Milhares voltam a protestar na Faixa de Gaza e enfrentam dura resistência do Exército israelense, que posiciona atiradores de elite na fronteira. Ato termina em confrontos, com ao menos sete mortos entre os palestinos.
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Ao menos sete palestinos morreram e dezenas ficaram feridos nesta sexta-feira (06/04) em protestos que reuniram milhares de pessoas na fronteira entre a Faixa de Gaza e Israel. Segundo autoridades de saúde palestina, os mortos foram atingidos por disparos feitos por soldados israelenses.
Esse foi o segundo grande protesto, convocado pelo Hamas, na região em uma semana. Na série de manifestações, chamada "A Grande Marcha do Retorno", os palestinos repudiam o bloqueio de Israel, imposto há mais de uma década, e reivindicam o direito de retorno dos refugiados e seus descendentes às terras de onde foram expulsos ou fugiram após a criação do Estado de Israel, em 1948.
O governo israelense, no entanto, acusa o Hamas de usar os protestos para atacar a fronteira e advertiu que quem se aproximar da cerca estará colocando a vida em risco. Israel descarta ainda o direito de retorno dos palestinos, temendo que o país possa perder a maioria judaica.
Durante os protestos desta sexta-feira em Gaza, os palestinos incendiaram pneus para criar uma cortina de fumaça e bloquear a visão dos soldados israelenses. Os manifestantes entraram em confronto com os militares. Os palestinos lançaram pedras contra os soldados, que responderam com gás lacrimogêneo e tiros.
O Exército israelense afirmou que, em meio à fumaça, os manifestantes lançaram também bombas e explosivos e que houve várias tentativas frustradas de cruzamento da fronteira.
Os militares israelenses posicionaram atiradores de elite de seu lado da fronteira para impedir que palestinos tentem romper a cerca que dá acesso a seu território.
Segundo o Ministério de Saúde de Gaza, mais de mil pessoas ficaram feridas nos protestos, 293 foram atingidas por tiros. Entre os feridos há mulheres e menores de idade. Entre os mortos há um jovem de 16 e outro de 17 anos.
Em Malaka, na região central de Gaza, onde se encontra um dos cinco acampamentos de protesto estabelecidos no território, era visível uma ampla presença de equipes médicas e ambulâncias, como parte do dispositivo desdobrado pelos serviços de emergência.
Na Cisjordânia também ocorreram confrontos entre jovens palestinos e tropas israelenses em diferentes postos de controle, que responderam com material antidistúrbios aos lançamentos de pedras e coquetéis molotov.
O Ministério da Saúde informou que três pessoas foram atendidas no hospital de Ramallah, dois com ferimentos na cabeça e um terceiro ferido na perna. O Crescente Vermelho atendeu seis feridos com bala de borracha perto de um posto militar no norte de Ramallah.
Na cidade de Hebron, na Cisjordânia, também foram registrados confrontos entre a população local e as tropas israelenses.
No primeiro protesto da série convocada pelo Hamas, em 30 de março, 19 palestinos foram mortos. Esse foi o dia mais mortal no território desde a guerra de 2014 com Israel. A ONU e a União Europeia pediram um "inquérito independente" sobre a utilização por Israel de balas, algo que o governo israelense rejeitou.
A manifestação marcou o início de uma série de protestos previstos para durar seis semanas. A previsão é que os protestos se estendam até 15 de maio, data simbólica, chamada pelos palestinos de Nakba, ou "catástrofe", que marca a lembrança do deslocamento de centenas de milhares de palestinos do atual território israelense após a criação do Estado judeu em 1948.
Estima-se que a maioria dos 2 milhões de palestinos que vivem em Gaza são refugiados. Desde 2007, após o Hamas assumir o poder no território, Israel impôs um bloqueio econômico, devastando a economia local, dificultou a entrada e saída no território e cortou o fornecimento contínuo de energia elétrica.
CN/efe/lusa/ap/rtr
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Jerusalém, a história de um pomo da discórdia
Jerusalém é uma das cidades mais antigas do mundo, e ao mesmo tempo um dos maiores focos de conflitos. Judeus, muçulmanos e cristãos veem Jerusalém como cidade sagrada.
Foto: picture-alliance/Zumapress/S. Qaq
Cidade de Davi
Segundo o Velho Testamento, no ano 1000 a.C., Davi, rei de Judá e Israel, conquistou Jerusalém dos jebuseus, uma tribo cananeia. Ele mudou a sede de seu governo para Jerusalém, que se tornou capital e centro religioso do reino. De acordo com a Bíblia, Salomão, o filho de Davi, construiu o primeiro templo para Yaweh, o deus de Israel. Jerusalém tornou-se assim o centro do Judaísmo.
Foto: Imago/Leemage
Reino dos persas
O rei Nabucodonosor 2º, da Babilônia, conquistou Jerusalém em 597 e novamente em 586 a.C., segundo a Bíblia. Ele destruiu o templo e aprisionou o rei Joaquim de Judá e a elite judaica, levando-os para a Babilônia. Quando o rei persa Ciro, o Grande, conquistou a Babilônia, permitiu que os judeus voltassem do exílio para Jerusalém e reconstruíssem o templo.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library
Sob o poder de Roma e Bizâncio
A partir de 63 d.C., Jerusalém passou ao domínio de Roma. A resistência se formou rapidamente entre a população, eclodindo uma guerra no ano 66. O conflito terminou quatro anos depois, com a vitória dos romanos e uma nova destruição do templo em Jerusalém. Os romanos e os bizantinos dominaram a Palestina por 600 anos.
Foto: Historical Picture Archive/COR
Conquista pelo árabes
Durante a conquista da Grande Síria, as tropas islâmicas chegaram até a Palestina. Por ordem do califa Umar, em 637, Jerusalém foi sitiada e conquistada. Durante a época da supremacia muçulmana, vários rivais se revezaram no domínio da região. Jerusalém foi ocupada várias vezes e trocou diversas vezes de soberano.
Foto: Selva/Leemage
No tempo das Cruzadas
O mundo cristão passou a se sentir cada vez mais ameaçado pelos muçulmanos seljúcidas, que governavam Jerusalém desde 1070. Em consequência, o papa Urbano 2º convocou as Cruzadas. Ao longo de 200 anos, os europeus conduziram cinco Cruzadas para conquistar Jerusalém, algumas vezes com êxito. Por fim, em 1244, os cristãos perderam de vez a cidade, que caiu novamente sob domínio muçulmano.
Foto: picture-alliance/akg-images
Os otomanos e os britânicos
Após a conquista do Egito e da Arábia pelos otomanos, em 1535, Jerusalém se tornou sede de um distrito governamental otomano. As primeiras décadas de domínio turco representaram impulsos significativos para a cidade. Com a vitória dos britânicos sobre as tropas turcas em 1917, a região – e também Jerusalém – passou ao domínio britânico.
Foto: Gemeinfrei
Cidade dividida
Após a Segunda Guerra Mundial, os britânicos renunciaram ao mandato sobre a região. A ONU aprovou a divisão da área, a fim de abrigar os sobreviventes do Holocausto. Isso levou alguns países árabes a iniciarem uma guerra contra Israel, em que conquistaram parte de Jerusalém. Até 1967, a cidade esteve dividida em lado israelense e lado jordaniano.
Foto: Gemeinfrei
Israel reconquista o lado oriental
Em 1967, na Guerra dos Seis Dias contra Egito, Jordânia e Síria, Israel conquistou o Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia, as Colinas de Golã e Jerusalém Oriental. Paraquedistas israelenses chegaram ao centro histórico e, pela primeira vez desde 1949, ao Muro das Lamentações, local sagrado para os judeus. Jerusalém Oriental não foi anexada a Israel, apenas integrada de forma administrativa.
Desde esta época, Israel não impede os peregrinos muçulmanos de entrarem no terceiro principal santuário islâmico do mundo. O Monte do Templo está subordinado a uma administração muçulmana autônoma. Muçulmanos podem tanto visitar como também rezar no Domo da Rocha e na mesquita de Al-Aqsa, que fica ao lado.
Foto: Getty Images/AFP/A. Gharabli
Status não definido
Até hoje, Jerusalém continua sendo um obstáculo no processo de paz entre Israel e os palestinos. Em 1980, Israel declarou a cidade inteira como "capital eterna e indivisível". Depois que a Jordânia desistiu de reivindicar para si a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, em 1988, foi conclamado um Estado palestino, com o leste de Jerusalém como sua capital.