Promotoria pede prisão para "Contador de Auschwitz"
7 de julho de 2015
Acusado de participação na morte de 300 mil no campo de concentração, Oskar Gröning, de 94 anos, pode passar três anos e meio na cadeia. É provável que este seja o último julgamento na Alemanha por crimes do nazismo.
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No processo contra o alemão Oskar Gröning, de 94 anos e ex-membro da Waffen-SS, tropa de elite das Forças Armadas nazistas, a promotoria pediu uma pena três anos e meio de prisão nesta terça-feira (07/07). O réu é acusado de participação na morte de 300 mil prisioneiros no campo de concentração de Auschwitz.
O promotor Jens Lehmann, do Tribunal Regional de Lüneburg, no norte da Alemanha, ponderou, no entanto, que a corte deveria considerar parte da eventual sentença como cumprida. A justificativa é que Gröning foi repetidamente investigado nas últimas décadas, sem que qualquer acusação formal tenha sido feita contra ele até o ano passado.
Lehmann afirmou que o pedido da sentença teve como base "o número quase incompreensível de vítimas", mas foi mitigado pela "contribuição limitada do acusado" para as mortes.
Gröning serviu no campo de extermínio à Waffen-SS de setembro de 1942 a outubro de 1944. Sua função era administrar dinheiro, joias e outros objetos de valor dos deportados – o que lhe valeu o apelido de "Contador de Auschwitz", dado pela mídia alemã.
A promotoria o acusa de ocultar indícios de assassinato em massa, ao ajudar a dar sumiço à bagagem dos prisioneiros. Também o acusa de, como contador, separar o dinheiro e objetos de valor das vítimas, encaminhando-os, mais tarde, para Berlim, mesmo sabendo que Auschwitz servia para o assassinato em massa de pessoas durante o Holocausto.
No início do processo, que ganhou atenção internacional, em abril deste ano, o réu havia reconhecido ter pegado dinheiro da bagagem de judeus em Auschwitz e repassado à Waffen-SS, assumindo uma culpa moral.
Num comunicado lido por um de seus advogados no tribunal na semana passada, o réu disse não se sentir no direito de pedir que as vítimas do Holocausto o perdoassem. "Só posso pedir a Deus que me perdoe", afirmou.
É provável que o processo contra Gröning seja o último julgamento na Alemanha por crimes do nazismo. A saúde do nonagenário piorou visivelmente nos últimos tempos, atrasando vários procedimentos judiciais. Lehmann afirma que a corte está diante de uma decisão histórica e que o veredicto pode sair ainda neste mês.
LPF/dpa/afp
A arte e os horrores de Auschwitz
Exposição em Berlim mostra a obra de artistas que sobreviveram aos campos de concentração nazistas. Além de documentar atrocidades, eles fizeram arte.
Foto: Staatliches Museum Auschwitz-Birkenau in Oœwiêcim
Os artistas esquecidos
Enquanto a chamada "arte degenerada" dos artistas perseguidos pelo nazismo desperta atenção, quase ninguém conhece o trabalho dos artistas que estavam em campos de concentração. Pintores como Waldemar Nowakowski (foto) estão quase esquecidos. Por isso a importância do livro e da exposição "A morte não tem a última palavra", a ser aberta no prédio do Bundestag em Berlim, a partir de 27 de janeiro.
Foto: Staatliches Museum Auschwitz-Birkenau in Oœwiêcim
Horrores de Theresienstadt em gravura
Por mais de 15 anos, o autor, curador e historiador de arte Jürgen Kaumkötter se dedicou à arte dos perseguidos entre 1933 e 1945. Para isso, não considerou apenas quadros que surgiram nessa época, mas também aqueles que tematizaram os acontecimentos em retrospecto. Leo Haas executou esta gravura sobre Theresienstadt em 1947. Mas há também obras feitas no campo de concentração.
Foto: Bürgerstiftung für verfolgte Künste – Else-Lasker-Schüler- Zentrum – Kunstsammlung Gerhard Schneider
Pinturas no "museu do campo"
É sabido que artistas pintaram em Theresienstadt. Mas também em Auschwitz 1 houve um "museu do campo". Lá havia lápis, papel, pincéis à disposição dos artistas, para que executassem encomendas para a SS. Outros motivos surgiram secretamente. Em contrapartida, praticamente não há obras de arte oriundas de Auschwitz 2. Na foto: "Autorretrado de Marian Ruzamski", de 1943/44.
Foto: Staatliches Museum Auschwitz-Birkenau in Oœwiêcim
Imagem de sonhos em Auschwitz
O artista Jan Markiel criou esse retrato, em 1944, sem os materiais que tinha oficialmente à disposição em Auschwitz 1. A filha do padeiro do vilarejo próximo de Jawiszowice ajudou o prisioneiro trazendo pão e intermediando mensagens para a resistência. A têmpera utilizada pelo artista veio de pigmentos raspados da parede. O tecido grosso dos colchões de palha serviu como tela.
Foto: Staatliches Museum Auschwitz-Birkenau in Oœwiêcim
Testemunha dos crematórios
Em 1942, aos 13 anos, Yehuda Bacon (na foto, à dir.) veio para Theresienstadt e, em dezembro de 1943, para Auschwitz-Birkenau. Ele foi utilizado como mensageiro – podendo se aquecer nos fornos dos crematórios no inverno. O que testemunhou, ele relatou não somente durante o célebre Julgamento de Auschwitz em Frankfurt, mas também expressou nos desenhos que executou após a guerra.
Foto: Bürgerstiftung für verfolgte Künste – Else- Lasker-Schüler-Zentrum – Kunstsammlung Gerhard Schneider
Símbolo da morte
Yehuda Bacon mostrou esse desenho aos juízes em Frankfurt, como prova dos crimes cometidos em Auschwitz: chaminés retangulares dos crematórios, um chuveiro, pessoas que são apenas esboços. Para o historiador da arte Kaumkötter, esse desenho é um símbolo da morte nas câmaras de gás e da sepultura nos céus. Trata-se não somente de um testemunho, mas também de uma grande obra de arte.
Foto: Yehuda Bacon
A segunda geração
Michel Kichka é um dos cartunistas mais influentes de Israel. Em 2014, ele publicou a novela gráfica "Segunda geração – o que o meu pai nunca me contou", sobre o menino Kichka e o seu pai, sobrevivente de Auschwitz. Os traumas do pai passaram para o filho. Somente quanto ouve o pai contar piadas sobre o campo, Kichka consegue superar seus pesadelos.
Foto: Egmont Graphic Novel
Metáforas do Holocausto
Também os pais da artista israelense Sigalit Landau são sobreviventes do Holocausto, e o professor de desenho dela foi Yehuda Bacon, que trabalha até hoje como artista e professor de arte em Israel. Os trabalhos de Landau são repletos de alusões metafóricas ao Holocausto, como estes sapatos, que logo lembram a montanha de calçados que ainda hoje pode ser vista na exposição permanente de Auschwitz.
Foto: Sigalit Landau
A morte não tem a última palavra
Sigalit Landau coletou cem pares de sapatos em Israel e os afundou no Mar Morto. O mar os envolveu com uma camada de sal curativa – eles se tornaram símbolo da vida, em vez da morte. O desejo da artista era mostrá-los em Berlim, como sinal de que a esperança derrota o desespero. A mostra "A morte não tem a última palavra" está em cartaz até o dia 27 de fevereiro no prédio do Bundestag, em Berlim.