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Projeto habitacional reúne refugiados e idosos na Suécia

Richard Orange cn
21 de dezembro de 2019

Com a convivência, iniciativa quer ajudar imigrantes a se integrarem na sociedade e diminuir a solidão na velhice. Pré-requisito para morar no prédio é disposição para participar de atividades sociais.

Prédio na Suécia que abrigará idosos e refugiados
Prédio construído em 1960 abrigará idosos e refugiadosFoto: Helsingborgshem

A primeira futura vizinha sueca que jovens imigrantes conheceram foi Kristin Ohman. "Eles estavam parados sozinhos, então fui recebê-los com flores", conta a senhora de 74 anos ao se lembrar da reunião com os novos 70 moradores do seu novo prédio. "Eles pareciam meio tímidos, mas eram todos muito positivos".

O projeto SällBo na cidade sueca de Helsingborg visa combater a solidão na velhice e integrar antigas crianças refugiadas ao torná-los vizinhos no mesmo edifício. No local, há 31 apartamentos disponibilizados para aposentados e 20 para jovens entre 18 e 25 anos, sendo dez deles reservados a imigrantes que entraram na Suécia como menores requerentes de asilo desacompanhados.

O nome do projeto combina a palavra sällskap, que significa companhia ou intimidade, com bo, que significa viver. Ajudados por um coordenador social, que também é morador, os habitantes do prédio se comprometem, por contrato, a participar juntos de atividades sociais por pelo menos duas horas por semana.

"Esse projeto não é somente o primeiro da Suécia. A nossa constelação é única no mundo", diz Dragana Curovic, especialista integração na Helsingborgshem, a empresa pública de moradia da cidade.

Uma das antigas salas de estar foi transformada em ateliê de arteFoto: Emil Langvad

Construído em 1960 como lar para idosos, o prédio se tornou a maior instalação habitacional para menores requerentes de asilo que chegaram desacompanhados na Suécia no auge da crise migratória de 2015. Dois anos depois, surgiu a ideia de utilizar o local para um projeto de integração.

Inicialmente, Curovic e sua colega pretendiam transformar dois andares inferiores em moradias assistidas para idosos e deixar os outros andares para jovens imigrantes. No final, as especialistas decidiram misturar os grupos. "Pensamos, ok temos essa casa e essas necessidades. Sabemos que existem muitos solitários. Por que não fazermos um projeto de integração, onde há diferentes tipos de pessoas?"

Solidão e isolamento

Curovic acredita que idosos podem se sentir isolados mesmo se encontrem com frequência outros aposentados. "Eles se sentem facilmente excluídos das suas comunidades porque a maioria das informações que recebem vem de outras pessoas de sua mesma idade ou da imprensa. A solidão não é só ficar sentado em casa sozinho", opina.

Por outro lado, imigrantes que vivem na Suécia acabam frequentemente morando em áreas altamente segregadas, em regiões onde mais de 80% dos habitantes são estrangeiros de primeira ou segunda geração. Os menores que chegam ao país sem os pais ou familiares acabam com frequência não tendo nenhum contato com um sueco adulto que não seja responsável por seus cuidados.

"Eles têm contato com diferentes autoridades governamentais, mas é difícil estabelecer uma relação natural com adultos", explica Curovic, "o que significa que, em combinação com as diferenças culturais, sua vida social é mais limitada do que a de outros jovens em situação similar".

Ohman se sentia sozinha depois que se aposentouFoto: Emil Langvad

Curovic espera que, ao conviver e trabalhar com idosos suecos, os jovens aprimorem sua compreensão cultural e absorvam habilidades práticas que normalmente aprenderiam com familiares. Jovens imigrantes que chegaram à Suécia ainda criança em busca de asilo enfrentam muitos estigmas no país. A especialista espera que o projeto aos ajude a entender que nem todos os suecos os veem como suspeitos.

Os primeiros moradores começaram a se mudar no final de novembro. Os antigos requerentes de asilo serão os últimos a se mudar. O programa social começará no Ano Novo.

Ohman, que trabalhava na coordenação de crises para o governo local, conta que se sentiu atraída pela ideia do projeto por gostar de conversar com os amigos de sua filha. "Adoro passar tempo com jovens". Porém, sua filha mora a mais de 200 quilômetros de distância, em Gotemburgo, e seu filho ainda mais distante, em Karlstad. Desde que se aposentou há sete anos, ela começou a se sentir isolada em sua casa.

Espaços compartilhados

Embora os apartamentos em SällBo sejam pequenos, há muito espaço compartilhado. As duas salas de estar que existiam em cada andar foram transformadas em ateliê de arte, sala de ioga, de jogos, biblioteca e academia, entre outros. As cozinhas têm decorações temáticas. As idealizadoras do projeto esperam que os moradores se desloquem entre os andares, ocupando todos os variados espaços comuns.

Rosanna Simson vai morar com a família no localFoto: Emil Langvad

Kalle e Anki Andersson, de 85 e 70 anos respectivamente, se mudaram de um apartamento que ficava a apenas 300 metros de prédio. Eles já estavam acostumados a encontrar os jovens que moravam no local quando ele era ainda um abrigo de refugiados. "Havia 98 crianças requerentes de asilo aqui e não tivemos nenhum problema com eles", diz Anki. "Não houve perturbações. Eles sempre foram amigáveis e diziam oi".

Como Ohman, o casal foi atraído para o projeto pela perspectiva de compartilhar suas vidas com jovens. "Queremos passar muito tempo socializando com eles. Não queremos viver apenas com idosos", diz Anki.

Mas não foram somente suecos idosos que se interessaram pela ideia. Jovens do país também se candidataram. Desde que seu filho Dante nasceu há 20 meses, Rosanna Simson vivia na casa da sogra, mas desejava ter seu próprio lar. "Quando vimos isso, ficamos realmente empolgados, porque pensávamos que nós três poderíamos sentir sozinhos se nos mudássemos de uma família grande para um apartamento de um quatro", conta.

"Adoro passar tempo com idosos. Eles geralmente são muito falantes e gostam de contar como era quando eram jovens. Acho isso muito fofo", acrescenta Simson.

O projeto terá incialmente uma duração de dois anos, após os quais a empresa avaliará se continuará com o modelo ou transformará os apartamentos alugados para jovens em mais moradias assistidas para idosos.

Independentemente do resultado a dois anos, Ohman está convencida de que a ideia será copiada por outras cidades do país. "Há tantas pessoas que não tem ninguém. Sentamos involuntariamente sozinhos em nossas casas. Acho que haverá mais e mais moradias assim".

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