Apesar das restrições europeias, empresas alemãs estariam envolvidas na exportação de substâncias químicas que podem ser usadas para fabricar, por exemplo, agente nervoso gás sarin.
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Apesar das sanções da União Europeia, empresas alemãs estão envolvidas na exportação de material químico potencialmente usado em armas na Síria, país que vive uma guerra civil, segunda uma reportagem publicada nesta terça-feira (25/06).
A reportagem conjunta do jornal Süddeutsche Zeitung, da emissora pública Bayerischer Rundfunk e do grupo suíço de mídia Tamedia mostra que a atacadista alemã de produtos químicos Brenntag AG vendeu isopropanol e dietilamina para a Síria, em 2014, usando uma subsidiária na Suíça.
O destinatário era uma empresa farmacêutica síria que tinha ligações com o regime do presidente Bashar al-Assad.
Os repórteres revelaram que a dietilamina foi produzida pela gigante alemã BASF numa fábrica na cidade belga de Antuérpia. O isopropanol foi produzido pela Sasol Solvents Germany GmbH, localizada em Hamburgo.
Embora os produtos químicos possam ser usados na fabricação de drogas farmacêuticas, eles também podem servir à produção de armas químicas e agentes nervosos, como VX e gás sarin.
O gás sarin, em particular, foi usado em ataques realizados pelo regime de Assad durante a guerra na Síria. As Nações Unidas descobriram que o gás sarin usado num ataque em 2017 foi elaborado com o uso de isopropanol. Na época, o ataque à cidade de Khan Sheikhoun matou dezenas de pessoas.
A Brenntag AG confirmou que a entrega dos produtos químicos à Síria foi tratada por sua subsidiária na Suíça "de acordo com as leis da época", informou o Süddeutsche Zeitung.
Após numerosos relatos do uso de armas químicas pelo regime Assad na guerra civil síria, a União Europeia (UE) impôs restrições à exportação de matérias-primas usadas para fabricar armas químicas.
Desde 2012, uma autorização formal é exigida para as exportações de dietilamina, e desde 2013, para o isopropanol.
Essas regras não se aplicam apenas às exportações diretas para a Síria, mas também para vendas indiretas através de países como a Suíça.
O Departamento Federal de Economia e Controle de Exportação, que é responsável pela aprovação de tais exportações na Alemanha, disse que não emitiu nenhuma permissão para esses produtos químicos durante o período de tempo em questão.
O envolvimento de empresas alemãs nos acordos de exportação de produtos químicos de 2014 é particularmente controverso, considerando que os estoques de armas químicas da Síria foram destruídos numa ação internacionalmente coordenada no mesmo ano.
O Ministério Público da cidade de Essen, no oeste da Alemanha, onde a Brenntag AG está localizada, disse que deu início a procedimentos legais e está avaliando se deve abrir uma investigação formal. A Promotoria Pública na Bélgica também está investigando o caso.
Três ONGs já apresentaram queixas criminais sobre as exportações de produtos químicos, incluindo a Syrian Archive (Arquivo Sírio), com sede em Berlim, a organização suíça Trial International (Julgamento Internacional) e a Open Society Justice Initiative (Iniciativa para a Justiça da Sociedade Aberta), sediada em Nova York.
"As autoridades devem investigar exaustivamente para provar exatamente o que aconteceu e quem sabe o que e quando aconteceu", disse James Goldston da ONG Iniciativa para a Justiça da Sociedade Aberta à emissora Bayerischer Rundfunk. "Nosso objetivo aqui é garantir que a verdade venha à luz."
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O que se iniciou com protestos pacíficos em 2011 virou uma guerra civil brutal que já matou centenas de milhares de pessoas e fez milhões de refugiados. Reveja os principais acontecimentos.
Foto: Reuters/Stringer
2011: O início
Em 15 de março de 2011, protestos pacíficos contra a detenção de jovens acusados de fazer pichações antigoverno em sua escola, na cidade de Daraa, são reprimidos por forças de segurança, que abrem fogo contra manifestantes desarmados, matando quatro. Os protestos continuam por vários dias, fazendo 60 mortos e se espalham por todo o país. Segue-se um período de repressão violenta.
Foto: Anwar Amro/AFP/Getty Images
2011/2012: Isolamento internacional
O ex-presidente Barack Obama insta o presidente Bashar al-Assad a renunciar, e os EUA anunciam sanções a Assad em maio e congelam bens do governo sírio nos EUA em agosto de 2011. A União Europeia também anuncia sanções, em setembro. Em novembro, a Liga Árabe suspende a Síria e impõe sanções ao regime. Também a Turquia anuncia uma série de medidas, incluindo sanções, em dezembro.
Foto: AP
2012: Observadores internacionais desistem
Em dezembro de 2011, a Síria permite a entrada de observadores da Liga Árabe para monitorar a retirada de tropas e armas de áreas civis. A missão é suspensa em janeiro de 2012. Em fevereiro, os EUA fecham sua embaixada em Damasco. Em abril de 2012, chegam observadores da ONU, que partem dois meses depois por falta de segurança.
Foto: REUTERS
2013: Ataque com gás
Em março, um ataque com gás mata 26 pessoas, ao menos a metade deles soldados do governo, na cidade de Khan al-Assal. Investigação da ONU conclui que foi usado gás sarin. Em agosto, outro ataque com gás mata centenas em Ghouta Oriental, um subúrbio de Damasco controlado pelos rebeldes. A ONU afirma que mísseis com gás sarin foram lançados em áreas civis. Os EUA e outros países culpam regime sírio.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2013: Destruição de armas químicas
Em agosto, investigadores da ONU chegam à Síria para averiguar o uso de armas químicas, em meio a denúncias de médicos e ativistas. EUA afirmam que 1.429 pessoas morreram num ataque, e Obama pede ao Congresso autorização para ação militar. Em setembro, o Conselho de Segurança da ONU ameaça usar a força e, em outubro, Damasco inicia a destruição de seu arsenal declarado de armas químicas.
Foto: AFP/Getty Images
2014: EUA atacam "Estado Islâmico"
Em setembro, os EUA iniciam ataques aéreos a alvos do "Estado Islâmico" na Síria. Em outubro, o mediador da ONU, Staffan de Mistura, começa a negociar uma trégua ao redor de Aleppo, mas o plano fracassa meses depois.
Foto: picture-alliance/AP Photo/V. Ghirda
2015: Rússia entra no conflito
Em setembro, a Rússia, que desde o início fornecera ajuda militar ao governo sírio nos bastidores, entra ativamente no conflito, bombardeando opositores do regime. A ajuda se mostra decisiva, e a guerra civil passa a pender para o lado de Assad, que nos meses seguintes recupera território perdido para os rebeldes.
Foto: Reuters/Rurtr
2016: Governo controla Aleppo
A ONU e a Opac afirmam que tanto militares sírios quanto o "Estado Islâmico" usaram gás em ataques a opositores. O ano é marcado por várias tentativas de tréguas. Em setembro, a cidade de Aleppo é alvo de 200 ataques aéreos por forças pró-Assad num fim de semana. Em dezembro, as forças governamentais assumem controle de Aleppo, encerrando quatro anos de domínio dos rebeldes.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2017: Ataque em Idlib
Em fevereiro, Rússia e China vetam resolução do Conselho de Segurança da ONU pedindo sanções ao governo sírio pelo uso de armas químicas. Em abril, ao menos 58 pessoas morrem na província de Idlib, dominada pelos rebeldes, no que aparenta ser um ataque com gás. Testemunhas afirmam que o ataque foi executado por jatos sírios e russos, mas tanto Moscou quanto Damasco negam bombardeio.
Foto: Getty Images/AFP/O. H. Kadour
2017: Resposta dos EUA
Em abril, os EUA lançam dezenas de mísseis sobre a base militar de onde se acredita ter saído o ataque em Idlib. Em maio, o presidente Donald Trump aprova planos para armar combatentes das milícias curdas YPG na luta contra o "Estado Islâmico". A medida enfurece a Turquia, que vê as YPG como um grupo terrorista. Em outubro, o "Estado Islâmico" perde o controle de Raqqa, sua autoproclamada capital.
Em janeiro, aviões turcos bombardeiam a região curda de Afrin, dando início à operação contra as YPG intitulada "Ramo de Oliveira". A Turquia anuncia a morte de centenas de "terroristas", mas entre os mortos estão dezenas de civis, dizem ativistas. Em fevereiro, as milícias YPG chegam a acordo com o regime sírio para o envio de tropas pró-governo para auxiliar no combate aos turcos em Afrin.
Foto: picture alliance/AA/E. Sansar
2018: Ofensiva em Ghouta Oriental
Em 21 de fevereiro, tropas pró-regime executam ofensiva em larga escala contra enclave rebelde localizado ao leste de Damasco. Em torno de 400 mil civis ficam sitiados, com acesso limitado a alimentos e cuidados médicos. Os ataques matam centenas de pessoas. No dia 24 de fevereiro, o Conselho de Segurança da ONU aprova trégua humanitária de 30 dias vigente em todo o território sírio. Ela fracassa.
Foto: Reuters/B. Khabieh
2018: O bombardeio ocidental
Após dias de ameaça, em 14 de abril Trump anuncia o lançamento de mais de cem mísseis, em conjunto com França e Reino Unido, na Síria. O ataque é uma retaliação ao ataque químico na cidade de Duma, que matou dezenas de civis e que o Ocidente atribui ao regime de Bashar al-Assad.
Foto: picture-alliance/AP Photo/L. Matthews
2019: Estados Unidos começam a se retirar da Síria
Em janeiro de 2019, os Estados Unidos começaram a se retirar da Síria. O presidente americano afirmou que o Estado Islâmico havia sido derrotado e, por isso, a presença dos EUA não seria mais necessária. A decisão foi contestada dentro do próprio governo e também pelas milícias curdas na Síria, aliadas dos EUA, que temiam enfraquecer-se.
Foto: Getty Images/AFP/D. Souleiman
2019: fim do autoproclamado califado do EI
Em março de 2019, as Forças Democráticas Sírias (FDS), aliança liderada por curdos, anunciaram que o autoproclamado califado do Estado Islâmico foi totalmente eliminado, após combates em Baghouz, considerado o último reduto jihadista na Síria. Militantes curdos e árabes das FDS, apoiados pela coalizão internacional liderada pelos EUA, combatiam há várias semanas os jihadistas.