Protesto contra "Charlie" deixa feridos no Afeganistão
31 de janeiro de 2015
Cerca de 500 manifestantes entoaram gritos de "morte à França" em Cabul. Ativistas entraram em confronto com forças de segurança. Testemunhas relataram sobre mortes, mas polícia não confirmou informação.
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Manifestantes enfurecidos entoaram palavras como "morte à França" e "morte aos infiéis" em Cabul neste sábado (31/01), levando medo a estrangeiros que vivem próximos ao local.
Segundo a polícia da capital afegã, cerca de 500 pessoas aderiram ao protesto contra a publicação de uma caricatura de Maomé na última edição da revista francesa Charlie Hebdo. Ativistas atiraram pedras contra forças de segurança e queimaram pneus. Há ainda casos de manifestantes que abriram fogo contra a polícia.
De acordo com o chefe de polícia de Cabul, Rahman Rahimi, sete manifestantes ficaram feridos durante o protesto e foram levados para um hospital, e 17 policiais foram atingidos durante os confrontos.
Uma testemunha afirmou à agência de notícias Reuters que um manifestante havia sido atingido por um "tiro na cabeça" e disse ter visto mais um corpo em um carro. Policiais afegãos negam que houve mortos. Rahimi, no entanto, admitiu a existência de "irresponsáveis armados" entre os manifestantes, e que duas pessoas teriam sido atingidas por balas. Moradores e comerciantes da região reclamaram que muitos usaram o pretexto do protesto para saquear prédios.
Vários protestos foram desencadeados em países árabes desde a última edição da Charlie Hebdo. A edição especial foi lançada dias após um atentado à redação da revista, matando sete dos 12 funcionários que trabalhavam no veículo, no início de janeiro.
Pelo menos 20 mil pessoas tomaram as ruas da cidade de Herat, no oeste do Afeganistão, na semana passada para protestar contra a revista.
MSB/rtr/afp/dpa
O jornal satírico "Charlie Hebdo"
Semanário é conhecido por suas caricaturas e matérias sobre política, economia e sociedade. Humor mordaz se volta principalmente contra políticos e o papa, além do profeta Maomé.
Jornalismo com humor
A capa da atual edição é dedicada ao mais recente romance de Michel Houellebecq, "Soumission" (Submissão). O livro retrata a França no futuro como um país islamizado, sob o governo de um presidente muçulmano.
Foto: B. Guay/AFP/Getty Images
Controversa "biografia de Maomé"
Em janeiro de 2013, o semanário provocou polêmica internacional e despertou a ira da comunidade islâmica com o lançamento de uma edição especial que contava a história do profeta islâmico em quadrinhos de forma satírica.
Foto: Miguel Medina/AFP/Getty Images
Críticas ácidas
Em novembro de 2012, o jornal fez uma caricatura em relação aos debates na França sobre o casamento entre homossexuais. Com um desenho em alusão ao arcebispo de Paris, André Vingt-Trois, o jornal titulou "Arcebispo Vingt-Trois tem três pais".
Foto: Francois Guillot/AFP/Getty Images
Direito à liberdade de expressão
"Não se trata de provocação", disse Gérard Biard, editor do "Charlie Hebdo", em entrevista à DW em setembro de 2012, sobre os desenhos de Maomé publicados pelo semanário. Segundo ele, a publicação exerce o direito da liberdade de expressão ao publicar caricaturas do profeta, não sendo responsável por eventuais reações violentas.
Foto: imago/PanoramiC
Wolinski está entre os mortos
Entre os mortos estão o diretor de redação da publicação, Stephane Charbonnier, conhecido como Charb, e o cartunista Georges Wolinski (foto), considerado o maior nome do quadrinho francês. Ele, que nasceu na Tunísia, foi para a França com 13 anos. Na década de 1960, começou sua carreira ao fazer desenhos para o jornal satírico "Hara-Kiri".
Foto: picture-alliance/dpa
Cabu fundou o jornal "Hara-Kiri"
O cartunista Jean Cabut, conhecido como Cabu, foi outra vítima do atentado na redação do semanário. Ele era bastante popular na França e também trabalhou na televisão. Na década de 1960, ele também foi um dos fundadores do jornal satírico "Hara-Kiri".
Foto: picture-alliance/dpa
Duras críticas após charges de Maomé
O diretor do jornal, Stephane Charbonnier, mais conhecido como Charb, defendeu a liberdade de expressão após as publicações polêmicas com as charges de Maomé. Ele ficou famoso por causa da repercussão do semanário Charlie Hebdo.
Foto: picture-alliance/dpa/EPA/Y. Valat
Críticas às religiões e figuras internacionais
O semanário é conhecido por criticar religiões, o presidente da França e figuras políticas internacionais. Na capa, o jornal estampa uma caricatura de Bin Laden com o título "Bin Laden ameaça a França" e um personagem falando "Mais um policial disfarçado".
Crítica ácida às religiões
Em suas edições semanais, o jornal critica não só a religião islâmica, mas também católicos e judeus. Várias capas da publicação já publicaram caricaturas sobre o pedofilismo na Igreja Católica. Nesta capa, que ficou famosa, um judeu ortodoxo empurra um muçulmano numa cadeira de rodas, numa alusão ao filme "Os intocáveis".