Médicos de Maradona acusados de homicídio com dolo eventual
20 de maio de 2021
Justiça argentina agrava a acusação contra sete investigados pela morte do ídolo argentino. Ex-jogador teria sido "abandonado à própria sorte" com "tratamento inadequado e deficiente".
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A Justiça argentina agravou a acusação contra os sete investigados pela morte do ídolo do futebol argentino Diego Maradona para homicídio com dolo (intenção) eventual, crime passível de pena de 8 a 25 anos de reclusão. Antes, eles haviam sido notificados por homicídio culposo, cuja pena varia de 1 a 5 anos, podendo ser cumprida em regime aberto.
Um dos motivos para a nova acusação foram as conclusões da junta médica de peritos que durante dois meses analisou as circunstâncias da morte de Maradona, segundo informação da Procuradoria Geral de San Isidro, localizada na região metropolitana de Buenos Aires e encarregada da investigação.
O relatório da junta concluiu que, nos últimos dias de vida, o ex-jogador foi "abandonado à própria sorte", com "tratamento inadequado, deficiente e temerário".
O ex-jogador morreu em 25 de novembro de 2020, aos 60 anos, em uma casa alugada em um bairro ao norte de Buenos Aires, onde se recuperava de uma cirurgia na cabeça, após ter ficado hospitalizado por dez dias.
Ele havia sido internado em 2 de novembro em uma clínica em La Plata por anemia e desidratação e um dia depois foi transferido para um hospital na cidade de Olivos, na província de Buenos Aires, onde foi submetido a uma cirurgia devido a um hematoma subdural na cabeça.
Em 11 de novembro, o ídolo teve alta do hospital e foi levado para uma casa em um bairro afastado nos arredores de Buenos Aires, onde morreu.
"Equipe conhecia perigo de morte"
Com a mudança na qualificação, a equipe do Ministério Público considera que a morte de Maradona não foi fruto de imperícia ou negligência de seus médicos, mas que eles sabiam da possibilidade de o ex-craque morrer e nada fizeram para impedir que isso ocorresse.
Foram denunciados formalmente o neurocirurgião Leopoldo Luque, a psiquiatra Agustina Cosachov e outros cinco profissionais de saúde que trataram de Maradona.
Fãs choram a morte de Maradona
01:48
Proibidos de sair do país, devem comparecer para depoimento entre 31 de maio e 14 de junho os enfermeiros Ricardo Omar Almirón e Dahiana Gisela Madrid, o coordenador dos enfermeiros, Mariano Perroni, a médica que coordenou a hospitalização domiciliar do ex-jogador, Nancy Forlini, e o psicólogo Carlos Angel Díaz, além de Cosachov e Luque, apontado como médico de família de Maradona.
A autópsia no corpo do ex-capitão e ex-técnico da seleção argentina determinou que ele morreu como resultado de um edema pulmonar agudo secundário a uma insuficiência cardíaca crônica exacerbada. Os legistas também descobriram uma "cardiomiopatia dilatada" no coração.
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Mensagens nos celulares
Através de análises dos celulares da equipe médica, os promotores tiveram acesso a uma série de mensagens e áudios que mostram que a equipe médica sabia que nos últimos meses de vida Maradona tinha a saúde afetada por excesso de álcool, medicação psiquiátrica e consumo de maconha.
Entre as conclusões do relatório, a junta médica afirmou que "os sinais de risco de vida apresentados" pelo ex-craque foram ignorados, e os cuidados de enfermagem nas últimas semanas "foram cheios de deficiências e irregularidades".
Dalma, de 33 anos, e Gianinna, de 31, as duas filhas que Maradona teve com sua ex-mulher Claudia Villafañe, acusam Luque e a equipe médica pelos maus cuidados recebidos por seu pai. Em 10 de março, ambas participaram de uma passeata convocada pelos fãs de Maradona, exigindo justiça.
Em meio a recriminações e acusações pela atenção dispensada a Maradona em seus últimos anos, outro caso paralelo avança para resolver a disputa de herança entre seus cinco filhos, seus irmãos e o último representante legal do ídolo argentino, Matías Morla.
md/lf (EFE, AFP)
Diego Maradona: a trajetória de um talento único
Campeão de gols, herói de mundiais, personalidade marcante e polêmica: com a morte do craque argentino, aos 60 anos, apaga-se uma estrela no céu do futebol sul-americano
Foto: Marcos Brindicci/dpa/picture alliance
Fenômeno para além dos gramados
Para inúmeros torcedores, Maradona foi muito mais do que um jogador de futebol, mas sim um ídolo total. Ele não só conquistou o mundo a partir de um pobre lugarejo, como levou equipes inteiras a alturas esportivas que nunca teriam sonhado. Sua problemática vida pessoal também conferiu um elemento humano para essa saga, "O mais humano dos deuses", sintetizou o escritor Eduardo Galeano.
Foto: Martin Rickett/PA/picture alliance
Jovem de carreira meteórica
Diego Armando Maradona nasceu em 1960 em Lanús, Argentina. Aos nove anos, entrou para as divisões inferiores do Argentinos Juniors, "Los Cebollitas". Aos 16, já com fama de grande talento nas ligas infanto-juvenis, estreou na primeira divisão. Um mês mais tarde emplacava seu primeiro gol. Em 1978, passou a integrar a seleção argentina adulta, mas ainda não participou da Copa do Mundo daquele ano.
Foto: Empics Peter Robinson/dpa/picture-alliance
Salto para a Europa
Em 1979 a Argentina venceu o Mundial Juvenil com Maradona em sua equipe. Dois anos mais tarde, apesar de ter recebido várias ofertas de contrato, o jogador dá preferência a seu clube favorito, o Boca Juniors, com o qual disputa 40 partidas. Já em 1982 empreende sua aventura europeia, tendo Barcelona como primeira estação. A temporada não foi feliz: ele contraiu hepatite e teve uma lesão grave.
Foto: Ciruelos/dpa/picture-alliance
Sucesso no Napoli
A má sorte não o impede de emplacar 38 gols em 58 partidas pelo Barcelona. Porém em 1984 é que começa a etapa mais gloriosa da carreira do argentino, ao assinar contrato com o Napoli. Pelo time italiano, Maradona ganhou dois "scudettos", uma Supercopa e uma Copa da Uefa. No sul da Itália, sua figura é admirada até hoje.
Foto: Offside/L'Equipe/picture alliance
A mão de Deus
No Mundial do México, em 1986, o camisa 10 foi a estrela. Após uma vitória 22 de junho, driblou meia seleção da Inglaterra para marcar o que muitos consideram o mais belo gol de um campeonato mundial. E entrou para a história com a espirituosa frase: "Se houve mão na bola, foi a mão de Deus." Um radialista o apelidou "pipa cósmica": Maradona vivia o melhor momento de sua carreira.
Foto: pictures-alliance/dpa/empics
Campeão do mundo
Maradona não se contentou em derrotar os ingleses – uma espécie de vingança esportiva após o fiasco da Guerra das Malvina. Logo bateu a Bélgica por 2 a 0 (ambos gols seus), e na final garantiu o triunfo de 3 a 2 sobre a Alemanha Ocidental. A Argentina levava a taça para a casa pela segunda vez em oito anos, e seu craque se transformava em lenda.
Foto: Carlo Fumagalli/AP Photo/picture alliance
Triste adeus
Em 1990 a Argentina perdeu para a Alemanha a final do Mundial da Itália, mais uma vez com "El Pelusa" jogando em altíssimo nível. Ele voltou ao disputar a Copa do Mundo nos Estados Unidos em 1994. Mas em 25 de junho, após ganhar da Nigéria de 2 a 1, o teste antidoping acusa efedrina, um poderoso estimulante. O argentino se queixa: estavam lhe "cortando as pernas".
Foto: dpa/picture alliance
Passando a tocha
Maradona voltou a jogar pelo Boca em 1995, após pagar o castigo imposto pela Fifa. Em 2001 se despedia dos gramados, diante de um estado cheio, e pronunciou outra frase célebre: "A bola não se mancha." Após sérios problemas de dependência de drogas, que o levaram à beira da morte, recuperou-se, e em 2010 dirigiu Lionel Messi na Copa de Mundo da África do Sul.
Foto: Jon Hrusa/dpa/picture alliance
Encontro de titãs
Com outro grande do futebol, o argentino manteve uma relação agridoce: Pelé. Mas ao passar dos anos os dois ídolos máximos do futebol sul-americano do século 20 apararam as arestas. Na foto, ambos participam de um evento em Paris, em 2016. Voltaram a se encontrar no Mundial da Rússia. Por ocasião dos 60 anos de Maradona, Pelé declarou: "Sempre te apoiarei."
Foto: Reuters//C. Platiau
Vida itinerante
Diego teve uma carreira diversificada e irregular como treinador: dirigiu nos Emirados Árabes Unidos, teve um programa de TV, foi apresentado como presidente de um clube bielorrusso numa extravagante cerimônia. Poucos meses depois, assumia a direção técnica do Dorados de Sinaloa, no México. De 2019 a 2020, dirigiu o Gimnasia y Esgrima, de La Plata.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Prensa Club Dorados de Sinaloa