Prisões em massa em protestos pela libertação de Navalny
31 de janeiro de 2021
Em mais de 140 cidades da Rússia, manifestantes exigem pelo 2º fim de semana a liberdade do ativista detido após retornar de tratamento na Alemanha. Polícia realiza mais de 5 mil prisões, inclusive de Yulia Navalnaya.
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Durante os novos protestos em pelo menos 142 cidades de toda a Rússia, exigindo a libertação do líder oposicionista Alexei Navalny, a polícia bloqueou neste domingo (31/01) o centro de diversas cidades, incluindo a capital. Mais de 5 mil manifestantes foram detidos.
Cobertos por uma fina camada de neve, alguns locais do centro de Moscou lembram uma cidadela sitiada, com polícia antimotim em massa, armada de escudos e bastões. Várias ruas e estações de metrô foram fechadas, o que levou os manifestantes a mudarem à última hora o local da manifestação difundida pelas redes sociais.
Em vez de se concentrarem em frente à sede dos serviços de segurança FSB, como inicialmente combinado, alguns grupos dirigiram-se ao centro de detenções onde Navalny está preso, antes de se reunirem com outros ativistas no centro da capital.
"Renuncia, Putin!"
A correspondente da DW Emily Sherwin se referiu às manobras como "jogo de gato e rato". Os manifestantes gritavam palavras de ordem como "Liberdade!", "Putin ladrão!" e "Renuncia, Putin!", noticiou a agência de notícias AFP.
De acordo com a organização OVD-Info, especializada em monitoração de manifestações, das 5.021 prisões de manifestantes em 80 cidades, pelo menos 800 ocorreram em Moscou. O Sindicato dos Jornalistas Russos registrou a detenção de pelo menos 35 profissionais.
A esposa do oposicionista, Yulia Navalnaya, também foi levada em custódia policial quando participava dos protestos, anunciaram membros da equipe da oposição. Ela já fora presa num dos atos do fim de semana anterior, que reuniram dezenas de milhares e resultaram em mais de 4 mil detenções e na abertura de cerca de 20 processos criminais.
O ativista Alexei Navalny, de 44 anos, tem sido alvo de múltiplos processos judiciais desde seu regresso à Rússia, em 17 de janeiro, após cinco meses de tratamento na Alemanha para se recuperar de um envenenamento com o agente nervoso Novichok. Ele responsabiliza o Kremlin pelo atentado, as autoridades russas rechaçam a acusação.
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EUA condenam "táticas brutais"
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, condenou o procedimento das autoridades russas contra os manifestantes e apelou pela libertação do líder oposicionista.
"Os Estados Unidos condenam o uso contínuo de táticas brutais pela Rússia contra manifestantes pacíficos e jornalistas pela segunda semana consecutiva, e renova o seu apelo para que liberte os detidos, incluindo Alexei Navalny", escreveu Bliken na rede social Twitter.
O Ministério russo do Exterior rebateu pelo Facebook: "A ingerência grosseira dos Estados Unidos nos assuntos internos da Rússia é um fato conhecido, assim como a divulgação de informações falsas e de apelos à participação em ações ilegais através de plataformas da Internet controladas por Washington."
av/cn (Lusa,DW,EFE,Reuters,AP)
Uma história de envenenamentos políticos
Há mais de um século, agências de inteligência usam o envenenamento para silenciar opositores. Vítima mais recente deste método teria sido Alexei Navalny. Substâncias utilizadas vão desde toxinas a agentes nervosos.
Foto: Imago Images/Itar-Tass/S. Fadeichev
Alexei Navalny
Em agosto de 2020, o líder da oposição russa Alexei Navalny foi levado às pressas para um hospital na Sibéria após passar mal num voo para Moscou. Seus assessores dizem que ele foi envenenado como vingança por suas campanhas anticorrupção. O ativista foi transferido em coma para a Alemanha dias depois, onde exames confirmaram o envenenamento com um agente neurotóxico do tipo Novichok.
Foto: Getty Images/AFP/K. Kudrayavtsev
Pyotr Verzilov
Em 2018, o ativista russo-canadense Pyotr Verzilov ficou em estado grave após ter sido supostamente envenenado em Moscou. Tudo aconteceu logo após ele ter dado uma entrevista na TV criticando o sistema jurídico russo. Verzilov, porta-voz não oficial da banda Pussy Riot, foi transferido para um hospital em Berlim, onde os médicos disseram ser "muito provável" que ele tenha sido envenenado.
Foto: picture-alliance/dpa/Tass/A. Novoderezhkin
Sergei Skripal
Também em 2018, Sergei Skripal, um ex-espião russo de 66 anos, foi encontrado inconsciente num banco do lado de fora de um shopping na cidade britânica de Salisbury após ser exposto ao agente nervoso Novichok. Na época, o porta-voz de Moscou, Dmitry Peskov, chamou a situação de "trágica" e disse que não tinha "informações sobre qual poderia ser a causa" do incidente. Skripal sobreviveu ao ataque.
Foto: picture-alliance/dpa/Tass
Kim Jong Nam
O meio-irmão do ditador norte-coreano, Kim Jong Un, foi morto em 13 de fevereiro de 2018 no aeroporto de Kuala Lumpur, depois que duas mulheres supostamente espalharam o agente químico nervoso VX em seu rosto. Num tribunal da Malásia, foi revelado que Kim Jong Nam carregava uma dúzia de frascos de antídoto para o agente nervoso mortal VX em sua mochila no momento do ataque.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Kambayashi
Alexander Litvinenko
O ex-espião russo Litvinenko trabalhou no Serviço de Segurança Federal (FSB), em Moscou, antes de desertar para o Reino Unido, onde escreveu dois livros cheios de acusações contra o FSB e Vladimir Putin. Ele adoeceu após se encontrar com dois ex-oficiais da KGB e morreu em novembro de 2006. Um inquérito descobriu que ele foi envenenado com polônio-210, que teriam colocaram em seu chá.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Kaptilkin
Viktor Kalashnikov
Em novembro de 2010, médicos do hospital Charité detectaram altos níveis de mercúrio num casal de dissidentes russos que trabalhava na capital alemã. Kalashnikov, um jornalista freelancer e ex-coronel da KGB, tinha 3,7 microgramas de mercúrio por litro de sangue, enquanto sua esposa tinha 56 microgramas. Um nível seguro é de 1-3 microgramas. Kalashnikov acusou Moscou de tê-los envenenado.
Foto: picture-alliance/dpa/RIA Novosti
Viktor Yushchenko
O líder da oposição ucraniana Yushchenko adoeceu em setembro de 2004 e foi diagnosticado com pancreatite aguda causada por uma infecção viral e substâncias químicas. A doença resultou em desfiguração facial, com marcas parecidas com a de varíola, inchaço e icterícia. Os médicos disseram que as mudanças em seu rosto foram causadas pela cloracne, que é resultado do envenenamento por dioxina.
Foto: Getty Images/AFP/M. Leodolter
Khaled Meshaal
Em 25 de setembro de 1997, a agência de inteligência de Israel tentou assassinar Khaled Meshaal, líder do Hamas, sob ordens do premiê Benjamin Netanyahu. Dois agentes espalharam uma substância venenosa no ouvido de Meshaal quando ele entrou nos escritórios do Hamas em Amã, na Jordânia. A tentativa de assassinato fracassou e, não muito depois, os dois agentes israelenses foram capturados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Sazonov
Georgi Markov
Em 1978, o dissidente búlgaro Markov aguardava num ponto de ônibus após um turno na BBC quando sentiu uma pontada forte na coxa. Ele se virou e viu um homem segurando um guarda-chuva. Uma pequena saliência apareceu onde ele sentiu a pontada e quatro dias depois ele morreu. Uma autópsia descobriu que ele havia sido morto por um pequeno projétil contendo uma dose de 0,2 miligrama de ricina.
Foto: picture-alliance/dpa/epa/Stringer
Grigori Rasputin
Em dezembro de 1916, o curandeiro místico e espiritual Rasputin chegou ao Palácio Moika, em São Petersburgo, a convite do Príncipe Félix Yussupov. Lá, o princípe ofereceu a Rasputin bolos contaminados com cianeto de potássio, mas nada aconteceu. Yussupov então deu a ele vinho em taças com cianeto, mas Rasputin seguiu bebendo. Diante da ineficácia do veneno, Rasputin foi morto a balas.