Vetado de ir a embaixadas, Bolsonaro já dormiu na da Hungria
18 de julho de 2025
Pressão de Trump e declarações recentes do ex-presidente sugerem tentativa de obter asilo político nos EUA. Não seria a primeira vez que Bolsonaro teria buscado a ajuda de um governo estrangeiro.
Bolsonaro fala com jornalistas em Brasília após ter sua tornozeleira eletrônica instaladaFoto: Eraldo Peres/AP/picture alliance
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A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que determinou ao ex-presidente Jair Bolsonaro que use tornozeleira eletrônica sob monitoramento 24 horas por dia e permaneça em casa das 19h às 7h resulta do receio de que ele possa tentar fugir do país e pedir asilo a um governo estrangeiro, como os Estados Unidos, entre outros motivos elencados na ordem.
Emitida pelo ministro Alexandre de Moraes a pedido da Polícia Federal (PF), com parecer favorável da Procuradoria-Geral da República (PGR), a decisão também proibiu Bolsonaro de se comunicar com embaixadores e diplomatas estrangeiros e de ir a embaixadas.
O aliado estrangeiro mais vocal na defesa de Bolsonaro no momento é o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ele divulgou uma carta na quinta-feira na qual reiterou seu apoio ao ex-presidente diante do que chamou de "terrível tratamento" que, em sua opinião, ele está recebendo da Justiça brasileira, e ressaltou o desejo de que a ação penal contra Bolsonaro pela acusação de tramar um golpe de Estado acabe "imediatamente".
Em carta a Bolsonaro, Trump afirmou que ele recebe um "terrível tratamento" da Justiça brasileiraFoto: Allen Eyestone/ZUMAPRESS.com/picture alliance
A mensagem foi a mais recente de uma série de manifestações de apoio de Trump a Bolsonaro. Na semana passada, o americano afirmou que a imposição de tarifas de importação de 50% contra o Brasil tinha, como um dos objetivos, pressionar o país a interromper o julgamento do ex-presidente no STF – o que sugere que o brasileiro tinha boas chances de ter um pedido de asilo político acolhido pelos EUA caso tentasse se abrigar na embaixada americana.
O caso foi revelado pelo jornal americano TheNew York Times, que obteve vídeos de Bolsonaro entrando e saindo da representação diplomática húngara. Bolsonaro entrou na embaixada em Brasília com dois seguranças em 12 de fevereiro e só deixou o local dois dias depois, em 14 de fevereiro.
A apreensão de seu passaporte em fevereiro de 2024 ocorreu no âmbito da investigação sobre tentativa de golpe de Estado para mantê-lo no poder após a derrota nas eleições de 2022, por suspeita de que ele poderia tentar fugir. O STF está agora na reta final do julgamento do caso, e poderia condenar Bolsonaro até o final do ano.
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Quatro tentativas de reaver passaporte
Bolsonaro já tentou reaver seu passaporte ao menos quatro vezes, sempre sem sucesso.
Um mês após o documento ser apreendido, o ex-presidente pediu ao STF sua devolução para que ele pudesse viajar aos Estados Unidos para participar de um evento que contaria com a presença de Trump, a Conferência Ação Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês).
Os advogados de Bolsonaro argumentaram que a apreensão do documento não preenchia requisitos legais por não ter sido demonstrado risco real de fuga, e que Bolsonaro desde o início "tem cooperado de maneira irrestrita com as autoridades, comparecendo pontualmente a todos os chamados e colaborando ativamente para o esclarecimento dos fatos".
Moraes rejeitou o pedido, afirmando que as investigações ainda estavam em andamento e que devolver o passaporte seria "absolutamente prematuro".
Em março de 2024, Bolsonaro tentou de novo reaver o documento para viajar a Israel de 12 a 18 de maio, a convite do premiê israelense Benjamin Netanyahu. Novamente, o pedido foi negado por Moraes, após a PGR alegar que isso poderia representar um "perigo para o desenvolvimento das investigações criminais".
Em janeiro de 2025, Bolsonaro pediu o passaporte para viajar ao Estados Unidos para participar da posse de Trump. O pedido foi negado – Moraes afirmou que comportamentos do ex-presidente indicavam a possibilidade de tentativa de fuga para evitar uma eventual punição. Em uma entrevista ao portal UOL, Bolsonaro admitiu que poderia pedir refúgio a alguma embaixada caso fosse condenado.
Em julho, Bolsonaro voltou a pedir a liberação do seu passaporte para que fosse aos Estados Unidos "negociar" com Trump a redução das taxas de importação de 50% ao Brasil. "Me deem o passaporte, que eu converso", afirmou.
O parceiro Orbán
A estadia de Bolsonaro na embaixada da Hungria em fevereiro de 2024 sugeriu que o ex-presidente estava tentando usar seus laços com o ultradireitista primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, para escapar da Justiça brasileira e pedir asilo político caso a sua prisão fosse decretada, segundo o NYT.
Legalmente, permanecendo na embaixada, Bolsonaro estaria fora do alcance da polícia brasileira, já que a área é protegida por convenções diplomáticas e é considerada território da Hungria. No local, Bolsonaro foi recebido pelo embaixador húngaro, Miklos Tamás Halmai.
Bolsonaro chamou Orbán de "irmão" durante uma visita à Hungria em 2022Foto: Marton Monus/dpa/picture alliance
Ideologicamente próximos, Bolsonaro e Orbán estão em estreito contato há anos. O húngaro inclusive esteve na posse do brasileiro em 2019, e Bolsonaro já chamou Orbán de "irmão" durante uma visita à Hungria em 2022. Em dezembro, os dois voltaram a se reunir em Buenos Aires, durante a posse do novo presidente da Argentina, o ultraliberal Javier Milei.
Após a publicação da reportagem, Bolsonaro confirmou a estadia. "Não vou negar que estive na embaixada. Não vou falar onde mais estive. Mantenho um círculo de amizade com alguns chefes de Estado pelo mundo. Estão preocupados. Eu converso com eles assuntos do interesse do nosso país. E ponto final. O resto é especulação", disse.
Em 2018, Nikola Gruevski fugiu de seu país quando estava prestes a começar a cumprir pena por corrupção. Com a ajuda de diplomatas, ele acabou conseguido asilo na Hungria do aliado Orbán.
Líder do governo entre 2006 e 2016, Gruevski havia sido condenado em maio de 2018 por corrupção num caso envolvendo a compra de um carro de luxo pelo governo, mas que acabou servindo para seu uso pessoal.
Nicola Gruevski e Viktor Orbán em 2015Foto: picture-alliance/dpa/epa/L. Soos Hungary
Após perder todos os recursos para ficar longe da cadeia, Gruevski não se apresentou à Justiça na data prevista para o início do cumprimento da pena.
Em vez disso, reapareceu em público três dias depois em Budapeste, na Hungria, distante 800 quilômetros de Skopje, a capital da Macedônia do Norte. Uma semana depois, o governo Orbán concedeu asilo político para Gruevski.
Detalhes da fuga de Gruevski depois apontaram para a participação direta de diplomatas húngaros. Ele inicialmente fugiu para a vizinha Albânia. Depois, no mesmo dia, segundo as autoridades policiais albanesas, seguiu para Montenegro num carro registrado em nome da embaixada da Hungria em Tirana, a capital da Albânia.
As autoridades policiais de Montenegro, por sua vez, confirmaram que Gruevski entrou e saiu do país acompanhado de pessoas com passaportes diplomáticos da Hungria, incluindo um embaixador. Depois, com a escolta de diplomatas húngaros, se dirigiu até Budapeste, passando ainda pela Sérvia. Ele chegou à capital da Hungria no dia seguinte.
O governo húngaro se limitou a afirmar que Gruevski procurou uma representação diplomática da Hungria em um país estrangeiro para pedir asilo e negou que o governo de Orbán tanha ajudado na etapa inicial da fuga – da Macedônia para Albânia.
bl/ra (ots, DW)
O mês de julho em imagens
Veja alguns dos principais acontecimentos do mês
Foto: Thibaud Moritz/AFP/Getty Images
Lula e lideres progressistas selam aliança em defesa da democracia
Líderes do Chile, Brasil, Espanha, Colômbia e Uruguai se reuniram em Santiago, no Chile, em prol da democracia e do multilateralismo. Eles alertaram que a democracia está ameaçada por elementos como a desinformação, a disseminação do ódio e a corrupção. "Neste momento em que o extremismo tenta reavivar práticas intervencionistas, precisamos agir juntos", afirmou o presidente Lula, (21/07)
Foto: Pablo Sanhueza/REUTERS
Governo alemão homenageia autores de atentado contra Hitler
Membros da classe política alemã e das Forças Armadas do país participaram de uma cerimônia para assinalar o 81º aniversário da tentativa de assassinato de Adolf Hitler por oficiais do exército alemão. Num evento no memorial de Plötzensee, em Berlim, o prefeito da capital, Kai Wegner, mencionou a "grande coragem" dos membros da resistência contra a tirania nazista. (20/07)
Foto: Christophe Gateau/dpa/picture alliance
Motorista atropela dezenas pedestres em Los Angeles
Um carro invadiu a calçada da Santa Monica Boulevard, em Los Angeles, nos Estados Unidos, e atropelou dezenas de pessoas que formavam uma fila para entrar em uma casa noturna. Segundo o Corpo de Bombeiros da cidade, ao menos 30 ficaram feridas. (19/07)
Foto: Damian Dovarganes/AP/picture alliance
STF manda Bolsonaro usar tornozeleira eletrônica
O Supremo determinou que o ex-presidente terá que usar tornozeleira eletrônica e passará a ser monitorado 24 horas por dia. Ele não poderá acessar redes sociais ou deixar Brasília sem autorização. Bolsonaro também terá de permanecer em casa entre 19h e 7h e está proibido de se comunicar com embaixadores e diplomatas e outros réus e investigados pelo STF. (18/07)
Foto: Eraldo Peres/AP/picture alliance
Ataque de Israel atinge única igreja católica de Gaza
Um míssil israelense atingiu o complexo da Igreja da Sagrada Família da Faixa de Gaza, a única igreja católica do território palestino, matando três pessoas e ferindo várias outras. Entre os feridos estava o padre Gabriele Romanelli, que se tornou amigo íntimo do papa Francisco nos últimos meses de vida do pontífice, e com quem ele telefonava quase diariamente.(18/07)
Foto: Omar Al-Qattaa/AFP/Getty Images
Tropas israelenses impedem drusos de cruzar fronteira com a Síria
Membros da comunidade drusa protestaram contra tropas israelenses ao serem impedidos de cruzar a fronteira em direção à Síria. Dezenas tentam chegar a Sweida em busca de familiares. No local, milícias drusas entraram em conflito com combatentes beduínos e forças do governo sírio, deixando centenas de mortos. Em retaliação, Israel lançou bombardeios contra alvos em Damasco. (16/07)
Foto: Jalaa Marey/AFP/Getty Images
Combates no sul da Síria deixam 203 mortos
Israel tem feito ataques contra as forças do governo sírio na região de Sweida, no sul da Síria, sob o argumento de proteger a minoria drusa e desmilitarizar a área próxima à fronteira. Nesta terça-feira, confrontos sectários deixaram ao menos 203 mortos, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). Após vários dias de conflito, forças do governo foram enviadas à região. (15/07)
Foto: Omar Sanadiki/AP Photo/picture alliance
EUA enviarão Patriots para a Ucrânia financiados pela UE
O presidente Donald Trump anunciou que os Estados Unidos enviarão sistemas de defesa antiaérea Patriot para a Ucrânia para apoiar os combates contra a invasão da Rússia, marcando a retomada da ajuda dos Estados Unidos a Kiev. No entanto, ele afirmou que a União Europeia (UE) é quem "pagará por isso". (13/07)
Foto: U.S. Army/ABACAPRESS/picture alliance
Unesco declara Cânion do Peruaçu, em MG, Patrimônio Mundial
O Cânion do Peruaçu, localizado no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, em Minas Gerais, foi reconhecido pela Unesco como Patrimônio Natural da Humanidade. Com 38.003 hectares de extensão, ele abriga um complexo de cavernas, sítios arqueológicos milenares e uma rica biodiversidade. Um dos destaques do local é a Gruta do Janelão, cujas galerias ultrapassam 100 metros de altura (13/7).
Foto: Tony Waltham/robertharding/picture alliance
"Castelo da Cinderela" alemão é declarado Patrimônio Mundial
O castelo de Neuschwanstein, na Baviera, conhecido por ter inspirado filmes de Walt Disney, foi declarado Patrimônio Mundial da Unesco, anunciou a agência da ONU. Três outros edifícios também construídos no final do século 19 sob o comando do rei Ludwig 2º da Baviera, que era obcecado por artes, também foram adicionadas à lista: Herrenchiemsee, Linderhof e Schachen. (12/07)
Foto: Lilly/imageBROKER/picture alliance
Trinta anos do genocídio de Srebrenica
Pessoas se reúnem em um memorial na vila de Potocari, próximo à cidade de Srebenica, onde há 30 anos tropas do general sérvio-bósnio Ratko Mladic promoveram um massacre contra bósnios muçulmanos que estavam em uma zona protegida pela ONU. No local, estão os restos mortais de cerca de 7 mil das 8.372 vítimas conhecidas do genocídio. (11/07)
Foto: Andrej ISAKOVIC/AFP
Lula ameaça retaliar tarifaço de Trump e chama carta de "afronta"
O presidente Lula disse que quer negociar com seu homólogo americano, Donald Trump, para evitar a taxação em 50% de exportações brasileiras, mas que retaliará na mesma medida se a estratégia não der certo. "Se ele vai cobrar 50% de nós, nós vamos cobrar 50% dele", afirmou à TV Record, chamando a carta de Trump com críticas ao Judiciário brasileiro e defesa de Jair Bolsonaro de "afronta". (10/07)
Foto: E. Blondet/W. Oliver/picture alliance
Trump pressiona Brasil e anuncia tarifa extra de 50%
O presidente dos EUA, Donald Trump, reagiu a uma troca de farpas com o governo brasileiro com a imposição de uma taxa extra de 50% sobre todas as exportações brasileiras, a partir de 1º de agosto. A tarifa se somaria aos 10% que o Brasil já paga desde 2 de abril. Ao justificar a medida, americano citou processo de Bolsonaro no STF e política comercial "injusta". (09/07)
Foto: Jacquelyn Martin/AP/picture alliance
Netanyahu indica Trump ao Nobel da Paz
Possível trégua em Gaza e novas conversas com o Irã foram temas na reunião de Donald Trump e Benjamin Netanyahu. Na terceira visita do líder israelense a Washington no segundo mandato de Trump, eles buscaram projetar alinhamento e admiração mútua. Netanyahu até disse ter indicado Trump ao Nobel da Paz e, durante jantar, deu ao americano uma cópia da sua carta ao Comitê do Nobel. (08/07)
Foto: Kevin Lamarque/REUTERS
Polônia reage à Alemanha e inicia controle de fronteiras
A Polônia começou a impor controles em 65 pontos das fronteiras terrestres com a Alemanha e a Lituânia como parte de uma ofensiva contra a migração irregular que gera pressão política tanto em Varsóvia quanto em Berlim. O governo polonês acusa a Alemanha de devolver sistematicamente imigrantes ao seu território, uma medida juridicamente controversa, e diz que há assimetria entre os países. (07/07)
Foto: Lisi Niesner/REUTERS
Brics condena ataques contra seus membros e critica protecionismo
Líderes do grupo de nações em desenvolvimento Brics condenaram os ataques ao Irã, à Faixa de Gaza, à Caxemira indiana e à infraestrutura russa durante a cúpula do bloco que acontece no Rio de Janeiro. Em uma declaração conjunta, os países ainda criticaram o "aumento indiscriminado de tarifas" no comércio internacional e voltaram a pedir uma reforma no Conselho de Segurança da ONU. (06/07)
Foto: Pilar Olivares/REUTERS
Multidão protesta em Tel Aviv por acordo que liberte todos os reféns
Milhares foram às ruas para pressionar o governo a firmar um acordo "sem seleção" que garanta o retorno de todos os reféns mantidos em Gaza. Críticos acusam o premiê Benjamin Netanyahu de adiar as negociações para encerrar a guerra, com o objetivo de preservar sua posição política. Discussões atuais sobre um cessar-fogo entre Israel e Hamas não preveem a libertação de todos os sequestrados.(05/07)
Foto: Ohad Zwigenberg/AP/picture alliance
Enchentes no Texas deixam dezenas de mortos e desaparecidos
Chuvas torrenciais provocaram enchentes repentinas ao longo do rio Guadalupe, no estado americano do Texas, deixando ao menos 24 mortos. As autoridades seguem procurando um grupo de cerca de 20 meninas que participavam de um acampamento de verão próximo às margens do rio. Equipes de resgate estão usando 14 helicópteros e uma dúzia de drones nas buscas. (04/07)
Foto: Patrick Keely/UGC/REUTERS
Em prisão domiciliar, Cristina Kirchner recebe Lula
Após a cúpula do Mercosul em Buenos Aires, Lula visitou a ex-presidente argentina condenada por corrupção. "Lula também foi perseguido, usaram "lawfare contra ele", escreveu Cristina Kirchner no X após o encontro com o líder brasileiro. Ela descreveu a visita como um "ato político de solidariedade".(03/07)
Ondas de calor chegaram mais cedo este ano à Europa, no início do verão, aumentando as temperaturas em até 10°C em algumas regiões. Quatro pessoas morreram na Espanha, duas na França outras e duas na Itália devido às altas temperaturas. Os serviços meteorológicos nacionais emitiram alertas à população sobre o calor excessivo em muitas das maiores cidades do continente, como Roma e Paris (02/07)
Foto: Remo Casilli/REUTERS
Milhares protestam na Turquia contra prisão de oposicionista
Uma multidão protestou em Istambul em apoio ao popular ex-prefeito da cidade, Ekrem Imamoglu, na data que marca os 100 dias de sua prisão. Principal rival político do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ele foi detido por acusações de corrupção em uma investigação considerada por seus apoiadores como politicamente motivada. (01/07)
Foto: Su Cassiano/Middle East Images/AFP/Getty Images