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Protecionismo de Trump ameaça relação comercial com Alemanha

Malte Rohwer-Kahlmann av
13 de março de 2017

Além de muros de pedra e cimento, novo presidente dos EUA tem anunciado intenção de isolar seu país economicamente. Especialistas são unânimes: medidas anti-importação podem ser tiro pela culatra.

Symbolbild Deutschland USA Flagge
Foto: imago/Seeliger

Desde a posse de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos, o maior medo de numerosos economistas é que ele desencadeie uma guerra econômica internacional com sua política protecionista de comércio externo. É fato que até o momento nada de concreto ocorreu, mas várias declarações do novo presidente apontam numa direção clara: o isolamento americano em reação à economia mundial.

Trump pretende importar menos bens a fim de fortalecer a produção doméstica. "Queremos taxar as importações de países com os quais temos um deficit de comércio externo", disse o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer. Segundo o presidente, essa taxa chegaria a 20%, funcionando como um imposto alfandegário sobre os produtos estrangeiros.

Segundo o Departamento Federal de Estatísticas da Alemanha, em 2016 o país vendeu 107 bilhões de euros em mercadorias aos Estados Unidos, quase o dobro do que importou desse país. Portanto os tiros de advertência de Washington certamente também são direcionados para Berlim.

Perigo para dependência alemã de exportações

O que os americanos pensam de Merkel?

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Restrições comerciais americanas de fato atingiriam duramente a economia alemã. Afinal, ela é especialmente dependente de exportações: a elas se deveu cerca de 40% do desempenho econômico do país em 2016. E os EUA são o principal mercado externo das empresas alemãs: para lá foram 10% de todas as suas exportações.

"A esperança é que se trate de cenários de ameaça e de uma retórica agressiva, e que no fim as palavras não resultem em ação", explica Jürgen Matthes, do instituto de pesquisas econômicas IW. Contudo, depois de tudo o que já aconteceu desde a posse de Trump, o especialista não está seguro de que essa esperança vá se cumprir.

No pior dos casos, até 1,6 milhão de postos de trabalho estão em perigo na Alemanha, como escreveu recentemente Clemens Fuest, presidente do instituto de pesquisas econômicas Ifo, em artigo para o jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung. No entanto, aqui é importante considerar que 600 mil desses empregos são de empresas americanas na Alemanha. Portanto, tal punição resultaria também em danos à própria economia americana.

Maior fábrica da BMW não se localiza na Alemanha, mas em Spartanburg, Carolina do Sul Foto: picture-alliance/dpa

Faca de dois gumes

No geral, os planos de Trump são uma faca de dois gumes. As cadeias de produção de diferentes empresas já não mais atravessam apenas um país, e os EUA dependem de produtos primários originários de outras nações. Se as importações destas forem taxadas, toda a produção, e consequentemente também os produtos finais, ficarão mais caros.

"Pode ser que, com uma política dessas, o tiro acabe saindo pela culatra para Trump, pois ele também coloca em perigo postos de trabalho nos EUA", confirma André Wolf, do instituto de pesquisas econômicas HWWI, de Hamburgo.

Matthes igualmente vê de modo altamente crítico os planos do presidente americano. "Os consumidores e todas as empresas dos EUA que dependem de importações certamente sofrerão com os custos mais altos. Um país acaba por se prejudicar a si mesmo ao impor restrições comerciais dessa ordem de grandeza – essa é a opinião da maioria dos economistas."

Mercado de trabalho americano sofrerá

A opinião majoritária dos economistas, contudo, parece não importar muito a Trump, que investiu em especial contra as montadoras alemãs com suas ameaças aduaneiras. Numa entrevista ao tabloide alemão Bild, por exemplo, ele pontuou que a BMW passaria a pagar 35% a mais sobre cada carro exportado.

Tais anúncios bombásticos possivelmente deixam nervosos outros fabricantes de automóveis alemães, já que os EUA são o segundo maior destino de exportações para o setor, segundo dados da Associação Alemã da Indústria Automotiva (VDA). Quase 15% de todos os carros vendidos pela Alemanha se destinam ao outro lado do Atlântico. Só o Reino Unido importa mais.

No entanto, esse protecionismo da própria indústria automobilística pode prejudicar seriamente os americanos, como mostra o estudo recente de empresa de consultoria empresarial Roland Berger. "Mesmo os fabricantes americanos teriam perdas tão grandes em seu importante mercado doméstico que, do ponto de vista global, acabariam escorregando para a zona do prejuízo", aponta Wolfgang Bernhart, sócio da consultora sediada em Munique. A consequência seria a perda de vagas de trabalho nos EUA.

Angela Merkel e Donald Trump se encontrarão pela primeira vez em WashingtonFoto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler/R. Sachs

Revide ou acomodação?

Está claro: as economias nacionais estão tão intimamente entrelaçadas que uma separação é inevitavelmente dolorosa para ambos os lados. Contudo, caso Trump ainda assim parta para a ação, colocando numa situação difícil a Alemanha e a União Europeia, cujos Estados-membros partilham de uma política comercial conjunta: será o caso de revidar ou de se acomodar?

"Erguer barreiras comerciais contra os EUA prejudicaria os negócios e, portanto, a própria UE", avalia Matthes. Mas não reagir é igualmente questionável do ponto de vista estratégico. "É realmente um dilema considerável", concorda o especialista do IW.

Entretanto, antes que isso aconteça, seria preciso Trump partir para a ofensiva. Até o momento seus anúncios protecionistas não passam de palavras vazias. Talvez no encontro com a chanceler federal alemã, Angela Merkel, em Washington, nesta terça-feira (14/03), fique claro até que ponto o presidente dos EUA está realmente falando sério.

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