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Entrevista

Rachel Ryan (sv)22 de novembro de 2006

Em entrevista à DW-WORLD, o sociólogo Klaus Hurrelmann fala do poder de influência dos videogames, da atração que exercem sobre os jovens e do papel da mídia frente a casos como o ocorrido recentemente na Alemanha.

Jovem joga 'Counter Strike' em café internet de BremenFoto: AP

O caso do ex-aluno que disparou contra dezenas de pessoas numa escola do oeste alemão desencadeou mais uma vez no país um debate sobre a proibição de videogames violentos. A discussão sobre o assunto havia começado em 2002, quando um aluno de Erfurt matou 16 pessoas à queima-roupa.

O debate de então levou a mudanças no código de proteção ao adolescente, modificado para regular de forma mais rígida o conteúdo de vídeos e jogos antes considerados "inofensivos".

Leia abaixo a íntegra da entrevista com o professor Klaus Hurrelmann, professor de Sociologia e especialista em desenvolvimento infantil da Universidade de Bielefeld.

DW-WORLD: O senhor acredita que culpar os disparos nos videogames violentos é realista?

Klaus Hurrelmann: Neste caso, temos que confiar nas pesquisas, que dizem não haver nenhuma relação linear ou causal entre os jogos de computador e um comportamento violento. Temos, em primeiro plano, a personalidade vulnerável, que desencadeia a violência e acha posteriormente um contexto de briga. Somente se esses fatores vêm juntos é que começa o círculo vicioso.

No caso em questão, o jovem rapaz alienou-se da realidade, voltou-se para o mundo de ficção dos jogos de computador, projetando suas experiências, seu ódio e sua agressividade no contexto escolar. Este contexto, a seus olhos, exercia uma violência contra ele e não lhe dava suporte e perspectivas de vida das quais ele sentia falta. Trata-se de uma triangulação.

Então trata-se da combinação de fatores, incluindo a escola e a família, que o influenciaram?

Jogos de tiros: incentivo à violênciaFoto: AP

A prova disso é que de cem garotos que jogam Counter Strike, 99 vêem isso apenas como um jogo e podem até ser beneficiados por aprenderem a pensar estrategicamente e a exercitar o intelecto. E para um desses meninos, há conseqüências prejudiciais.

Como o senhor vê a opinião de legisladores ou do governo, que vêem a culpa dos disparos no hábito de jogar videogames violentos e defendem um banimento destes jogos?

É uma atitude tomada sob o calor do momento querer proibir os videogames desta maneira, mas não vejo isso como fora de questão. Implementar uma legislação que permita banir os videogames violentos do mercado confirma que não gostamos de jogos que mostram pessoas sendo mortas intensa e intencionalmente. A lei teria, neste caso, uma importância simbólica. No entanto, esta lei não iria atingir exatamente esta pessoa que tomei como exemplo. Esta pessoa irá sempre encontrar meios de ter acesso a videogames e seria até mesmo estimulada pela lei que proibisse sua prática. Trata-se de uma situação difícil, essa que estamos enfrentando.

O senhor acha que fabricantes de videogames e os meios de comunicação de massa são responsáveis por assegurar que imagens de violência não sejam perpetuadas em grau tão extremo?

Sim. E é por isso que os jogos de computador só fascinam quando envolvem a morte. O que dizer de outros conteúdos? Como, por exemplo, transações financeiras extremamente excitantes ou situações diplomáticas que precisam ser resolvidas? Ou situações de conflito pessoal, que só podem ser resolvidas através de habilidades diplomáticas, interativas e de comunicação?

Podemos ter fantasias e até impulsos agressivos, que são parte da natureza humana e podem ser preenchidos e canalizados por jogos de uma forma civilizada. Não acredito que este desejo só possa ser realizado matando pessoas. É de responsabilidade da mídia fazer com que a imprensa não reproduza esses casos com um viés voyeurista.

É preciso relatar esses casos de forma isolada e precisa, baseando-se apenas em fatos e não tentando dar detalhes para que outros venham a imitar o ocorrido. Se há detalhismo demais na descrição, corre-se o risco de que outros jovens tenham acesso ao paradigma e ao modelo e pensem: "Ei, vou fazer isso também". Muitas vezes, infelizmente, imagens de outros casos semelhantes vão sendo repetidas pela mídia.

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