Novos protestos contra a AfD reúnem milhares na Alemanha
28 de janeiro de 2024
No maior ato, em Hamburgo, mais de 60 mil pessoas saíram às ruas, de acordo com a polícia. É o terceiro fim de semana seguido de manifestações no país.
Em Hamburgo, ponto de encontro foi a rua Ludwig-ErhardFoto: Jonas Walzberg/dpa/picture alliance
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Pelo terceiro fim de semana consecutivo, dezenas de milhares de alemães foram às ruas neste domingo (28/01) para protestar contra a ultradireita. No sábado, o paísjá havia sido palco de protestos em pelo menos 30 cidades.No maior deles, em Düsseldorf, capital do estado da Renânia do Norte-Vestfália, a polícia informou que cerca de 100 mil pessoas participaram.
O maior protesto deste domingo ocorreu em Hamburgo, reunindo, segundo a polícia, 60 mil pessoas – os organizadores falam em 100 mil participantes.
Na cidade do norte alemão, os atos foram convocados por uma aliança em torno do movimento Fridays for Future, sob o lema "Pela diversidade e pela nossa democracia - Hamburgo está unido contra a AfD".
O ato contou com a fala da ativista climática Luisa Neubauer. Na semana passada, uma grande manifestação na cidade hanseática foi dispersada pela polícia após reunir muito mais pessoas do que o esperado.
A onda de manifestações ocorre após a revelação de uma reunião realizada em Potsdam com a participação de neonazistas e membros do partido Alternativa para Alemanha (AfD), na qual foi apresentado um plano para a deportação em massa de milhões de imigrantes e "cidadãos não assimilados".
Protesto foi pacífico em HamburgoFoto: dpa/picture alliance
Atos em toda a Alemanha
Além de Hamburgo, o domingo foi de protestos em várias cidades alemãs, como Schleswig, Nortorf e Neumünster, no norte, Boppard, Gerolstein e Ahrweiler, no oeste, e Schongau, Bad Tölz e Ebersberg, no sul. Em Bremerhaven, no norte, os organizadores falaram em mais de 4 mil participantes e de "uma das maiores manifestações contra o fascismo na cidade desde 1945".
No leste, houve protestos em Rangsdorf, Hoyerswerda, Finsterwalde, Demmin e Neustrelitz, entre outras.
De acordo com o Ministério do Interior, no fim de semana passado, mais de 900 mil pessoas em todo o país participaram de manifestações contra a ultradireita. Os números foram baseados em informações policiais.
Por que os alemães estão protestando?
A onda de protestos foi desencadeada por uma reportagem publicada em 10 de janeiro pelo veículo de jornalismo investigativo Correctiv, que revelou que os membros da AfD se reuniram com extremistas de direita em Potsdam em novembro para discutir a expulsão de imigrantes e "cidadãos não assimilados".
Os participantes da reunião discutiram a"remigração", um termo frequentemente usado nos círculos de extrema direita como um eufemismo para a expulsão de imigrantes e minorias.
A notícia da reunião chocou muitos na Alemanha, em um momento em que a AfD está em alta nas pesquisas de opinião. Neste ano haverá três importantes eleições estaduais no leste da Alemanha, onde o apoio do partido é mais forte e a legenda tem chances de eleger seu primeiro governador.
Em um vídeo divulgado neste sábado a respeito do Dia em Memória das Vítimas do Holocausto, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, saudou os protestos que vêm ocorrendo contra a extrema direita e "por democracia, respeito e humanidade".
Ao lembrar a derrota do nazismo, Scholz afirmou: "'Nunca mais' requer que todos nós estejamos vigilantes. Nossa democracia não é dada por Deus. Ela é feita pelos homens."
le (ots)
Os principais partidos alemães
São eles: Partido Social-Democrata (SPD), União Democrata Cristã (CDU), União Social Cristã (CSU), Partido Liberal Democrático (FDP), Alternativa para a Alemanha (AfD), Aliança 90/Os Verdes e A Esquerda.
Foto: picture-alliance/dpa
União Democrata Cristã (CDU)
Fundada em 1945, a CDU se considera "popular de centro". Seus governos predominaram na política alemã do pós-guerra. O partido soma em sua história cinco chanceleres federais, entre eles Helmut Kohl, que governou por 16 anos e conduziu o país à reunificação em 1990, e Angela Merkel, a primeira mulher a assumir o cargo, em 2005.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Dedert
União Social Cristã (CSU)
Igualmente fundada em 1945, a CSU só existe na Baviera, onde a CDU não está organizada. Os dois partidos são considerados irmãos. A CSU tem como objetivo um Estado democrático e com responsabilidade social, fundamentado na visão cristã do mundo e da humanidade. Desde 1949, forma no Bundestag uma bancada única com a CDU.
Foto: Getty Images
Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD)
Integrante da Internacional Socialista, o SPD é uma reconstituição da legenda homônima fundada em 1869 e identificada com o proletariado. Na Primeira Guerra, ele se dividiu em dois partidos, ambos proibidos em 1933 pelo regime nazista. Recriado após a Segunda Guerra, o SPD já elegeu quatro chanceleres federais: Willy Brandt, Helmut Schmidt, Gerhard Schröder e Olaf Scholz.
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Aliança 90 / Os Verdes (Partido Verde)
O partido Os Verdes surgiu em 1980, após três anos participando de eleições como chapa avulsa, defendendo questões ambientais e a paz. Em 1983, conseguiu formar uma bancada no Bundestag. Oito anos depois, o movimento Aliança 90 se fundiu com ele. Em 1998 participou com o SPD pela primeira vez do governo federal.
Foto: REUTERS/T. Schmuelgen
Partido Liberal Democrático (FDP)
O FDP foi criado em 1948, inspirado na tradição do liberalismo e valorizando a "filosofia da liberdade e o movimento pelos direitos individuais". Resgata a herança política de legendas liberais proibidas pelo nazismo.
Foto: picture-alliance/dpa
A Esquerda (Die Linke)
Die Linke surgiu da fusão, em 2007, de duas agremiações esquerdistas: o Partido do Socialismo Democrático (PDS), sucessor do Partido Socialista Unitário (SED) da extinta Alemanha Oriental, e o Alternativa Eleitoral por Trabalho e Justiça Social (WASG, criado em 2005, aglutinando dissidentes do SPD e sindicalistas).
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Alternativa para a Alemanha (AfD)
Fundada em 2013, e atualmente representada no Parlamento Europeu e em legislativos estaduais alemães, a AfD se alinha com outros partidos populistas de direita europeus, como FPÖ, FN ou Ukip. Só em 2016 ela definiu seu programa partidário, que oscila entre visões reacionárias, conservadoras, liberais e libertárias.
Foto: Reuters/W. Rattay
Os pequenos
Há numerosos partidos menores na Alemanha, como Os Republicanos (REP) e o Partido Nacional-Democrata da Alemanha (NPD), ambos de extrema direita, ou o Partido Marxista-Leninista (MLPD), de extrema esquerda. Outros defendem causas específicas, como o Partido dos Aposentados, o das mulheres, dos não eleitores, ou de proteção dos animais. E mesmo o Violeta, que reivindica uma política espiritualista.