Centenas de pessoas se reúnem em manifestações contra o presidente turco em Colônia, onde ele inaugura uma mesquita. Protestos também são registrados em Berlim, na turnê de três dias do político no país.
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Centenas se reuniram neste sábado (29/09) em Colônia para protestar contra a visita do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que tem agendada a inauguração de uma mesquita na cidade alemã, situada no oeste da Alemanha.
Duas grandes manifestações foram anunciadas contra a visita de Erdogan, acusado por críticos de autoritarismo e por prender milhares de oposicionistas. Mesmo antes da chegada do presidente turco, cerca de 1.500 pessoas se reuniram no bairro de Deutz, levando faixas e cartazes com inscrições como: "Parem a ditadura de Erdogan".
Por razões de segurança, foi proibido um evento para cerca de 25 mil pessoas, planejado para acontecer em frente ao templo muçulmano.
Milhares também se manifestaram contra Erdogan, na noite de sexta-feira em Berlim.
Tensões
O presidente turco realiza desde quinta-feira uma visita de três dias, destinada a reduzir as tensões entre os dois países. Antes de embarcar para Colônia, Erdogan tomou café da manhã com a chanceler federal alemã, Angela Merkel. O encontro em Berlim foi o segundo entre os dois líderes desde a chegada de Erdogan. Na reunião, de cerca de duas horas e meia, os dois políticos "aprofundaram as conversas sobre o relacionamento bilateral, a situação de interna da Turquia e os interesses comuns na luta contra o terrorismo”, segundo destacou um porta-voz do governo alemão.
Um tema importante do encontro foi também as "possibilidades para continuar o fortalecimento dos laços econômicos”. Assuntos como a situação na Síria e a cooperação no campo da política de migração e para refugiados também estiveram na pauta.
A Alemanha e a Turquia entraram em confronto sobre vários assuntos nos últimos anos, incluindo a prisão de jornalistas alemães pela Turquia.
Erdogan chegou a chamar os principais partidos da Alemanha de "inimigos da Turquia" e acusou as autoridades alemãs de agirem como nazistas, levando Merkel a condenar seus comentários.
"Profundas diferenças"
Durante encontro em Berlim na sexta-feira, Merkel e Erdogan expressaram posições conflitantes em relação a temas como direitos humanos e liberdade de imprensa.
Erdogan exigiu que a Alemanha extradite o jornalista turco Can Dündar, que vive há dois anos no país, e confirmou um pedido de extradição feito dias antes. O líder turco classificou Dündar de "agente que revelou segredos de Estado" e disse que, por isso, foi condenado a cinco anos e dez meses de prisão pela Justiça turca.
O presidente turco também pediu a extradição de apoiadores do clérigo Fetullah Gülen que vivem na Alemanha. O movimento é responsabilizado por Erdogan pelo golpe de Estado fracassado de 2016.
A líder alemã, por sua vez, exigiu uma solução rápida para os casos dos cidadãos alemães que estão detidos na Turquia, muitos deles sob acusação de pertencerem a organizações terroristas. Ela disse estar satisfeita por alguns casos terem sido solucionados e que vai continuar se empenhando pela libertação dos demais.
Segundo o Ministério alemão do Exterior, há cinco alemães detidos por motivações políticas na Turquia, sob vagas acusações de pertenceram a organizações terroristas.
Merkel disse haver profundas diferenças entre os dois governos, mas destacou que também há interesses comuns, incluindo a parceria no âmbito da Otan, questões migratórias e o combate ao terrorismo. Ela disse que uma reunião de cúpula sobre a Síria está sendo preparada e deve incluir, além de ela e Erdogan, os presidentes da França e da Rússia.
MD/afp/dpa/efe
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Desde o golpe militar fracassado contra o presidente Erdogan, em julho de 2016, relações entre Ancara e Berlim têm se deteriorado constantemente. Mas o processo já começara antes, e não há fim à vista.
Foto: picture-alliance/POP-EYE/B. Kriemann
Caso Böhmermann
31 de março de 2016: O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, apresenta queixa contra o humorista alemão Jan Böhmermann por seu "poema difamatório" a respeito dele, envolvendo bestialidade, entre outras acusações. Em 4 de outubro, os promotores encerraram o caso, mas um conflito diplomático entre Ancara e Berlim estava desencadeado.
2 de junho de 2016: Parlamento alemão aprova quase unanimemente resolução classificando como genocídio o massacre de centenas de milhares de armênios pelo Império Otomano, em 1915. Ancara retira seu embaixador de Berlim, a comunidade turca promove protestos em várias cidades alemãs. Segundo a Turquia, o número de mortes seria exagerado, e também havia muçulmanos turcos entre as vítimas.
Foto: Getty Images/AFP/S. Gallup
Tensões após golpe fracassado
15 de julho de 2016: Uma facção das Forças Armadas turcas tenta derrubar o presidente turco, mas fracassa. Ancara acusa Berlim de não se posicionar contra a tentativa de putsch nem fazer algo contra a organização do pregador exilado Fethullah Gülen, acusado por Erdogan de orquestrar o golpe militar.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Suna
Alemanha critica purgação pós-golpe
Logo em seguida à tentativa de golpe, as autoridades turcas fizeram uma devassa no Exército e no Judiciário, detendo milhares de pessoas. Logo em seguida, a purgação foi expandida, incluindo funcionários públicos civis, diretores e professores universitários. Políticos alemães criticaram as detenções. Diplomatas, acadêmicos e militares turcos fugiram do país e pediram asilo na Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Suna
Manifestações curdas em Colônia
A devassa de Erdogan pós-golpe foi também condenada por ativistas curdos em manifestações na cidade de Colônia, no oeste alemão. Em muitas delas se exigia a libertação de Abdullah Öcalan, líder encarcerado do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). Ancara Turquia acusa Berlim de não fazer esforços suficientes para sustar as atividades do grupo. que classifica de terrorista.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Meissner
Prisões de cidadãos alemães na Turquia
14 de fevereiro de 2017: Deniz Yücel, correspondente do jornal "Die Welt", é colocado sob custódia policial na Turquia. Outros cidadãos alemães, como a jornalista Mesale Tolu e o ativista de direitos humanos Peter Steudtner, são detidos pelo que Berlim define como "razões políticas". Todos os três foram acusados pelas autoridades turcas de apoiar organizações terroristas.
Março de 2017: Municipalidades alemãs proíbem ministros turcos de realizarem comícios a favor do referendo de abril na Turquia, para ampliar os poderes presidenciais de Erdogan. Este acusa a Alemanha de empregar "táticas nazistas" contra cidadãos turcos em seu território e deputados turcos em visita. Dirigentes alemães condenam severamente o líder turco, acusando-o de ter ido longe demais.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Berg
Espionagem
30 de março de 2017: A Alemanha acusa a Turquia de espionar centenas de adeptos de Gülen, assim como mais de 200 associações e escolas ligadas ao movimento do pregador na Alemanha. Paralelamente, requerentes de asilo turcos acusam o departamento de imigração BAMF de repassar as informações deles para veículos de imprensa ligados ao governo turco.
Foto: Imago/Chromeorange/M. Schroeder
Erdogan insta turco-alemães a não votarem em "inimigos"
18 de agosto de 2017: O presidente chama três dos principais partidos políticos da Alemanha de inimigos da Turquia e insta os alemães de origem turca a não votarem neles na eleição geral de setembro. Seus alvos são a União Democrata Cristã (CDU), da chanceler federal Angela Merkel, o Partido Social-Democrata (SPD) e o Partido Verde. A chefe de governo acusa Erdogan de se imiscuir na eleição.
Foto: picture-alliance/abaca/AA/M. Ali Ozcan
Merkel contra Turquia na UE
4 de setembro de 2017: A chanceler federal alemã, Angela Merkel, afirma, durante debate eleitoral, ser contra a Turquia se tornar membro da União Europeia e promete conversar com outros líderes da UE sobre o fim das negociações com Ancara nesse sentido. Em outubro, ela apoia a iniciativa de cortar os fundos pré-filiação da Turquia.
Foto: Reuters/F. Bensch
Ofensiva militar turca em Afrin
20 de janeiro de 2018: Forças Armadas turcas e seus aliados rebeldes sírios lançam a Operação Ramo de Oliveira contra o enclave curdo de Afrin, no norte da Síria. A ofensiva é criticada por políticos alemães e desencadeia protestos de comunidades curdas na Alemanha.
Foto: Getty Images/AFP/O. Kose
Deniz Yücel é libertado da prisão
16 de fevereiro de 2018: A Turquia liberta o jornalista turco-alemão Deniz Yücel, depois de mantê-lo preso por mais de um ano sem acusações formais. Segunda a mídia estatal turca, o turco-alemão foi libertado da detenção pré-julgamento sob fiança. A promotoria exige para ele pena de 18 anos de prisão, por "propaganda terrorista" e incitação popular.