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Protestos contra filme sobre Maomé se alastram por países muçulmanos

13 de setembro de 2012

Embaixadas dos Estados Unidos no Iêmen e no Egito são atacadas por manifestantes, que protestam contra um filme que ridiculariza o profeta Maomé. Onda de revoltas causou a morte de embaixador americano na Líbia.

Foto: AP

Os protestos no mundo árabe contra um vídeo norte-americano que ridiculariza o profeta Maomé estão se ampliando. No Iêmen, centenas de manifestantes atacaram nesta quinta-feira (13/09) a embaixada dos EUA na capital do país, Sanaa [foto principal], causando a morte de uma pessoa e ferindo pelo menos cinco. Na capital egípcia, Cairo, também ocorreram novos protestos, que começaram já na noite de quarta-feira. Também no Irã, no Iraque, na Tunísia e na Faixa de Gaza foram registradas manifestações.

Os protestos começaram na terça-feira passada, aniversário dos ataques de 11 de setembro de 2001, quando o embaixador norte-americano, Christopher Stevens, e três outros diplomatas foram mortos num ataque contra o consulado dos EUA na cidade líbia de Bengasi. No Cairo, radicais islâmicos escreveram o nome do líder morto da Al Qaeda, Osama Bin Laden, no muro da embaixada e rasgaram a bandeira dos EUA.

O estopim para os tumultos foi a divulgação na internet de um filme ridicularizando o profeta Maomé, que é representado como um vigarista mulherengo que abusa de crianças. Diretor, roteirista e produtor do filme é, segundo o Wall Street Journal, um cidadão dos EUA que também tem cidadania israelense.

Carros foram incendiados nas proximidades da embaixada dos EUA no CairoFoto: Reuters

Revolta continua

Na manhã desta quinta, manifestantes invadiram o terreno da embaixada norte-americana no Iêmen, quebrando janelas e incendiando carros, segundo testemunhas. Outros levantavam cartazes com a frase "Deus é grande". Em novo tumulto, no início da tarde, as forças de segurança conseguiram evitar uma nova invasão da área da embaixada, mas um homem foi morto a tiros pelos seguranças, segundo a polícia, e pelo menos cinco pessoas ficaram feridas.

O Cairo voltou a ser palco de confrontos nesta quinta-feira. Forças de segurança dispararam bombas de gás lacrimogêneo nas proximidades da embaixada dos EUA, enquanto manifestantes responderam com pedras. A emissora de televisão local mostrou imagens de centenas de pessoas diante do edifício da representação diplomática dos EUA. Treze pessoas teriam ficado feridas, segundo uma agência de notícias estatal.

Em Teerã, cerca de 500 pessoas participaram de um protesto perto da embaixada da Suíça, que representa os interesses norte-americanos no Irã. Os manifestantes, convocados por uma associação de estudantes radicais, exibiram exemplares do Alcorão e cartazes com a fotografia do guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, e gritaram "morte à América" e "morte a Israel". Cerca de 200 policiais e bombeiros impediram os manifestantes de se aproximar da embaixada, cujos funcionários foram retirados do local por precaução.

Em Túnis, centenas de radicais islâmicos protestaram diante da embaixada dos EUA. A polícia avançou sobre eles com gás lacrimogêneo. Também foram registrados protestos na cidade iraquiana de Najaf.

O presidente dos EUA, Barack Obama, reivindicou uma punição rápida dos responsáveis pelo ataque de Bengasi. Numa conversa por telefone com o presidente da Assembleia Nacional da Líbia, Mohammed Magarief, ele concordou em estreitar a cooperação nas investigações sobre o ocorrido. Obama deixou claro que todos os esforços devem ser feitos para identificar e punir os responsáveis pelo ataque.

Um trecho de 14 minutos do filme que despertou a ira dos manifestantes está disponível no site YouTube, de propriedade do Google. A empresa retirou o trailer no Egito e na Líbia, devido aos aconetcimentos, mas manteve o vídeo acessível em outros países. A empresa afirma que não pretende retirar o vídeo do ar, argumentando que a obra não fere suas diretrizes.

Condenação da violência

A tradição islâmica proíbe qualquer representação de Deus ou do profeta Maomé. Essa é uma das razões pelas quais o filme provoca a ira de um grande número de muçulmanos.

Para o cientista político e escritor Hamed Abdel-Samad, que também é membro da Conferência Islâmica Alemã, há também uma outra razão para os protestos. "Não é somente o insulto ao profeta em si. Um agravante é de onde parte esse insulto", avalia Abdel-Samad, em entrevista à Deutsche Welle. "Se alguém lesse no jornal que o profeta foi insultado na China ou no Japão, a raiva das pessoas não seria tão forte como neste caso, porque o filme vem dos Estados Unidos."

Trechos do filme estão na internet desde julho, de acordo com o Wall Street Journal. Mas ele só começou a chamar a atenção depois de que o pastor Terry Jones, conhecido como um militante anti-islâmico, começou a divulgar o filme. A queima do Alcorão na igreja de Jones, na Flórida, em março do ano passado, provocou protestos violentos de muçulmanos. Na época, sete funcionários da ONU foram mortos no Afeganistão.

Após a recente onda de violência em Bengasi e no Cairo, especialistas em terrorismo alertam para o perigo de mais protestos, sobretudo em países que abrigam grupos de militantes rebeldes islâmicos.

Berlim condenou severamente os ataques às representações norte-americanas na Líbia e no Egito. "Este tipo de violência contra instalações diplomáticas não pode nem deve ser jamais um meio de discussão e de ação política", criticou o porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert.

MD/dw/rtr/lusa/afp
Revisão: Alexandre Schossler

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