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Problemas econômicos da Itália continuam

5 de dezembro de 2016

Vitória do "não" no referendo constitucional e queda de Renzi tiveram pouco efeito nos mercados financeiros, mas velhos problemas da economia italiana continuam, e principalmente alguns bancos estão longe de uma solução.

Symbolbild | Italien nach Referendum
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari

Primeiro, a boa notícia: ao contrário das preocupações de muitos, não houve caos nesta segunda-feira (05/12) nos mercados financeiros. Os índices das principais bolsas de valores em Londres, Frankfurt e Paris fecharam em alta, e até mesmo a de Milão ficou no limite ao registrar uma perda de menos de 1%. Também o rendimento dos títulos do governo italiano com prazo de dez anos se manteve inalterado, em cerca de 2%.

Parece que os investidores ficaram pouco impressionados com o "não" dos italianos no referendo constitucional como também com a renúncia do primeiro-ministro Matteo Renzi. Então está tudo bem?

Não é bem assim. Isso porque os velhos problemas permanecem, e o país parece estar ainda mais longe de uma solução. Principalmente os bancos, que sofrem com uma montanha de créditos podres, ou seja, empréstimos sem cobertura concedidos pelas instituições italianas – cerca de 360 bilhões de euros, segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Onde estão os bilhões de euros?

Dois dos maiores bancos do país, o Branchenprimus Unicredit e o Monte dei Paschi di Siena (MPS), o número três, necessitam nas próximas semanas de bilhões de euros para fazer um aumento de capital. Eles precisam do dinheiro para repassar parte desses créditos podres a um fundo de resgate.

A busca por investidores deverá ser ainda mais difícil do que já era. Na bolsa de valores de Milão, as ações de grandes bancos estavam entre as principais quedas no pregão desta segunda-feira.

O MPS precisa de 5 bilhões de euros em dinheiro fresco – ou seja, quase nove vezes mais do que seu valor atual na bolsa de valores. Já o Unicredit espera obter até 13 bilhões de euros, quer dizer, seu valor atual de mercado.

Após o referendo, Renzi anunciou sua renúnciaFoto: Reuters/T. Gentile

Principalmente o MPS está sob pressão. O banco gostaria de ter o dinheiro até o fim deste ano e, já nesta semana, de apresentar um grande investidor que atuaria como investidor âncora. "Nós acreditamos que o 'não' tornará mais difícil para o Monte dei Paschi encontrar um investidor âncora", afirmam os analistas do banco de investimentos americano Morgan Stanley.

Segundo especialistas do setor, investidores farão uma reunião de emergência nesta segunda-feira para discutir suas opções. Se o banco não conseguir o dinheiro, o Estado italiano acabará tendo que ajudar a instituição. Mas, devido a sua enorme dívida, equivalente a 130% do PIB, isso também não será uma tarefa fácil.

"Ainda assim não deveríamos ficar muito preocupados", diz Carsten Brzeski, economista-chefe do banco ING-Diba. "Isso porque a dívida soberana italiana está, principalmente, nas mãos dos italianos. E eu não acredito que eles venderão seus títulos." Além disso, as taxas de juros continuam muito baixas. "Assim, o serviço da dívida pode ser honrado", afirma.

Nova crise para a zona do euro?

Brzeski também se diz otimista para o caso de o próximo governo italiano ser liderado por um tecnocrata – um especialista apoiado por uma ampla base de partidos no Parlamento. "Um governo tecnocrata poderia realizar grandes reformas no setor bancário, talvez até melhores do que Renzi poderia ter feito", afirma.

Antes do referendo constitucional, houve muita especulação se um "não" e a saída de Renzi poderiam abalar toda a zona do euro. Mais uma vez, o mercado financeiro se mostrou tranquilo. O euro cedeu brevemente em relação ao dólar, mas logo voltou a subir e chegou ao nível registrado em meados de novembro.

Agora, os investidores esperam ansiosamente pela reunião do Conselho do Banco Central Europeu (BCE) desta quinta-feira. "Isso tem um impacto maior sobre os mercados do que o referendo", opina Brzeski.

Ainda assim há o perigo de que a situação na Itália enfraqueça toda a zona do euro, afirma Marcel Fratzscher, chefe do maior instituto alemão de pesquisa econômica, o DIW, em Berlim. "Minha preocupação é que a Itália seja a primeira peça do dominó de uma Europa mais fraca, com pouco crescimento e maior instabilidade nos mercados financeiros", opina.

Não só a Itália está sob pressão, mas toda a zona do euro, afirma Fratzscher. Para que a situação de crise se encerre na Europa, os governos da zona do euro deveriam desenvolver uma estratégia comum que foque em mais crescimento e na diminuição do desemprego. "Isso só é possível por meio de mais e melhor cooperação. E isso também significa que a Alemanha deve assumir uma maior responsabilidade para com a Europa", diz.

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