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Protestos

25 de maio de 2009

Produtores de leite protestam em Bruxelas, Berlim e em várias cidades francesas contra queda de preços e aumento de custos no setor. Comissária da UE sugere redução da produção.

Tratores nas ruas de Berlim: agricultores exigem preços de venda mais altosFoto: AP

Reunidos em Bruxelas, os ministros da Agricultura dos países da UE tentam encontrar uma solução para a crise que assola os produtores de laticínios nos países do bloco. Os governos da Alemanha, França e Áustria exigem da Comissão Europeia um auxílio financeiro urgente aos estabelecimentos ameaçados de falência.

Ilse Aigner, ministra alemã da AgriculturaFoto: AP

Segundo Ilse Aigner, ministra alemã da Agricultura, a quantidade de leite produzido não deveria aumentar, ao contrário de uma decisão já tomada nesse sentido, considerando que não há demanda suficiente no mercado no momento.

Junto de seus colegas de pasta da França e da Áustria, Aigner sugeriu ainda que a UE passe a conceder subsídios ainda maiores para a exportação de queijo, bem como opte por armazenar por mais tempo manteiga e leite em pó, a fim de reduzir a oferta desses produtos no mercado.

Protesto geral

Em Berlim e Bruxelas, bem como em diversas regiões da França, milhares de produtores rurais foram às ruas, em parte com tratores, protestar contra a queda de preços de produtos agrícolas, que vem ameaçando a existência de vários estabelecimentos.

Mariann Fischer Boel, comissária de Agricultura da UEFoto: picture-alliance / dpa

A Associação Europeia de Produtores de Leite exige que a UE reduza em 5% a cota de leite para este ano. "Os produtores de toda a Europa estão com a corda no pescoço", afirmou Ernst Halbmayr, da presidência da associação.

A comissária da UE para assuntos agrícolas, Mariann Fischer Boel, se mantém, contudo, irredutível. Ela defende que os limites de produção de leite introduzidos em 1984 sejam abolidos gradativamente até o ano de 2015, conforme ditam decisões anteriores do bloco. "Os produtores têm que simplesmente produzir menos", sentencia Fischer Boel.

À mercê do mercado

Michel Barnier, ministro francês da AgriculturaFoto: AP

O ministro francês da Agricultura, Michel Barnier, alerta, por outro lado, que o setor agropecuário não pode ser deixado à mercê do mercado. "Não se trata de um produto qualquer, mas de alimentos", diz Barnier.

Aigner, sua colega alemã de pasta, sugeriu um adiantamento – para outubro próximo – dos subsídios diretos que normalmente seriam pagos aos produtores rurais no fim do ano.

Segundo Fischer Boel, a Comissão Europeia já vem tomando medidas para estabilizar o mercado de laticínios. A UE já comprou e armazenou grandes quantidades de manteiga e leite em pó, a serem lançadas no mercado até final de agosto. Se dependesse dos ministros da Alemanha, França e Áustria, esses produtos deveriam ser segurados por mais tempo ainda.

"Ninguém vai nos fazer de bobo. Nem o Aldi [rede de supermercados de baixo preço], nem os políticos", afirmou Gerd Sonnleitner, presidente da Associação dos Agricultores, perante os milhares de produtores rurais alemães que saíram às ruas de Berlim. Diante do aumento dos custos e da queda dos preços de venda, os produtores se vêem num beco sem saída.

Produtores de laticínios: ameaçados

Gerd Sonnleitner, presidente da Associação Alemã dos AgricultoresFoto: picture-alliance/ dpa

A crise atinge principalmente os produtores de laticínios. "Se os preços continuarem assim, muitos estabelecimentos fecharão suas portas até o fim do ano", prevê Torsten Lehmann, produtor rural de Brandemburgo. "No momento, recebemos 22 centavos de euro por litro de leite. Precisaríamos vender por pelo menos 34 centavos para cobrir pelo menos os custos", explica Lehmann.

Os produtores de cereais também estão sentindo os efeitos da crise. "O preço por tonelada de centeio caiu de 150 a 160 euros no ano passado para apenas 90 euros este ano", diz Heiko Friedrich, funcionário de um estabelecimento que produz orgânicos na Alemanha. Ao mesmo tempo, os preços de fertilizantes subiram.

Custos do diesel

Outra reclamação dos produtores agrícolas na Alemanha é o preço do diesel, cujo valor no país é bem mais alto que nos vizinhos europeus. "A alíquota do imposto sobre o diesel na Alemanha é inacreditavelmente alta e discriminatória", diz em Berlim Sonnleitner, representante dos agricultores.

Para acalmar os ânimos, a ministra alemã da Agricultura avisou nesta segunda-feira (25/05), durante as manifestações na capital alemã, que o governo vai tomar providências para melhorar a situação: "Vamos fazer com que as alíquotas de impostos sobre o diesel voltem ao patamar de 2005", afirmou Aigner.

Campanha eleitoral

Premiê Angela Merkel: de olho no eleitoradoFoto: AP

A redução fiscal anunciada pela ministra da conservadora União Social Cristã (CSU) não é, contudo, apenas um sinal de solidariedade com aproximadamente 400 mil produtores rurais no país, mas também um gesto a possíveis eleitores diante das eleições parlamentares de setembro próximo. No mesmo dia, a premiê Angela Merkel (CDU) mencionou, num comício de seu partido, os "desafios extremos" pelos quais o setor agropecuário está passando.

Resta saber se a política pode realmente, em tempos de crise, resolver os problemas urgentes dos agricultores. Aproximadamente 100 estabelecimentos produtores de laticínios no país são obrigados a negociar preços com algumas grandes cadeias de supermercados, movidas pela competição e interessadas em repassar produtos por preços baixos ao consumidor. Sonnleitner descreve a situação como "uma quadrilha de ladrões".

SV/dpa/rtr/ap/afp

Revisão: Simone Lopes

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