além do toque de recolher, também no domingo, o governo anunciou um feriado de segunda a quarta-feira no país. Os tribunais foram fechados por tempo indeterminado.

O serviço de internet móvel foi cortado e o Facebook e os aplicativos de mensagens, incluindo o WhatsApp, ficaram fora do ar. Domingo é um dia útil em Bangladesh, mas muitas lojas e bancos em Dhaka não abriram. 

O que disse o chefe da ONU para direitos humanos?

O chefe das Nações Unidas para os direitos humanos, Volker Turk, afirmou no domingo que a "violência chocante" no país asiático precisa ter fim. Ele também instou o governo a parar de atacar os manifestantes pacíficos.

"Apelo urgentemente à liderança política e às forças de segurança para que cumpram com suas obrigações de proteção do direito à vida e da liberdade de reunião e expressão pacíficas", afirmou Turk.

 "O governo deve deixar de visar os manifestantes que participam pacificamente dos protestos, deve libertar imediatamente as pessoas detidas arbitrariamente, restabelecer o pleno acesso à internet e criar condições para um diálogo significativo", acrescentou o representante da ONU.

"Os esforços contínuos para suprimir o descontentamento popular, nomeadamente através do uso excessivo da força e da disseminação deliberada de desinformação e incitamento à violência, devem cessar imediatamente."

Estudantes exigem justiça para as vítimas da brutalidade policial durante a repressão aos protestos antigoverno, em Bangladesh. Foto: Middle East Images/AFP via Getty Images

Quais as reivindicações dos manifestantes?

Os protestos estudantis eclodiram há cerca de dois meses contrários a um antigo sistema de cotas para empregos no setor público. Ele favorecia os descendentes de ex-militares que, em 1971, lutaram pela independência de Bangladesh do Paquistão, além de outros grupos.

O governo tinha suspendido esse sistema de cotas, mas um recurso judicial abriu caminho a sua reintrodução até que uma decisão da Suprema Corte ordenou que a cota dos ex-militares fosse reduzida de 30% para 5%.

Além desses 5%, o tribunal decidiu que 93% dos postos de trabalho deveriam ser atribuídos com base no mérito, sendo os 2% restantes reservados a grupos minoritários.

Depois disso, os protestos abrandaram durante vários dias, mas em seguida se transformaram em um movimento antigoverno mais amplo e os estudantes também passaram exigir justiça para as vítimas da brutalidade policial durante a repressão aos protestos.

No último mês, mais de 200 pessoas morreram, milhares ficaram feridas e cerca de 10 mil foram detidas nas manifestações.

Críticos e grupos de defesa dos direitos humanos acusaram o governo de Hasina de usar força excessiva para reprimir os protestos — o governo negou.

Hasina, de 76 anos, vinha governando o país com mão de ferro desde 2009. Ela é acusada por grupos de defesa dos direitos humanos de utilizar indevidamente as instituições do Estado para aumentar seu poder e reprimir a oposição.

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