Protestos contra o governo se intensificam nas ruas da Venezuela
16 de fevereiro de 2014Milhares de partidários do presidente Nicolás Maduro saíram às ruas do centro de Caracas para manifestar apoio ao governo neste sábado (15/02). Ao mesmo tempo, uma manifestação contra o regime reuniu cerca de 3 mil opositores, a maioria estudantes universitários, no município de Chacao, região metropolitana da capital. O protesto foi reprimido com violência pela polícia quando os manifestantes tentaram bloquear uma avenida.
Ao menos 23 pessoas ficaram feridas quando as tropas de choque usaram bombas de gás lacrimogêneo e canhões de água, na tentativa de dispersar a manifestação. A informação foi divulgada pelo prefeito de Chacao, Ramon Muchacho, na rede social Twitter.
Os manifestantes exigem a libertação de mais de cem estudantes e ativistas da oposição, além do fim da repressão policial. Choques violentos entre opositores e forças do governo, na última quarta-feira, deixaram três mortos e centenas de feridos.
Protestos vêm ocorrendo com frequência cada vez maior na Venezuela, como reflexo do descontentamento de parte da população com o aumento da criminalidade, com os altos índices da inflação e da falta de produtos básicos, como papel higiênico, num país que possui uma das maiores reservas de petróleo do mundo.
Inimigos de Maduro
Maduro afirma que enfrenta uma tentativa de golpe de Estado orquestrada pelos líderes da oposição, os quais ele responsabiliza pelos enfrentamentos violentos dos últimos dias.
Em pronunciamento a milhares de apoiadores no centro de Caracas, ainda acusou o ex-presidente da Colômbia Álvaro Uribe – considerado pelo presidente venezuelano um aliado dos EUA e inimigo da Venezuela – de "financiar e dirigir" o que chamou de "movimentos fascistas", a quem atribuiu a culpa pelos recentes distúrbios.
Em resposta, Uribe anunciou que irá apoiar uma campanha para que milhares de pessoas possam expressar sua "solidariedade com o povo venezuelano" contra a "ditadura sanguinária" que os governa.
O presidente acusa um dos principais líderes da oposição, o economista Leopoldo López, de incitar os protestos com a intenção de realizar um golpe de Estado no país. No entanto, apesar do mandado de prisão contra López, ele continua solto.
Membros de seu partido, o Vontade Popular, asseguram que ele está em sua residência acompanhado de seus advogados. Especula-se que o governo estaria preocupado com uma possível intensificação dos protestos caso o economista seja realmente preso.
"Apagão de informações"
Os recentes protestos contra o governo, apoiados por uma série de grupos de oposição, já são o maior desafio de Maduro desde sua eleição, após a morte de seu antecessor, Hugo Chávez.
Na tentativa de aliviar as tensões no país, o presidente divulgou na última sexta-feira um plano de dez medidas de combate ao crime, que incluem o desarmamento da população, o aumento de patrulhas policiais e ainda "regras claras para a televisão", sem especificar quais seriam.
Os adversários de Maduro criticaram o que chamam de "apagão informativo" quanto aos protestos. A televisão e os jornais praticamente ignoraram os acontecimentos mais violentos no país. Redes de TV correm risco de ter suas transmissões interrompidas caso o governo julgue que algum conteúdo divulgado possa servir como "incentivo à violência".
As autoridades afirmaram que, das 99 pessoas detidas nos violentos protestos da última quarta-feira, apenas 12 ainda não foram liberadas, incluindo um adolescente. As manifestações, marcadas por enfrentamentos entre chavistas e opositores, deixaram um saldo de três mortos e mais de cem feridos.
O Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela divulgou no sábado um comunicado afirmando que já trabalha para "dar início aos processos contra os responsáveis pelos atos violentos incitados pela direita venezuelana".
Graves problemas
Apesar da riqueza do petróleo, a Venezuela enfrenta graves problemas econômicos e um abismo social entre ricos e pobres de grandes proporções. O país luta contra uma inflação de mais de 50%.
As manifestações ocorrem há duas semanas consecutivas, sem perspectivas de fim. Apesar de ocuparem as principais cidades do país, não existem indicações de que os protestos poderiam forçar a renúncia de Maduro.
RC/rtr/afp/dpa