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Protestos e economia no caminho da reeleição de Dilma

Fernando Caulyt10 de fevereiro de 2014

Presidente tem hoje mais obstáculos do que antes da eclosão das manifestações. Ela ainda é favorita na disputa, mas baixo crescimento do PIB e contestação popular à Copa podem tornar vitória não tão fácil quanto parecia.

Foto: AP

Antes dos protestos de junho do ano passado, a presidente Dilma Rousseff tinha uma popularidade tão alta que quase nenhum analista político se arriscava a prever dificuldades para a reeleição. Mas, agora, com os brasileiros nas ruas como não se via há décadas, a expectativa de tensão durante a Copa do Mundo e o baixo crescimento econômico, a batalha eleitoral pode ser mais dura que o PT pensava.

Enquanto a oposição já se articula desde o ano passado em torno de alguns nomes de peso, como Aécio Neves (PSDB) e a dobradinha Eduardo Campos/Marina Silva (PSB), o PT aproveitou seu aniversário de 34 anos nesta segunda-feira (10/02) para lançar simbolicamente, em São Paulo, a pré-candidatura da atual presidente à reeleição.

"A eleição vai ser a mais polarizada desde 1989, quando ocorreu o restabelecimento das eleições diretas para a Presidência da República", afirma Marco Antônio Villa, historiador e ex-professor de ciências sociais da Universidade Federal de São Carlos. "Nesta eleição, o PT está mais fragilizado que em 2006 e, principalmente, que em 2010, por causa de diversos fatores."

Campanha mais quente

Entre os fatores que podem acirrar a batalha eleitoral para o PT estariam: a baixa expansão do Produto Interno Bruto (PIB), que deverá crescer em 2014 apenas 1,9%, de acordo com o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira; um certo desgaste da figura de Dilma – sua popularidade ainda não retomou os níveis de antes dos protestos de junho e segue em torno de 40%; e os gastos para a realização da Copa do Mundo. E tudo isso poder ser usado como arma pela oposição para angariar votos.

"Os custos deste evento deverão ser explorados pela oposição no início da campanha eleitoral, após o Carnaval, e especialmente em caso da derrota da seleção brasileira na Copa", diz Villa. "A eleição vai ser decidida no segundo turno, e tudo indica que no primeiro turno deve ocorrer uma grande fragmentação de votos entre os três principais candidatos – Dilma, Aécio e Eduardo Campos/Marina Silva."

Para Roberto Gondo, professor de comunicação política da Universidade Mackenzie, um dos desafios do PT é fazer campanha sem necessariamente contar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como cabo eleitoral. Outro aspecto é não deixar que índices como desemprego e inflação oscilem muito, já que são indicadores mais perceptíveis à população.

Marina Silva se filiou ao PSB, de Campos, no início de outubro de 2013Foto: AFP/Getty Images

Mesmo com vários desafios pela frente, Gondo aposta que, apesar das manifestações e de um contexto nacional de descontentamento da população em relação aos governantes, as eleições devem não trazer grandes surpresas. "Apesar de tudo, o PT começará a campanha como grande força à frente da disputa eleitoral."

Oposição se arma

A filiação de Marina Silva ao PSB, de Eduardo Campos, no início de outubro do ano passado, é mais um elemento que deve embaralhar a disputa política de 2014. A ex-senadora – grande surpresa nas eleições presidenciais de 2010, recebendo quase 20 milhões de votos – foi a única política que conseguiu aumentar sua intenção de votos depois das manifestações de 2013.

A ex-senadora pelo Acre se filiou ao partido de Campos após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitar, na semana anterior, o registro do partido Rede Sustentabilidade por falta de comprovação do número de assinaturas de apoio previsto em lei. O início de outubro era a última chance para ela participar da corrida eleitoral de 2014, já que a legislação obriga a pessoa a estar filiada a um partido um ano antes da eleição.

"Um ponto é como vai ser a interpretação do eleitorado de Marina Silva. Ela estava com o papel de terceira via [na tradicional polarização PT-PSDB], mas, quando se une a Eduardo Campos, não sabemos se o eleitor vai continuar com a candidata, mesmo ela sendo vice de Campos", diz Markus Fraundorfer, do instituto de estudos globais Giga, de Hamburgo.

Por outro lado, o PSDB joga as fichas em Aécio, que ainda não conseguiu fazer decolar sua pré-candidatura. Na última pesquisa da corrida presidencial divulgada pela Datafolha no final de novembro, Dilma tinha 47% dos votos, contra 19% de Aécio Neves e 11% de Campos. O percentual de eleitores que votariam em branco, nulo ou indecisos continuou em 23%, o mesmo da sondagem anterior, realizada em outubro.

Mesmo com protestos, Aécio Neves ainda não conseguiu decolar sua candidaturaFoto: Evaristo Sa/AFP/Getty Images

"Aécio resolveu primeiro garantir o apoio do PSDB. Ele tem um perfil político mais agregador, mas ainda não inspira confiança no sentido da combatividade e firmeza político-programática", afirma o historiador Marco Villa. "A oposição é frágil na combatividade e presença cotidiana nos debates. Porém, não podemos esquecer que, em 2010, apesar de uma campanha errática, José Serra [então candidato do PSDB] obteve no segundo turno quase 44% dos votos."

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