Prorrogação das negociações gera reações distintas na Europa e no Irã
25 de novembro de 2014
Aiatolá Ali Kahmenei afirma que Ocidente está tentando colocar o Irã de joelhos. E enquanto parlamentares clamam pelo direito nuclear do país, presidente Rowhani acredita em desfecho positivo "mais cedo ou mais tarde".
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O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, disse nesta terça-feira (25/11) – dia seguinte à prorrogação das negociações sobre a questão nuclear do país – que as potências ocidentais não serão capazes de acuar o Irã. No entanto, ele aprovou indiretamente a continuação das conversações.
"Sobre a questão nuclear, os arrogantes se reuniram e aplicaram todos os seus esforços para colocar a República Islâmica de joelhos. Mas eles não puderam e não vão conseguir", afirmou Khamenei em discurso para um grupo de clérigos. Funcionários iranianos costumam chamar os governos ocidentais de arrogantes.
O aiatolá Khamenei tem a palavra final sobre questões políticas externas e internas, e é dele a decisão sobre um acordo nuclear com as seis potências do G5+1 (Estados Unidos, França, Rússia, China, Reino Unido e a Alemanha).
França destaca avanços
O ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, disse que apesar do adiamento, as conversações entre o país asiático e as seis potências mundiais foram "bastante positivas". Ele afirmou que, durante os seis dias de negociações em Viena, progressos foram feitos, principalmente no assunto-chave: o enriquecimento de urânio.
"Ao limitar o capacidade iraniana de enriquecer [urânio], achei que houve um certo movimento", opinou o ministro à rádio France Inter.
Fabius afirmou que as seis potências têm "esboçado" soluções técnicas para o reator de água pesada de Arak. O Ocidente teme que o Irã consiga obter quantidades significativas de plutônio com a usina para construir bombas atômicas, caso mudanças não sejam implementadas.
Entenda o debate sobre o programa nuclear iraniano
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O G5+1 e o Irã estão tentando chegar a um acordo que permita a Teerã continuar enriquecendo urânio sem lhe dar capacidade para armazenar grandes quantidades do elemento puro. Se enriquecido a nível elevado, o urânio pode ser usado para fabricar bombas nucleares.
O ministro francês afirmou também que houve progresso sobre como se verificará se o Irã está mantendo seus compromissos, uma vez que um acordo seja assinado. "Enquanto tudo não for resolvido, nada está resolvido. Mas o tom foi mais positivo do que antes", afirmou Fabius. "O diabo está nos detalhes, mas há uma vontade de chegar a um acordo que eu não havia sentido nas negociações anteriores."
"Abaixo a América"
Teerã segue descartando os temores ocidentais de que o seu programa nuclear tenha objetivos militares, alegando que ele é usado apenas para obter energia. O presidente do país, Hassan Rowhani, em declaração à rede televisão estatal, disse à nação que "uma vitória significativa fora alcançada" e que "negociações levarão a um acordo, mais cedo ou mais tarde". O presidente retomou as negociações para buscar a suspensão de sanções econômicas no ano passado, depois de oito anos de conversas emperradas durante o governo de Mahmoud Ahmadinejad.
Rowhani também salientou que alguns obstáculos foram eliminados nas conversações. Porém ele também sinalizou que o Irã não vai abrir mão de seu direito por capacidade nuclear. "Nossos direitos nucleares devem ser admitidos pelo mundo", pediu Rowhani e acrescentou: "Vamos continuar as negociações."
No entanto, conservadores do parlamento e de outras instituições poderosas, como a militar e o judiciário, estão céticas sobre as conversações, alegando inclusive que já foram feitas muitas concessões sobre o programa nuclear.
O vice-presidente do Parlamento iraniano, Mohamed Hassan Aboutorabifard, disse que os Estados Unidos não são confiáveis, pois eles sacrificam seus interesses nacionais a favor de Israel. Quando ele expressou seu apoio para a continuação das negociações, os parlamentares presentes responderam cantando "Down with America" – "Abaixo a América".
Da energia à bomba nuclear
O Irã afirma que seu programa nuclear é exclusivamente para uso civil. No entanto, há muita semelhança entre a tecnologia nuclear para fins civis e a que tem objetivos militares.
Foto: aeoi.org.ir
Intenções obscuras
Há anos, o Irã amplia seus conhecimentos em tecnologia nuclear. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) está segura de que o país trabalhou em armas nucleares pelo menos até 2010.
Foto: aeoi.org.ir
Querer não é poder
Sem dúvida, a construção de uma arma nuclear com um sistema de transporte confiável impõe consideráveis desafios ao país. De forma simplificada, isso envolve cinco passos:
Foto: picture-alliance/dpa
Primeiro passo: obtenção da matéria-prima
Para fabricar uma bomba atômica, é necessário urânio altamente enriquecido ou plutônio quase puro. O Irã possui urânio suficiente, e o metal é extraído também para a indústria nuclear civil, como na minas de Saghand.
Foto: PD
Segundo passo: enriquecimento
Para seu enriquecimento, o urânio é concentrado em centrífugas de gás especiais, para facilitar a fissão. Para armas nucleares, é necessário um enriquecimento de 80%. Até novembro de 2012, o Irã alcançou oficialmente 20%. Mas após um acordo, a AIEA confirmou, em meados de 2013, que o país deixou de enriquecer urânio acima de 5% de pureza - nível suficiente para produzir energia.
Foto: picture-alliance/dpa
Terceiro passo: a ogiva
Ter urânio altamente enriquecido não basta. Para fabricar uma ogiva nuclear explosiva, os técnicos devem primeiro dar forma ao material puro e conseguir uma reação em cadeia através de um impulso controlado. Não se sabe até que ponto o Irã domina essas técnicas.
Foto: picture-alliance/dpa
Quarto passo: o detonador
A tecnologia para o detonador de uma arma nuclear é semelhante à de uma arma convencional. O Irã domina esse conhecimento. Além disso, cientistas iranianos realizaram extensos cálculos baseados em modelos e experimentos, simulando as propriedades de um detonador. Isso está comprovado por publicações das universidades Shahid Behesti e Amir Kabir.
Foto: AFP/Getty Images
Quinto passo: transporte
O Irã possui um sistema de transporte para armas nucleares. O míssil de médio alcance Shahab 3 é uma variante iraniana do Nodong-1, da Coreia do Norte. Ele alcança uma distância de 2 mil quilômetros e pode assim atingir alvos em Israel, a partir do Irã.
Foto: picture-alliance/dpa
A vontade de construir uma bomba
Sem controle, é difícil distinguir um programa nuclear civil de um militar, pois os recursos técnicos necessários são basicamente os mesmos. Precisa-se de centrífugas tanto na tecnologia nuclear civil quanto na militar. Se o Irã estará apto a fabricar uma bomba atômica e se vai realmente colocar isso em prática, depende decisivamente da vontade de quem está no poder.
Foto: dapd
Sem diálogo com Ahmadinejad
Após o programa nuclear do Irã ser descoberto, em 2002, os EUA e os aliados europeus pressionaram o país a suspender o enriquecimento de urânio. Mas a eleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em 2005, interrompeu qualquer avanço nas negociações. Nos oito anos de seu governo, o número de centrífugas para o enriquecimento de urânio foi ampliado de 100 para 19 mil.
Foto: picture-alliance/dpa
Declínio econômico força Irã a negociar
Somente após a eleição do presidente Hassan Rohani, em agosto de 2013, o processo de negociações voltou a funcionar. O chefe de governo iraniano – na foto com o diretor geral da AIEA, Yukuya Amano – insta a um acordo, porque ele quer a suspensão das sanções econômicas que assolam o país há mais de uma década. As negociações diplomáticas, porém, durariam mais dois anos.
Foto: picture-alliance/dpa
"Novo capítulo"
Em 14 de julho de 2015, o Irã fechou um acordo histórico com as potências do grupo P5+1 (Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha). Enquanto a República Islâmica garante não produzir bomba nuclear, EUA e União Europeia prometem aliviar as sanções que têm afetado as exportações de petróleo e a economia iraniana. UE vê decisão como um "novo capítulo nas relações internacionais".
Foto: Reuters/L. Foeger
Parlamento aprova acordo
O acordo foi aprovado pelo Parlamento do Irã em 13 de outubro de 2015, efetivamente encerrando o debate entre os legisladores do país sobre o tratado e, assim, abrindo caminho para sua implementação formal. Líderes afirmam que as inspeções internacionais precisam ser aprovadas pelo Conselho dos Guardiões da Constituição. Já as sanções devem ser suspensas no final do ano ou até janeiro de 2016.