Projeto antidesperdício Fruta Feia ganha força em Portugal
Melanie Hall (fc)27 de novembro de 2015
Cooperativa evita descarte de 4 toneladas por semana de frutas e vegetais considerados "feios", mas de boa qualidade. Com financiamento da UE, iniciativa pretende criar mais postos de distribuição em Lisboa e pelo país.
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"Gente bonita come fruta feia." Este é o slogan da cooperativa Fruta Feia, de Portugal. Com o objetivo de reduzir o desperdício de alimentos que não atendem a um padrão estético, a iniciativa sem fins lucrativos foi criada por consumidores portugueses em 2013 e recebeu recentemente um financiamento de 320 mil euros da União Europeia (UE).
A verba foi concedida ao projeto Flaw4Life, uma parceria da Fruta Feia com o Instituto Superior Técnico e a Câmara Municipal de Lisboa. O Flaw4Life é uma das 96 iniciativas ambientais às quais a UE concedeu financiamento neste mês, somando 160,6 milhões de euros.
O objetivo do projeto coordenado pela Fruta Feia é mudar o conceito dos consumidores em relação a frutas e vegetais considerados "feios", o que faz com que milhares de toneladas de alimentos parem no lixo a cada ano. Com o Flaw4Life, a cooperativa, que já funciona na capital Lisboa, pretende expandir suas atividades pelo país.
O projeto "Fruta Feia" tornou-se tão popular que está lutando para atender à demanda por frutas e vegetais que não são considerados "perfeitos". Cerca de 3 mil consumidores aguardam na lista de espera para se juntar ao cadastro dos atuais 800 associados.
Uma vasta rede de agricultores, coordenadores locais e consumidores está sendo criada para formar um mercado nacional alternativo para frutas e vegetais "feios" e aumentar o número de pontos de distribuição dos atuais três em Lisboa para dez em todo o país. A meta é reduzir o desperdício de 460 toneladas de alimentos por ano.
Toneladas de "lixo"
A Fruta Feia funciona da seguinte forma: semanalmente, a cooperativa compra de produtores locais os produtos "imperfeitos" – que não são vendidos no mercado regular – e revende os alimentos, por cerca da metade do preço em relação ao de itens "perfeitos", diretamente para consumidores cadastrados. Estes buscam os produtos em pontos de entrega fixos.
Com o Flaw4Life, a cooperativa espera reproduzir, nacionalmente, o modelo já implementado em Lisboa, que começou há dois anos quando o primeiro furgão da Fruta Feia chegou à cidade, com 500 quilos do que os supermercados consideravam "lixo".
"Todos nos disseram que isso não funcionaria por causa do modelo de cooperativa, porque as pessoas teriam que ir a determinados pontos de entrega para comprar um produto que era considerado 'lixo'", diz Maria Canelhas, uma das quatro responsáveis pela Fruta Feia.
Passados dois anos, o furgão chega a Lisboa três vezes por semana e evita, semanalmente, o desperdício de 4,4 toneladas de "lixo". Canelhas conta que a equipe ficou animada ao receber o financiamento da Comissão Europeia.
"Não podíamos acreditar, porque não tínhamos a expectativa de ganhar esse financiamento. Nunca nos candidatamos a um programa de financiamento tão grande", afirma. "É realmente emocionante. Ele vai permitir uma expansão mais rápida do que estávamos esperando."
Ensinar crianças a apreciar frutas "feias"
Nos próximos seis meses, a Fruta Feia vai estabelecer mais dois pontos de entrega, na cidade do Porto – mais cedo do que o previsto, graças ao financiamento. A equipe, assim, será capaz de atender a uma demanda sempre crescente.
O projeto trabalha também junto à Câmara Municipal de Lisboa para realizar oficinas em escolas primárias e ensinar crianças sobre desperdício de alimentos, e por que não rejeitar uma fruta que não parece perfeita.
"As crianças são bastante receptivas à mensagem", comenta Canelhas. "Eles acham que frutas feias são bastante engraçadas."
De acordo com a Fruta Feia, cerca de 30% da comida produzida na Europa é jogada no lixo por simplesmente não se adequar a determinados padrões estéticos, apesar de ser saborosa e de boa qualidade.
Canelhas comemora o fato de iniciativas que promovem frutas e vegetais "feios" estarem ganhando força em todo o mundo. "Acho que um movimento realmente está se formando, porque estamos vendo várias iniciativas em diversas partes do mundo", conclui.
Quem come o quê?
Vegetariano, flexitariano, vegano, freegano: por motivos econômicos, políticos, ambientais ou de saúde, a diversidade alimentar aumentou nos últimos anos. Conheça as diferentes categorias de dieta.
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Onívoro
Aqui estão incluídos aqueles que comem de tudo, seja de origem vegetal ou animal. Os números indicam que essa parcela da população está diminuindo, já que o consumo de carne vem caindo nos últimos anos. E depois do recente alerta da Organização Mundial de Saúde (OMS) de que a ingestão de carne processada pode causar câncer, muitos afirmam que vão passar a comer menos do produto.
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Vegetariano
É aquele que come apenas alimentos de origem vegetal, embora possa consumir produtos originários de animais vivos, como laticínios e ovos. O vegetariano não come nenhum tipo de carne, peixe ou frutos do mar. Mundialmente, seu número pode chegar a um bilhão de pessoas, dos quais mais de 200 milhões são indianos. No Brasil, cerca de 8% da população se define como vegetariana, segundo o Ibope.
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Ovolactovegetariano
Há diferentes categorias de vegetarianos. O ovolactovegetariano, além de frutas, verduras, legumes e cereais, admite em sua dieta também leite e ovos. Esse é o tipo de vegetarianismo mais comum.
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Lactovegetariano
Além de não consumir nenhum tipo de carne, a alimentação dos lactovegetarianos também exclui os ovos. Sua dieta consiste de leite e seus subprodutos, como iogurte ou sorvetes, além é claro, de vegetais.
Ovovegetariano
Os ovovegetarianos, por sua vez, não tomam leite nem consomem nenhum tipo de laticínio, mas incluem os ovos em sua dieta. Preocupações ambientais ou motivos de saúde, como a intolerância à lactose, podem ser razões para esse tipo de regime vegetariano.
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Vegetariano estrito
Diferente do vegetariano comum, que não come nada que implique tirar a vida de um animal, mas consome produtos originários de animais vivos (como leite, ovos e mel), o vegetariano estrito não consome nenhum tipo de carne, laticínios ou ovos. Essa categoria se confunde, às vezes, com o veganismo, que se trata antes de uma postura ética.
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Vegano
O veganismo não é somente de uma forma de alimentação, mas também uma atitude ética. Além de não se alimentar de absolutamente nenhum produto de origem animal, os veganos também não usam sapatos de couro ou roupa de seda ou lã, por exemplo. Não há dados específicos sobre o veganismo no Brasil. Na Alemanha, onde a filosofia tem forte adesão, estima-se que existam cerca de 900 mil veganos.
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Pescovegetariano
Os pescovegetarianos são considerados semivegetarianos. Eles não comem carne vermelha nem frango, mas se permitem consumir peixes e frutos do mar. Eles também se alimentam de leite, ovos e mel. Outra variação do regime semivegetariano inclui ainda aqueles que dispensam apenas a carne vermelha, mas comem frango.
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Crudívoro
Basicamente, a alimentação daqueles que preferem alimentos crus está aberta a qualquer tipo de dieta, apesar de a maioria dos crudívoros serem veganos. Nessa dieta, os alimentos não devem ser aquecidos a mais de 40°C e devem estar crus, preservando assim proteínas e enzimas. Também produtos derivados do aquecimento de alimentos, como geleias, por exemplo, ficam fora da alimentação dos crudívoros.
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Frugívoro
Os adeptos dessa dieta vão além dos veganos e comem apenas vegetais cuja aquisição não danifica as plantas. Isso inclui principalmente frutas caídas, nozes e sementes, mas também frutos colhidos sem lesar o vegetal, como tomates e abóboras ou feijão e ervilhas. Os médicos advertem, porém, que qualquer tipo de restrição alimentar pode levar à deficiência nutricional, se feita de maneira inadequada.
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Flexitariano
Na maior parte do tempo, o flexitariano se confunde com o vegetariano. Mas, em vez da proteção dos animais, o que importa para ele é se alimentar de forma saudável. Desde que seja de origem orgânica, um pedaço de carne, peixe ou frango pode fazer parte, de vez em quando, da sua dieta. Mais de 40 milhões de alemães são adeptos dessa alimentação naturalista.
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Freegano
O freeganismo é uma postura política de vida. Seus adeptos se recusam a comprar qualquer tipo de alimento, comendo aquilo que conseguem de graça ou que encontram no lixo de supermercados e restaurantes. Muitos deles são vegetarianos, mas não têm objeções a comer produtos animais jogados fora. Os freeganos querem chamar a atenção para o desperdício, para o supérfluo e para a fome no mundo.