“Probabilidade de ser ebola é muito pequena”, diz ministro da Saúde
Marina Estarque, de São Paulo10 de outubro de 2014
Arthur Chioro afirma que paciente em observação no Rio teve contato com 64 pessoas, que estão sendo monitoradas apesar do baixo risco de contaminação. Homem é originário da região africana afetada pela epidemia do vírus.
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Em coletiva de imprensa realizada nesta sexta-feira (10/10), em Brasília, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, disse que as chances de o caso suspeito de ebola se confirmar são pequenas.
“Ainda que a probabilidade seja muito pequena, o caso é suspeito. Nós seriamos irresponsáveis se não tratássemos com total rigor um caso suspeito de ebola”, disse Chioro.
Segundo o ministro, o guineense Souleymane Bah, de 47 anos, não apresentava sintomas quando recebeu o primeiro atendimento. O paciente relatou que havia tido febre, tosse e dor de garganta na quarta e na quinta-feira. Ele se encontra em bom estado geral.
O africano está no limite máximo para o período de incubação da doença, no 21º dia. “A mediana é o 15º, mas, como estava dentro do limite, não dava para descartar”, explicou o ministro.
O resultado do exame, que já está a caminho do Instituto Evandro Chagas, no Pará, sai em até 24 horas.
“Pelo protocolo, é necessário confirmá-lo em dois laboratórios. Mesmo se esse resultado der negativo, será colhida em 48 horas uma segunda amostra para análise”, disse. O teste para Malária já foi realizado, mas deu negativo.
O ministro destacou que todos os procedimentos foram realizados com sucesso e que a situação está “sob controle”.
“Todos os protocolos foram aplicados com muito êxito. Fizeram o isolamento e a notificação à OMS de forma muito adequada”, garantiu o ministro, em uma tentativa de tranquilizar a população.
"Mesmo que não se confirme, todo o esforço valeu a pena porque nós tivemos um grande aprendizado. Apesar das simulações que já fizemos, é diferente na hora que nós estamos enfrentando uma situação concreta."
Contato com outras pessoas
O ministério identificou 64 pessoas que podem ter entrado em contato com o paciente – 60 no local de atendimento, na UPA em Cascavel (PR), e quatro contatos residenciais.
“São dois casais que estavam na casa com ele”, disse Chioro. Além disso, três funcionários da UPA tiveram contato direto com Bah. Todos terão a temperatura monitorada uma vez por dia, durante 21 dias. Exceto os profissionais de saúde, que serão monitorados duas vezes por dia.
“Todos os possíveis contatos foram considerados de baixo risco, porque o paciente não teve vômito, hemorragia ou diarreia”, afirmou o secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa.
O ministro destacou que, durante o período de incubação, não há a transmissão do vírus.
“A informação correta é extremamente importante nesse momento. Apenas o contato direto com o sangue e fluidos corporais ou superfícies contaminadas é capaz de transmitir a doença”, assegurou Chioro.
Barbosa ressaltou a importância de o imigrante ser bem acolhido pelos serviços de saúde, inclusive para a proteção da população brasileira.
“O imigrante no Brasil sabe que vai chegar à unidade de saúde e vai ser atendido, não vai ser preso, como ocorre em outros países. Isso é importante para a proteção das pessoas, porque o paciente não vai ficar em casa sangrando”, complementou.
Maior surto de ebola da história
A África enfrenta a pior epidemia de ebola. Não existem medicamentos ou vacina para conter a doença. Perante surto, a Organização Mundial da Saúde liberou o uso de substâncias experimentais em pacientes infectados.
Foto: Reuters
Conhecido desde 1976
O vírus do ebola foi descoberto em 1976 na República Democrática do Congo por uma equipe de pesquisadores da Bélgica. A doença foi batizada com o nome do rio que passa pelo vilarejo onde ela foi identificada pela primeira vez. Desde então, já houve 15 epidemias nos países africanos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Foto: Reuters
Chances mínimas
Há diversas variações do vírus, e apenas algumas causam a febre hemorrágica. Ainda não há vacina ou medicamentos aprovados para combater o ebola. A doença é fatal na maioria dos casos: a taxa de mortalidade é de 90%. O diagnóstico é feito através de exames laboratoriais.
Foto: AFP/Getty Images
Sintomas
Os sintomas, que aparecem entre 2 e 21 dias após a infecção, são fraqueza, dores de cabeça e musculares, calafrios, falta de apetite, dor de estômago e de garganta, diarreia, vômitos e febre hemorrágica. As principais regiões do corpo afetadas são o aparelho digestivo, o baço e o pulmão.
Foto: picture alliance/AP Photo
Contágio
A transmissão do ebola ocorre apenas através de fluídos corporais, ou seja, deve haver contato direto entre as pessoas ou animais infectados, e também por meio do contato com ambientes contaminados. Ele se propaga, por exemplo, em hospitais, entre enfermeiros e médicos que tratam de pessoas infectadas. Além disso, pode ser transmitido ao se tocar no corpo de pessoas que morreram dessa doença.
Foto: Reuters/Unicef
De animais para humanos
Animais infectados também transmitem a doença. O ebola foi introduzido na população humana através de contato com sangue, secreções, órgãos e fluídos corporais de animais que carregavam o vírus. Morcegos, por exemplo, são hospedeiros do vírus, mas eles não adoecem e podem carregar o ebola consigo até o fim da vida.
Foto: picture-alliance/dpa
Informação é o melhor remédio
Campanhas de esclarecimentos sobre o ebola são fundamentais para conter o avanço da epidemia. A única maneira de evitar uma infecção são medidas preventivas, como melhores condições de higiene nos hospitais, uso de luvas e a quarentena.
Foto: Sia Kambou/AFP/Getty Images
Atual epidemia
Os primeiros casos do atual surto de ebola foram confirmados em março deste ano na Guiné. Desde então, a pior epidemia dessa doença da história já se alastrou por seis países africanos. Casos já foram registrados na Libéria, em Serra Leoa, na Guiné, na Nigéria, na República Democrática do Congo e no Senegal.
Foto: picture-alliance/dpa
Fronteiras fechadas
Os governos de Serra Leoa, Libéria e Nigéria decretaram estado de emergência devido à epidemia. O surto levou alguns países africanos a colocar em quarentena regiões fortemente atingidas pela doença. Além disso, para tentar evitar a propagação da epidemia, países como Guiné, Libéria e Costa do Marfim fecharam suas fronteiras.
Foto: Reuters
Mais de mil mortes
A OMS considerou o atual surto de ebola com o maior e pior da história. Desde março, mais de 3 mil casos da doença já foram confirmados e mais de 1.500 pessoas morrem de ebola. Entretanto, a agência teme que mais de 20 mil pessoas possam ser infectadas até que a epidemia seja controlada.
Foto: DPA
Vida em risco
No atual surto há uma elevada taxa de infecção entre profissionais de saúde que cuidam de pacientes com ebola. Mais de 240 médicos e enfermeiros já foram infectados e mais de 120 morreram. A falta de roupas de proteção e o cansaço após jornadas exaustivas de trabalho são as razões para essas infecções. Alguns deles estão recebendo o tratamento em países europeus e nos Estados Unidos.
Foto: Getty Images/Afp/Seyllou
Medicamentos experimentais
O médico americano Kent Brantly foi tratado nos Estados Unidos com o soro experimental ZMapp. Após três semanas de isolamento ele foi curado. Mas a eficácia desse medicamento é controversa. Um padre espanhol tratado com esse soro não sobreviveu. Perante a gravidade da crise, a OMS aprovou em meados de agosto a utilização de substâncias experimentais contra o ebola.
Foto: picture-alliance/dpa
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O caso
Souleymane Bah é o primeiro caso de paciente com suspeita de ebola no Brasil. Ele chegou ao país no dia 19 de setembro vindo da Guiné, na África Ocidental, com uma escala no Marrocos.
Bah foi internado na quinta-feira (09/10) no isolamento de uma Unidade de Pronto Atendimento no bairro Brasília, em Cascavel (PR). Durante a madrugada da sexta-feira, foi transferido para o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Rio de Janeiro, onde está sob observação.
A Guiné é um dos países que concentra a epidemia da doença na África. Segundo a Organização Mundial da Saúde, 8.033 pessoas foram contaminadas, das quais 3.865 morreram, até o dia 5 de outubro.