Protestos contra Bolsonaro no Brasil e no exterior
29 de maio de 2021
Passeatas acontecem em várias capitais. Atos são registrados em todas as regiões do país. PM atira balas de borracha e gás lacrimogêneo em manifestantes no Recife.
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Cidades de todas as regiões brasileiras registraram neste sábado (29/05) protestos contra o presidente Jair Bolsonaro e a favor de causas como a aceleração do ritmo da vacinação, defesa do auxílio emergencial e valorização da educação e da saúde no país. Até o final da manhã, manifestações ocorriam em 13 capitais e no Distrito Federal.
Também houve atos no exterior, em capitais europeias como Berlim, Londres, Paris, Lisboa e Bruxelas.
As manifestações foram convocadas por grupos de esquerda, como a Frente Brasil Popular, Frente Povo sem Medo e o Povo na Rua. Os organizadores anunciaram que atos respeitariam o distanciamento e medidas sanitárias para evitar disseminação da covid-19.
No Recife, membros da Polícia Militar atiraram balas de borracha e gás lacrimogênio contra os ativistas.
Os manifestantes se reuniram na Praça do Derby, no centro da capital pernambucana, e seguiram em direção à Avenida Conde da Boa Vista. Por volta das 11h30, a manifestação chegou à Ponte Duarte Coelho, onde a Polícia Militar começou a dispersar os manifestantes.
Agressão a vereadora
Bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha foram atiradas contra os ativistas. Vídeos mostram pessoas correndo após a chegada dos PMs e as bombas de gás sendo jogadas.
A vereadora do Recife Liana Cirne (PT), que participava do ato, divulgou nas redes sociais um vídeo que seria do momento em que foi atingida por spray de pimenta disparado por policiais.
O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), disse em vídeo que repudia "todo ato de violência de qualquer ordem ou origem" e que determinou "a imediata apuração de responsabilidades", além do afastamento do comandante da operação e dos envolvidos na agressão à vereadora, enquanto durarem as investigações.
Em Belo Horizonte, por volta das 9h, os manifestantes se concentraram na Praça da Liberdade e uma hora depois cerca de 5 mil pessoas, de acordo com a PM, caminharam em direção à Praça Sete. Conforme informações do portal UOL, o distanciamento social não foi respeitado.
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São Paulo
Na capital paulista, os manifestantes bloquearam os dois sentidos da Avenida Paulista, do Masp até a Rua Augusta. Apesar da distribuição de máscaras e orientações para distanciamento social por parte dos organizadores, foram registradas aglomerações.
As organizações estudantis UNE, UBES e UJS e a frente Povo Sem Medo levaram carros de som. Também havia representantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e partidos de esquerda, como PT, PCB, PSOL, PC do B e PCB.
Rio e Salvador
No Rio de Janeiro, duas pistas da avenida Presidente Vargas, no centro da cidade, foram bloqueadas para o ato, que reuniu milhares de manifestantes. A concentração inicial foi na estátua do Zumbi de Palmares, na Praça Mauá. De lá, a passeata seguiu em direção à Candelária.
Entre gritos de ordem contra o governo Bolsonaro, críticas à política de imunização contra a covid-19 e exigências de vacinas, os manifestantes entraram pela Avenida Passos, passaram pela Praça Tiradentes e Rua da Carioca, voltando a se concentrar no Largo da Carioca. Depois, a marcha seguiu pela Avenida Rio Branco, indo até a Cinelândia.
Quase todos os manifestantes utilizaram máscaras. Também era possível ver pessoas usando e compartilhando álcool em gel. No entanto, a distância de segurança necessária à prevenção do coronavírus não foi respeitada, e ocorreram aglomerações, de acordo com o portal G1.
Em Salvador, a manifestação reuniu centenas no Largo de Campo Grande. Alguns usaram guarda-chuvas com sílabas da palavra genocida. Uma grande faixa puxa a caminhada com os dizeres: "vida, pão, vacina e educação". O corte de verba das universidades federais este ano também foi lembrado pelos manifestantes.
Capitais europeias e destaque na imprensa
Em Berlim, grupos se reuniram em frente à embaixada do Brasil e diante do Portão de Brandemburgo. Em Paris, o protesto ocorreu na Praça de la République. Em Londres, ativistas promoveram ato na Russell Square.
Os protestos também repercutiram na imprensa estrangeira, tendo sido destaque na versão online do jornal britânico The Guardian. "Dezenas de milhares de brasileiros marcham para reivindicar o impeachment de Bolsonaro, foi a manchete principal do site neste sábado. O artigo ressalta que os protestos foram motivados pela "resposta catastrófica à pandemia" do governo e que foram realizados "em mais de 200 cidades, configurando "a maior mobilização anti-Bolsonaro desde o início do surto de covid no Brasil".
md (ots)
Vírus verbal: frases de Bolsonaro sobre a pandemia
"E daí?", "gripezinha", "não sou coveiro", "país de maricas": desde que o coronavírus chegou ao Brasil, presidente tratou publicamente com desdenho a crise. Enquanto a epidemia avança, suas falas causam ultraje.
Foto: Andre Borges/dpa/picture-alliance
"Superdimensionado"
Em 9 de março, em evento durante visita aos EUA, Bolsonaro disse que o "poder destruidor" do coronavírus estava sendo "superdimensionado". Até então, a epidemia havia matado mais de 3 mil pessoas no mundo. Após o retorno ao Brasil, mais de 20 membros de sua comitiva testaram positivo para covid-19.
Foto: Reuters/T. Brenner
"Europa vai ser mais atingida que nós"
A declaração foi dada em 15 de março. Precisamente, ele afirmou: "A população da Europa é mais velha do que a nossa. Então mais gente vai ser atingida pelo vírus do que nós." Segundo a OMS, grupos de risco, como idosos, têm a mesma chance de contrair a doença que jovens. A diferença está na gravidade dos sintomas. O Brasil é hoje o segundo país mais atingido pela pandemia.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/GDA/O Globo
"Gripezinha" e "histórico de atleta"
Ao menos duas vezes, Bolsonaro se referiu à covid-19 como "gripezinha". Na primeira, em 24 de março, em pronunciamento em rede nacional, ele afirmou, que, por ter "histórico de atleta", "nada sentiria" se contraísse o novo coronavírus ou teria no máximo uma “gripezinha ou resfriadinho”. Dias depois, disse: "Para 90% da população, é gripezinha ou nada."
Foto: Youtube/TV BrasilGov
"Todos nós vamos morrer um dia"
Após visitar o comércio em Brasília, contrariando recomendações deu seu próprio Ministério da Saúde e da OMS, Bolsonaro disse, em 29 de março, que era necessário enfrentar o vírus "como homem". "O emprego é essencial, essa é a realidade. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Todos nós vamos morrer um dia."
Foto: Reuters/A. Machado
"A hidroxicloroquina tá dando certo"
Repetidamente, Bolsonaro defendeu a cloroquina para o tratamento de covid-19. Em 26 de março, quando disse que o medicamento para malária "está dando certo", já não havia qualquer embasamento científico para defender a substância. Em junho, a OMS interrompeu testes com a hidroxicloroquina, após evidências apontarem que o fármaco não reduz a mortalidade em pacientes internados com a doença.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/F. Taxeira
"Vírus está indo embora"
Em 10 de abril, o Brasil ultrapassou a marca de mil mortos por coronavírus. No mundo, já eram 100 mil óbitos. Dois dias depois, Bolsonaro afirmou que "parece que está começando a ir embora essa questão do vírus". O Brasil se tornaria, meses depois, um epicentro global da pandemia, com dezenas de milhares de mortos.
Foto: Reuters/A. Machado
"Eu não sou coveiro"
Assim o presidente reagiu, em frente ao Planalto, quando um jornalista formulava uma pergunta sobre os números da covid-19 no Brasil, que já registrava mais de 2 mil mortes e 40 mil casos. “Ô, ô, ô, cara. Quem fala de... eu não sou coveiro, tá?”, afirmou Bolsonaro em 20 de abril.
Foto: picture-alliance/AP Images/A. Borges
"E daí?"
Foi uma das declarações do presidente que mais causaram ultraje. Com mais de 5 mil mortes, o Brasil havia acabado de passar a China em número de óbitos. Era 28 de abril, e o presidente estava sendo novamente indagado sobre os números do vírus. “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre...”
Foto: Getty Images/A. Anholete
"Vou fazer um churrasco"
Em 7 de maio, o Brasil já contava mais de 140 mil infectados e 9 mil mortes. Metrópoles como Rio e São Paulo estavam em quarentena. O presidente, então, anunciou que faria uma festinha. "Estou cometendo um crime. Vou fazer um churrasco no sábado aqui em casa. Vamos bater um papo, quem sabe uma peladinha...". Dias depois, voltou atrás, dizendo que a notícia era "fake".
Foto: Reuters/A. Machado
"Tem medo do quê? Enfrenta!"
Em julho, o presidente anunciou que estava com covid-19. Disse que estava "curado" 19 dias depois. Fora do isolamento, passou a viajar. Ao longo da pandemia, ele já havia visitado o comércio e participado de atos pró-governo. Em Bagé (RS), em 31 de julho, sugeriu que a disseminação do vírus é inevitável. "Infelizmente, acho que quase todos vocês vão pegar um dia. Tem medo do quê? Enfrenta!”
Foto: Reuters/A. Machado
"País de maricas"
Em 10 de novembro, ao celebrar como vitória política a suspensão dos estudos, pelo Instituto Butantan, da vacina do laboratório chinês Sinovac após a morte de um voluntário da vacina, Bolsonaro afirmou que o Brasil deveria "deixar de ser um país de maricas" por causa da pandemia. "Mais uma que Bolsonaro ganha", comentou.
Foto: Andre Borges/NurPhoto/picture alliance
"Chega de frescura, de mimimi"
Em 4 de março de 2021, após o país registrar um novo recorde na contagem diária de mortes diárias por covid-19, Bolsonaro afirmou que era preciso parar de "frescura" e "mimimi" em meio à pandemia, e perguntou até quando as pessoas "vão ficar chorando". Ele ainda chamou de "idiotas" as pessoas que vêm pedindo que o governo seja mais ágil na compra de vacinas.