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Prisão de executiva ameaça trégua entre EUA e China

Thomas Kohlmann | Carlos Albuquerque
7 de dezembro de 2018

Prisão de número 2 da empresa chinesa Huawei, Meng Wanzhou, e possibilidade de processo contra ela nos EUA chocou mercados. Detenção também fez subir o tom entre Ocidente e Pequim.

China Huawei Filiale in Beijing
Foto: picture-alliance/AP Photo/Ng Han Guan

A detenção da filha do fundador da Huawei e número 2 da empresa de telecomunicações chinesa, Meng Wanzhou, está endurecendo o tom entre o Ocidente e a China, justamente num momento de possível trégua comercial entre Washington e Pequim.

Wanzhou foi presa no Canadá no dia em que o presidente americano, Donald Trump, anunciou uma trégua nas disputas que envolvem a elevação de tarifas alfandegárias entre EUA e China, após jantar com presidente chinês, Xi Jinping, durante a cúpula do G20 em Buenos Aires no último fim de semana. 

Acusada de violar as sanções impostas pelo governo americano ao Irã, Meng Wanzhou foi detida pelas autoridades canadenses no dia 1° de dezembro a pedido da Justiça americana.

No entanto, somente cinco dias depois, o mundo ficou sabendo da controversa prisão por uma reportagem do jornal canadense Globe and Mail – a possibilidade de sua extradição para os Estados Unidos, onde corre o risco de ser processada, foi um choque para os mercados financeiros.

A serviço da China

Nos EUA, a Huawei é acusada há anos de estar sob a influência do governo e das Forças Armadas chinesas e praticar espionagem em seu nome. Até agora, porém, não há evidências que comprovem as acusações. O fundador Ren Zhengfei – como muitos outros grandes empresários do Império do Meio – é membro do Partido Comunista Chinês há mais de 30 anos.

Em suas raras entrevistas, ele não faz segredo disso. Ren disse à BBC que a Huawei é uma empresa chinesa e seria natural que ele apoiasse o Partido. No Mobile World Congress, em Barcelona, ele deixou ainda mais claro: "A cultura corporativa da Huawei é a cultura do comunismo, o Partido Comunista serve às pessoas e nós servimos aos nossos clientes".

As opiniões diferem sobre até onde vão os serviços prestados ao Partido. No entanto, uma lei chinesa de 2017 afirma que "de acordo com a lei, as organizações e os cidadãos devem apoiar, trabalhar em conjunto e colaborar no trabalho nacional de inteligência".

Reações chinesas

Meng Wanzhou é diretora financeira da HuaweiFoto: picture-alliance/dpa/M. Shipenkov

De acordo com fontes internas, a diretora financeira da Huawei foi presa devido à suspeita de que, com a ajuda do banco HSBC, a empresa fez negócios que violam as sanções impostas ao Irã.

Nesta sexta-feira (07/12), a mídia estatal chinesa protestou veementemente, afirmando que é "verdadeiro e comprovado" que os EUA estão tentando, a qualquer preço, restringir a expansão da Huawei no mundo", escreveu o diário publicado em inglês China Daily.

Nas redes sociais, também é grande o descontentamento. "Libertem! A China atual não tolera mais tal coisa!", escreveu um usuário no serviço de mensagens instantâneas Weibo. "Depois da ZTE, eles agora estão atacando a Huawei, e esses fatos mostram como é hipócrita o 'fair play' propagando pelo Ocidente", disse outro usuário. "Trump negocia com a China de um lado e manda prender chineses do outro. Esse é o comportamento de trapaceiros."

Gigante das telecomunicações

Com seus 180 mil funcionários, a Huawei é maior fabricante mundial de equipamentos de acesso a rede e o segundo maior produtor de smartphones. Nos últimos anos, a companhia vivenciou ascensão e expansão astronômicas de seus negócios no exterior.

No entanto, a sua estrutura interna é pouco transparente. Os serviços de inteligência ocidentais suspeitam da influência de Pequim na espionagem e avarias de redes nacionais. Por esse motivo, a Huawei já foi excluída há muito tempo pelas autoridades responsáveis por encomendas nos EUA.

Também o comissário de Mercado Único e Digital da União Europeia (UE), Andrus Ansip, enfatizou em Bruxelas com vista à Huawei e outras empresas chinesas de tecnologia: "Temos que nos preocupar com essas empresas."

De acordo com fontes internas, o governo japonês pretende proibir a compra de equipamentos da Huawei. Austrália e Nova Zelândia já excluíram a gigante chinesa de telecomunicações da expansão de sua rede 5G. Também na Alemanha há considerações sobre como se proteger de ciberataques.

Huawei sempre rejeitou todas as acusações e preocupações de segurança. Depois da prisão da filha de seu fundador, a empresa enfatizou também respeitar todas as sanções e controles de exportação.

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