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G20

1 de abril de 2009

"Não vamos pagar pela crise de vocês" é um dos lemas das manifestações contra a cúpula financeira internacional do G20 em Londres. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) também defende nova economia.

Achim Steiner, diretor-executivo do PnumaFoto: picture-alliance/ dpa

De Londres a Berlim, de Frankfurt a Viena: milhares de pessoas têm ido às ruas das grandes cidades europeias, demonstrando a insatisfação generalizada perante os chefes de governo e Estado dos países que formam o G20. Na Alemanha e na Áustria, um dos dizeres estampados pelos manifestantes em cartazes e faixas deixava claro a fúria do contribuinte: "Não vamos pagar pela crise de vocês".

Em Londres, os manifestantes exigiam "emprego, justiça e proteção ambiental". No entanto, não são apenas as ONGs que querem tornar suas recomendações visíveis aos chefes de Estado das economias mais fortes do mundo (países industrializados e emergentes).

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) publicou, entre outros, em parceria com a Organização Internacional do Trabaho (OIT), um relatório que aponta o caminho rumo a uma nova ordem econômica.

Pagando pelos outros

A crise financeira atual vai além de uma simples crise em torno do dinheiro. Depois das ajudas estatais para os bancos e seguradoras e de diversos programas conjunturais, vai ficando aos poucos claro que o sistema financeiro global não pode funcionar sozinho. Eleitores e contribuintes vão se enfurecendo em todo o mundo: sem ter levado vantagens dos lucros dos últimos anos, eles agora têm que pagar pelos prejuízos do mundo financeiro.

"Com menos de meio ponto percentual destes pacotes de investimentos atuais para banir a crise, poderíamos alimentar todas as mulheres e crianças do mundo. Poderíamos fazer investimentos locais, atingindo um novo acordo global verde. Isso é o que estamos reivindicando", diz Sylvia Borren, membro da presidência da Campanha Global de Ação Contra a Pobreza.

Acordo global verde

Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente defende 'economia mais verde' no futuroFoto: picture alliance/landov

Esse " novo acordo global verde" é um relatório publicado pelo Pnuma em setembro de 2008, concluído a partir da cooperação deste programa das Nações Unidas com a OIT e com a Confederação Sindical Internacional (CSI). O acordo prevê nada menos do que uma ampla nova ordem da economia global, acentua Achim Steiner, diretor-executivo do Pnuma.

"Temos uma crise financeira, uma crise econômica, mas também uma crise de alimentos. No setor energético, temos problemas de abastecimento, que deveriam também ser levados em consideração no contexto dessas medidas conjunturais que estão mobilizando bilhões. Seria realmente um desperdício de oportunidade se a cúpula do G20 não se debruçasse também sobre esses temas. Pois é exatamente neste ponto que esses países estão sendo chamados a não contornar a crise somente para si mesmos, mas também a assumirem um papel de condução da economia global", explica Steiner.

Reorientação necessária

Os desafios da crise atual são também uma chance de reorientação necessária, que deve ocorrer na esfera global, acredita o diretor-executivo do Pnuma. Para facilitar a vida dos chefes de governo e Estado dos países do G20, o programa da ONU resumiu para a cúpula as 376 páginas de um relatório num documento de recomendação.

Neste, especialistas em economia das Nações Unidas trabalharam junto a diversos think tanks [centros de pensamento e investigação ou simplesmente catalisadores de ideias], a fim de estabelecer cinco pontos cruciais. A ideia, conta Steiner, é esclarecer o que já está claro desde agora, ou seja, o que pode surtir, a curto e longo prazo, efeitos positivos sobre a conjuntura.

"Identificamos aqui cinco setores, cujo sucesso já é claro e que, acima de tudo na crise atual, mostram que vale a pena dar continuidade a essas medidas. O primeiro deles é a eficiência energética. Hoje, já podemos reduzir 80% da energia gasta em espaços internos, optando por energias sustentáveis, que já se propagam rapidamente em várias regiões do mundo. Além disso, também meios de transporte sustentáveis. Isso tem a ver com o transporte público de curta distância, com a forma como os sistemas de transporte vão sendo desenvolvidos. E naturalmente a infra-estrutura ecológica de nosso planeta: as florestas, o solo, os recifes de coral. São todos parte da nossa economia diária, mas ainda não são compreendidos como tal. E em quinto lugar: uma agricultura sustentável, pois o abastecimento dos oito ou daqui a pouco tempo nove bilhões de pessoas vai se transformar certamente, dentro em breve, numa crise", analisa Steiner.

Mais pobres são os que mais sofrem

Ajuda ao desenvolvimento não deveria sofrer em função do desvio de recursos para 'pacotes nacionais'Foto: picture-alliance/ dpa

Os chefes de governo reunidos na cúpula deverão acima de tudo entender, acredita Steiner, que vivemos num mundo em que não existem apenas economias fortes. Somente com programas nacionais para salvar a conjuntura, nem eles conseguirão superar a crise. Por isso, diz ele, seria fatal, exatamente neste momento, disponibilizar meios para pacotes nacionais de ajuda em detrimento da ajuda ao desenvolvimento.

"O secretário-geral das Nações Unidas repetiu na última semana que a cúpula do G20 não deverá tratar exclusivamente dos interesses das economias dos membros do grupo, mas sim da economia mundial e, acima de tudo, dos países em desenvolvimento. Pois as populações mais pobres são, mais uma vez, as mais expostas ao risco de sofrerem com essa situação econômica. Isso significa que a cooperação internacional e a cooperação para o desenvolvimento desempenham um papel primordial, também porque, em poucos meses, estaremos em Copenhague tentando negociar o talvez mais importante acordo da nossa história: a convenção do clima e a forma como iremos tratar juntos do assunto com 190 países. Se não renegociarmos aqui elementos financeiros e tecnológicos, teremos perdido uma oportunidade de, neste ano, fazer progressos nesta área", conclui Steiner.

Autora: Helle Jeppesen

Revisão: Roselaine Wandscheer

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