Primeiro dia do cessar-fogo na Síria tem violações isoladas
30 de dezembro de 2016
Confrontos em várias províncias expõem fragilidade do acordo costurado por Rússia e Turquia. ONG afirma que, apesar de violações isoladas, trégua está sendo respeitada na maior parte do país.
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Em vigor desde a meia-noite, o cessar-fogo foi mantido em grande parte da Síria nesta sexta-feira (30/12), apesar de confrontos isolados que resultaram em ao menos uma pessoa morta, afirmou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), uma ONG que tem uma ampla rede de contatos no país.
Em declarações à agência de notícias Efe, o diretor do Observatório, Rami Abdel Rahman, disse que o acordo está sendo respeitado em 90% das áreas incluídas na trégua. O Observatório registrou violações por parte dos rebeldes na província meridional de Deraa e do regime nas províncias de Damasco, Hama e Idlib.
As violações expuseram a fragilidade do acordo negociado entre Turquia e Rússia na mais recente tentativa de encerrar um conflito que já dura seis anos. Segundo o OSDH, com sede em Londres, as forças leais ao presidente Bashar al-Assad e facções rebeldes lutavam pela manhã na área do Vale do Barada, onde combatentes da oposição cortaram suprimentos de água para a capital. Um morador também confirmou o som de bombardeios na área.
Rahman não soube precisar quem iniciou os confrontos, com cada um dos lados culpando o inimigo. Antes de a trégua começar, o governo sírio havia bombardeado a área, a fim de pressionar os rebeldes a aceitarem um "acordo de reconciliação" e deixarem a área.
Entre as forças presentes no local está a Frente Fateh al-Sham, conhecida como Frente al-Nusra até romper formalmente com a rede terrorista Al Qaeda, em agosto. Segundo o governo da Síria, tanto a Frente Fateh al-Sham como o grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) estão excluídos do cessar-fogo. Os rebeldes, no entanto, insistem que a trégua vale para todo o território ocupado pela oposição.
No início da manhã, o OSDH também relatou confrontos entre tropas do regime e jihadistas na província de Hama. Os combates teriam causado a morte de pelo menos seis combatentes leais ao governo de Assad. Além disso, jatos sírios lançaram ao menos 16 ataques aéreos na província.
A entidade também informou sobre confrontos intermitentes na região de Guta Oriental, principal reduto rebelde na periferia de Damasco, onde um pessoa foi morta, assim como disparos de combatentes do regime contra a população de Sakik, no sul da província de Idlib, controlada por milícias opositoras.
IP/afp/efe/rtr
Cronologia da guerra civil na Síria
A Síria afunda em destroços, sangue e caos. Após um presumível bombardeio com armas químicas, os EUA se preparam para a retaliação. Como pôde a situação na Síria chegar a esse ponto?
Foto: picture-alliance/dpa
Guerra e caos
A Síria afunda em destroços, sangue e caos. As lutas pelo poder no Estado multiétnico tomam dimensões sempre novas, cada vez piores. Até o momento, os choques já custaram mais de 100 mil vidas. A situação pode se agravar com uma eventual intervenção militar ocidental.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Protestos pacíficos
A guerra civil na Síria começou em fevereiro de 2011 como protesto pacífico. Inspirados pela Primavera Árabe, oposicionistas conclamaram a protestos contra o presidente Bashar al-Assad. De início não nouve muita repercussão, mas quando o ditador mandou prender os líderes da revolta, a população foi às ruas em Deraa e Damasco, exigindo democracia e a libertação de presos políticos.
Foto: picture-alliance/dpa
Tanques contra manifestantes
O regime fez algumas concessões, mas também enviou tanques de combate e soldados para reprimir as manifestações. Os choques resultaram em mortes, o que só acirrou ainda mais os protestos. Em todo o país, o Exército sitiou os bastiões dos insurgentes. Os EUA e a União Europeia impuseram sanções contra a Síria. Na Turquia, diversos grupos de oposição fundaram uma frente unida contra Assad.
Foto: picture-alliance/dpa
Milícias, desertores e islamistas
Em julho de 2011, 1.400 cidadãos morreram nos conflitos. Centenas de milhares então foram às ruas. Vários soldados e oficiais desertaram, passando para o lado dos rebeldes. Juntamente com diversos grupos de defesa civil, em outubro de 2011, eles criaram o Exército Livre Sírio. A Frente al-Nusrah, grupo radical islâmico associado à Al Qaeda, também lutou ao lado dos opositores.
Foto: Reuters
Guerra civil
As lutas se repetem. Em dezembro de 2011, a Liga Árabe envia observadores ao país. Mas a situação não se acalmou. Bombardeios abalaram a capital, Damasco, forçando a retirada dos observadores. As tropas do governo investiram contra as fortalezas dos insurgentes em Homs e outras cidades. Os combates de alastraram, então, por todo o país.
Foto: Salah Al-Ashkar/AFP/Getty Images
Reações internacionais
No bastião rebelde de Homs, centenas de civis morreram durante ofensivas das tropas de Assad, em maio de 2012. Pela primeira vez, o Conselho de Segurança conclamou seus membros a uma reação conjunta, e condenou a violência. A Assembleia Geral da ONU instou Assad a renunciar. Barack Obama ameaçou uma ofensiva dos EUA caso o ditador usasse armamento químico.
Foto: Getty Images
Ajuda aos rebeldes
Após o regime Assad bombardear diferentes redutos rebeldes, EUA e Reino Unido passaram a auxiliar os oposicionistas com gêneros de primeira necessidade. O fornecimento de armas aos rebeldes deixou de ser ilegal, apesar de não unânime no Ocidente. Nas fronteiras com a Turquia e com Israel, começam a ocorrer escaramuças esparsas.
Foto: picture-alliance/dpa
Refugiados
Os diferentes grupos de oposição formaram, em novembro de 2012, uma Coalizão Nacional, em breve reconhecida pelos EUA e outros países como representação legítima do povo sírio. Os radicais islâmicos da Frente al-Nusrah não participam da coligação. Neste momento, quase 2 milhões de pessoas atravessaram as fronteiras para os países vizinhos da Síria, onde vivem em campos de refugiados.
Foto: picture alliance / dpa
Ofensiva do governo e gás tóxico
Juntamente com soldados da milícia libanesa Hisbolá, o Exército ocupou a estrategicamente relevante cidade de Qusair, no oeste da Síria. No dia 21 de agosto, segundo a oposição, 1.300 pessoas morreram após um suposto ataque químico que teria sido realizado pelo governo de Assad. Houve milhares de feridos. Os EUA e várias nações ocidentais atribuíram a responsabilidade a Assad.
Foto: Reuters
Devastação
A Síria avança em direção ao abismo. Segundo analistas, nenhum dos dois lados é capaz de vencer o conflito por meios militares. Bashar al-Assad parece determinado a se agarrar ao poder, enquanto os rebeldes não acreditam mais num processo político. Nem as potências mundiais, nem as regionais se dispõem a ceder na luta pela influência sobre a Síria. Um fim da guerra civil não está à vista.