Princesa saudita é condenada por agressão em Paris
13 de setembro de 2019
Filha do rei da Arábia Saudita foi acusada de ordenar que segurança amarrasse e agredisse um encanador. Trabalhador havia sido chamado para consertar uma pia no apartamento da princesa na capital francesa.
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Um tribunal francês condenou nesta quinta-feira (12/09) a princesa saudita Hassa bint Salman a 10 meses de prisão com suspensão condicional de pena e ao pagamento de uma multa de 10 mil euros. Ela foi considerada culpada de ordenar em 2016 uma série de agressões e o sequestro de um encanador que havia sido chamado para consertar uma pia no banheiro do seu apartamento em Paris.
Hassa, a única filha do rei da Arábia Saudita, Salman bin Abdulaziz Al Saud, não compareceu à audiência. Apesar da suspensão condicional da pena, a sentença foi mais dura do que a inicialmente solicitada pelo Ministério Público francês, que havia pedido uma sentença suspensa de seis meses e uma multa de 5 mil euros - um valor irrisório para os membros da família bilionária que controla a Arábia Saudita.
Pela lei francesa, nesse tipo de condenação suspensa, a pena de prisão só deve ser cumprida se o condenado cometer um novo crime em um determinado período.
Os promotores acusaram a princesa de 43 anos de ordenar que um de seus guarda-costas espancasse Ashraf Eid, um encanador de origem egípcia radicado na França. A agressão ocorreu após a princesa notar que o trabalhador estava tirando fotografias com seu telefone celular. Segundo a vítima, Hassa o acusou de tirar as fotografias com a intenção de vendê-las à imprensa.
De acordo com a denúncia, ela então ordenou que um de seus seguranças, chamado Rani Saidi, amarrasse as mãos do encanador. Eid contou que levou socos e chutes e foi forçado a beijar os pés da princesa.
O encanador disse aos investigadores que apenas tirou fotos da pia, que ficava no banheiro, e que elas eram necessárias para realizar seu trabalho. Ele ainda contou que durante as agressões a princesa Hassa disse: "Você vai ver como se fala com uma princesa, como se fala com a família real".
Eid ainda alegou que só recebeu permissão para deixar o apartamento após várias horas. Antes disso, seu telefone foi destruído. Ainda segundo sua versão, a princesa gritou para seu segurança: "Mate esse cachorro, ele não merece viver".
A defesa da princesa negou que ela tenha cometido qualquer ato ilegal. Seu advogado, Emmanuel Moyne, disse que toda a investigação foi baseada em "falsidades". O segurança Rani disse que havia dois vídeos de Hassa bint Salman no aparelho do encanador. O funcionário da princesa também negou ter ameaçado ou agredido Eid ou tê-lo sequestrado.
Já o advogado do trabalhador agredido, Georges Karouni, saudou após o julgamento a "coragem" do seu cliente. Segundo ele, a decisão mostra "que todos são iguais perante a lei".
A princesa e o segurança chegaram a ser levados para uma delegacia à época da agressão, depois que o trabalhador prestou queixa. Saidi permaneceu dois meses em detenção, mas a princesa foi liberada poucas horas depois e deixou o país imediatamente.
Hassa, que também é meia-irmã do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, não voltou à França desde então. Um mandado de prisão internacional chegou a ser expedido contra ela em novembro de 2017.
Seu guarda-costas, Rani Saida, esteve presente no julgamento. Ele foi considerado culpado por agressão, sequestro e roubo e sentença a oito meses de prisão (também suspensos) e ao pagamento de uma multa de 5 mil euros.
O lento avanço dos direitos das mulheres na Arábia Saudita
Em 2018, país passou a permitir que mulheres obtenham carteira de motorista e dirijam sem serem acompanhadas por um tutor do sexo masculino. Conheça outras conquistas femininas na nação islâmica nas últimas décadas.
Foto: Getty Images/F.Nureldine
Escola em 1955; universidade só em 1970
As meninas nem sempre puderam frequentar escolas na Arábia Saudita. Só a partir de 1955 foi permitida a matrícula de garotas na primeira escola para meninas, Dar Al Hanan. Já a Riyadh College of Education, primeira instituição de ensino superior para mulheres, foi aberta em 1970.
Foto: Getty Images/AFP/F. Nureldine
2001: Carteira de identidade
Em 2001 foi permitido às mulheres sauditas terem carteira de identidade, para poderem provar quem são, por exemplo, em questões de herança ou de propriedade. Mas a identificação só podia ser feita com a permissão do guardião dela e era entregue a ele, em vez de diretamente à mulher. Só em 2006 as sauditas passaram a receber carteiras de identidade sem precisar da permissão do responsável por elas.
Foto: Getty Images/J. Pix
2005: Fim do casamento forçado – só no papel
Embora a Arábia Saudita tenha acabado com os casamentos forçados em 2005, eles continuam sendo negociados pelo noivo com o pai da noiva, e não com ela.
Foto: Getty Images/A.Hilabi
2009: Mulher em ministério
Em 2009, o rei Abdullah nomeou Noura al Fayez vice-ministra da Educação. A primeira mulher em um ministério saudita é encarregada de assuntos para mulheres.
Foto: Foreign and Commonwealth Office
2012: primeiras atletas olímpicas
A Arábia Saudita permitiu em 2012 que atletas do sexo feminino competissem pela equipe nacional nos Jogos Olímpicos. Uma delas foi Sarah Attar, que correu a prova de 800 metros em Londres usando uma touca. Antes dos Jogos, houve especulações de que a equipe saudita poderia ser banida por discriminação de gênero se não permitisse que as mulheres participassem.
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2013: Mulher pode andar de sobre duas rodas
Em 2013 foi permitido às mulheres na Arábia Saudita andar de bicicleta e moto – mas apenas em áreas de lazer e desde que completamente cobertas por roupas islâmicas e acompanhadas por um parente do sexo masculino.
Foto: Getty Images/AFP
2013: Mulheres no Conselho Consultivo
Em fevereiro de 2013, o rei Abdullah indicou 30 mulheres para o Conselho Consultivo, ou Shura. A nomeação de mulheres para o conselho, que costuma ser composto apenas por homens, marcou um momento histórico. O órgão aconselha o rei em questões de política e legislação. Pouco tempo depois, mulheres receberam a permissão de se candidatar ao cargo.
Foto: REUTERS/Saudi TV/Handout
2015: Mulheres em eleições municipais
Nas eleições municipais de 2015 na Arábia Saudita, as mulheres puderam se candidatar e votar pela primeira vez. Apenas para comparar: a Nova Zelândia foi o primeiro país a permitir o voto feminino já em 1893. A Alemanha fez isso em 1919. Na votação saudita de 2015, 20 mulheres foram eleitas para cargos em nível municipal.
Foto: picture-alliance/AP Photo/A. Batrawy
2017: Mulher na Bolsa de Valores
Em fevereiro de 2017, a Bolsa de Valores saudita nomeou a primeira presidente mulher em sua história: Sarah Al Suhaimi.
Foto: pictur- alliance/abaca/Balkis Press
2018: Mulheres na direção (de carros)
Em 26 de setembro de 2017, a Arábia Saudita anunciou que a partir de junho de 2018 as mulheres não precisariam mais da permissão de seu tutor do sexo masculino para obter uma carteira de motorista e não seria mais necessário que seu guardião as acompanhasse no veículo.