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Projeto para atrair os emigrados do Leste alemão

Flávia Magalhães23 de março de 2006

Como aumentar a população de uma região sem perspectivas? Magdeburg parece ter encontrado a solução para o problema: trazer de volta quem deixou a cidade. O primeiro passo é enviar uma caixa com suvenires da região.

A saudade deve ajudar a repovoar o Leste alemãoFoto: Universität Leipzig

Volte para o seu lar! Mais do que o refrão de uma composição de Arnaldo Antunes, a frase transmite bem a idéia do projeto Heimatschachteln (Caixas da cidade natal), lançado pela prefeitura de Magdeburg, em conjunto com o Ministério dos Transportes, Obras e Planejamento Urbano e a universidade local. A partir do fim de março, os emigrantes receberão uma caixa com lembranças da cidade. O objetivo do projeto é causar saudade e despertar o interesse por um possível retorno à terra natal.

A evasão populacional

Não há nenhum lugar como o lar: a campanha de MagdeburgFoto: MMKT GmbH

Magdeburg, capital do Estado da Saxônia-Anhalt, teve um passado glorioso e foi uma das cidades mais importantes da Europa medieval. Contudo, após a Segunda Guerra, a cidade às margens do Rio Elba perdeu brilho e moradores.

Segundos os dados das pesquisas conduzidas pela especialista em migração populacional da Universidade de Magdeburg-Stendal, a professora Christiane Dienel, cerca de 10% da população deixou a Saxônia-Anhalt desde 1990. Só em Magdeburg, 60 mil pessoas emigraram. Além disso, a taxa de natalidade da cidade é uma das menores no Leste do país. "Contra isso há solução, desde que não fiquemos só reclamando. É preciso entrar em ação", completa a socióloga coordenadora da ação.

"Cansados das advertências dos demógrafos", o Estado resolveu fazer algo mais concreto para resolver o problema da diminuição populacional.

Revivendo o passado

Os primeiros 300 "pacotes do Leste" já foram enviados, mas quem tem de 18 a 30 anos e deixou Magdeburg depois de setembro de 2005 também pode pedir a sua caixinha pela internet.

Os presentinhos tentam relembrar o que há de melhor na cidade e devem adoçar a vida dos que se dirigiram ao Oeste alemão em busca de melhores condições: vales para bares e teatros da cidade, assinaturas dos jornais locais, ingressos para eventos esportivos e culturais, além – é claro – de todos os tipos de suvenires como canetas, ímãs para geladeiras, adesivos e broches. Tudo para fortalecer a identidade regional.

"As lembranças podem parecer besteiras ou simples nostalgia do Leste, mas, na verdade, não são muito diferentes dos trajes típicos da Baviera: um forte símbolo de pertencimento a um grupo, um verdadeiro elemento de identificação regional", ressalta Dienel.

A socioóloga Christiane Dienel ao apresentar a sua caixa de recordaçõesFoto: picture-alliance / dpa/dpaweb

Dicas para recomeçar na região e iniciar negócios por conta própria também foram incluídas nos pacotes. A porta-voz do projeto, Anne-Katrin Hübel, ressalta que os presentes não vão criar novos empregos na região, o que seria o único motivo convincente para o retorno. "O que podemos fazer é criar uma atmosfera positiva, fortalecer os laços com a cidade para que eles possam voltar e trazer as experiências e conhecimentos", esclarece Hübel.

O projeto é parte de um programa mais amplo que visa à reconstrução do Leste alemão. "Nossas pesquisas mostraram que os emigrantes só voltam ao seu local de origem se existe algum tipo de ligação emocional ou se ainda têm algum tipo de contato por lá", explica Dienel.

Um programa amplo

O programa é constituído de três subprojetos que visam criar condições para o retorno dos emigrados à região e evitar novas e grandes levas populacionais. "As três estratégias-piloto do projeto – universidade em prol da família, as caixas de presente e uma agência de apoio emigrados – vão ser colocadas em funcionamento e testadas em Magdeburg. Depois vamos expandir o projeto a outras cidades também afetadas pelo êxodo populacional", disse Dienel.

"O objetivo central dos projetos é criar motivos para 'prender' as pessoas no Leste alemão, principalmente os mais jovens", disse Tiefensee. As estatísticas apontam que 60% dos emigrantes estariam dispostos a voltar. "Há que se aproveitar este potencial", declara, otimista, o ministro.

Dienel não acredita que os produtos da caixinha sejam a solução ideal para resolver o problema, pois "receitas para acabar com a emigração não existem". Entretanto, a professora conclui que "para o Leste é interessante que as pessoas se dirijam a outros lugares, ganhem experiência, know-how e dinheiro para poder voltar para a região".

Apoio virtual

Uma outra receita de sucesso é a criação de redes entre os emigrados. "Quando, por exemplo, ex-moradores de Magdeburg se conhecem na sua nova cidade, seja ela qual for, a identificação com a terra natal se torna mais forte e a probabilidade de que ele retorne um dia é maior", explica Dienel.

Foi criada uma agência de apoio para aqueles que querem retornar. Além de ofertas de emprego na região, a página da internet possibilita o contato com uma comunidade virtual. Os voluntários podem contar suas experiências em um blog e participar de um forum online. "Quando os jovens saem da cidade para trabalhar, eles querem cultivar as suas raízes, manter contato com a família e os amigos. Para eles é importante ter alguém para quem possam ligar às três da manhã", explica Hübel.

Incentivando a família

Em pesquisas realizadas anteriormente, Dienel e sua equipe descobriram que há uma emigração maior por parte de mulheres e de jovens recém-formados e bem qualificados. Por isso, um dos objetivos do programa é a melhoria das condições de apoio às mulheres nas universidades alemãs, como uma forma de incentivar a maternidade e evitar a evasão populacional.

O projeto incentiva a combinação de carreira e famíliaFoto: AP

A pesquisadora considera "projetos concretos" como a melhor maneira de se controlar o êxodo populacional, principalmente entre as jovens. "Sistema de creches e aconselhamento são um fator decisivo para jovens mães nas universidades", completa Dienel. Exemplos concretos de projetos realizados na Europa, e mesmo na Alemanha, mostram que ter filhos depende muito de condições estabelecidas politicamente.

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