1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Prisão de cartolas na Suíça é gol para Justiça brasileira

Astrid Prange (av)30 de maio de 2015

Escândalo da Fifa dá novo impulso aos movimentos já existentes para sanear o esporte nacional. Como figura de proa, um senador: o ex-craque Romário. Previsões são de que Blatter vai cair em breve, apesar de reeleição.

Foto: DW/J. Weber

Foi um verdadeiro gol de placa: o Brasil aclama a prisão de dirigentes da Fifa na Suíça, em especial a de José Maria Marin, até recentemente presidente da poderosa Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

"O clima aqui é muito otimista. Estamos torcendo para que as investigações continuem", comentou à DW o jornalista esportivo Ubiratan Leal, do portal de internet Trivela. "Para nós, o golpe contra a Fifa é uma vitória que vale a pena festejar."

Alegria maldosa, sentimentos de triunfo, alívio: a opinião pública brasileira recebeu com grande satisfação e simpatia a detenção dos dirigentes do futebol mundial. Depois das experiências durante o Mundial de 2014, a Federação Internacional de Futebol é vista no país como a corrupção, arrogância e incompetência em pessoa.

Projeção para Romário

Também para o ex-centroavante Alex de Souza, do Bom Senso FC, essa é "só a ponta do iceberg". Como o nome já indica, o movimento reúne jogadores e ex-jogadores dispostos a reformar o futebol brasileiro. "Nós esperamos que as investigações da Justiça americana obriguem também a CBF e os clubes a terem mais transparência."

O ex-craque Romário parabenizou a Justiça dos Estados Unidos e a polícia suíça pela operação. "Alguma hora isso tinha que acontecer", afirma o carioca, que é senador desde 2014. "Só é pena que os cartolas não foram presos no Brasil."

Depois de várias tentativas frustradas, nesta quinta-feira (28/05), por pressão de Romário, o Senado Federal aprovou a convocação de uma CPI para investigar as acusações de corrupção contra a CBF. Apelidado de "Baixinho" em seus tempos de atacante, ele ganha agora grande projeção política com o "Fifagate".

Além de Marin, um dos suspeitos detidos na Suíça é José Hawilla, dono da firma de marketing esportivo Traffic, assim como José Margulies, proprietário de diversas firmas encarregadas de negociar os direitos de transmissões televisivas.

Romário (c): "Apito inicial para nova fase do futebol brasileiro"Foto: Alexandra Martins/Câmara dos Deputados

Resquícios da ditadura

Aos 83 anos, Marin é conhecido no Brasil não apenas como cartola, mas também como político da ditadura militar (1964-1985). Em 1969 tornou-se presidente da Câmara Municipal de São Paulo, e de 1982 a 1983 foi governador do estado.

"No Brasil, Marin é odiado por muita gente, por causa da colaboração dele com os militares", lembra Ubiratan Leal. "Muitos estão dizendo: 'Agora só falta uma coisa: uma foto do Marin atrás das grades.'"

Durante a última Copa do Mundo, a Justiça brasileira provou que não só nos EUA, mas também no Brasil é possível investigar dirigentes do futebol de forma exaustiva e eficiente. Em 4 de junho de 2014 a polícia do Rio de Janeiro prendeu gerentes e funcionários de firmas parceiras da Fifa, que vendiam ingressos no mercado negro, a preços escandalosos.

Na época, a operação rendeu manchetes pelo mundo inteiro. E colocou no banco dos réus até mesmo a Fifa, que criticara duramente o Brasil por deficiências nos preparativos para o mundial, chegando a ameaçar transferir o torneio.

José Maria Marin (dir.) visita jogador Neymar depois de ferimento no Mundial de 2014Foto: picture-alliance/AP

Sem futuro para Blatter

Agora as investigações do FBI voltam a colocar as autoridades brasileiras em foco. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, encarregou o Ministério Público de investigar eventuais irregularidades de dirigentes ou ex-dirigentes do futebol brasileiro.

O ícone anti-Fifa Romário está seguro de que isso é praticável. "Hoje foi dado o apito inicial para uma nova fase do futebol brasileiro", declarou, após a aprovação da CPI. "Espero que em breve também Joseph Blatter seja preso."

Para o jornalista Leal, o suíço já foi derrubado do trono – apesar da reeleição para a presidência da Fifa. "A eleição só vai dar tempo a ele para organizar a retirada", prediz. "Um presidente da Fifa que não tem mais nenhum respaldo do futebol europeu e que está sendo indiciado pela Justiça americana, não tem futuro."

Pular a seção Mais sobre este assunto