Agronegócios
4 de junho de 2008Após o fracasso das negociações com a indústria de laticínios, os protestos iniciados na semana passada pelos produtores alemães de leite estenderam-se às redes de supermercados. Nesta quarta-feira (4/06), foram realizadas manifestações diante das centrais dos supermercados Aldi, Rewe e Norma.
O leite produzido continua sendo dado a bezerros ou jogado no campo. A imprensa adverte que poderá faltar leite nos supermercados nos próximos dias. Os agricultores alemães receberam a solidariedade dos produtores da França, Áustria e República Tcheca, que ganham ainda menos do que os alemães.
O poder da indústria e dos supermercados
Para o produtor Friedrich-Wilhelm Tecklenburg, por exempo, é injustificável que "um litro de água mineral tenha mais valor do que um litro de leite". Os produtores exigem pelo menos 43 cents de euro por litro. Este seria o preço justo para garantir a sobrevivência da categoria, em vista do recente aumento dos preços da energia e da ração.
Cálculos do Instituto Max Rubner de Qualidade do Leite, em Kiel, apontaram que o consumidor paga em média 60 cents de euro pelo litro de leite na Alemanha. Destes, entre 27 e 34 cents são pagos ao produtor e o restante vai para a indústria de laticínios e os supermercados.
Na disputa pelo preço do produto, as poucas cadeias de supermercados que controlam o mercado alemão e as fábricas de laticínios fazem acusações recíprocas. Roland Wöller, secretário da Agricultura da Saxônia, vê uma maneira de acabar com este conflito: "Há muitos produtores e fábricas de laticínios para poucas redes de supermercados. Este problema pode ser resolvido se os agricultores e a indústria se unirem para defender os próprios interesses".
Sobe-e-desce de preços
Um ano atrás, a crise na Ásia havia impulsionado os preços do produto na Europa. A demanda havia aumentado devido à seca nos tradicionais produtores Nova Zelândia e Austrália, mas a Europa não pôde produzir mais devido ao sistema de cotas, imposto pela União Européia desde 1984.
Resultado: o preço explodiu, para alegria do produtor. As associações de defesa do consumidor, no entanto, acusaram o aumento de "exploração" e foram às barricadas. A queixa chegou aos ouvidos dos ministros da Agricultura dos países da UE, que em abril último afrouxaram o sistema de cotas.
Em pouco tempo, as cadeias de supermercados baixaram significativamente os preços de leite, queijo e manteiga e impuseram preços mais baixos aos produtores, causando protestos não só na Alemanha, mas também na França, Bélgica e Áustria.
Pavel Vavra, perito em laticínios da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), vê um contra-senso nos protestos: "Estou surpreso, pois justamente agora, num momento em que os preços atingiram recordes históricos e todos falam da necessidade de baixá-los, acontece uma rebelião dos que acham que o preço do leite está muito baixo", disse Vavra.