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Protestos em Moscou ganham um rosto feminino

Roman Goncharenko av
10 de agosto de 2019

A onda de protestos eleitorais na capital russa não tem um líder. No entanto, uma figura vem despontando: a ativista e candidata barrada Lyubov Sobol, de 31 anos. Há também quem critique seus métodos sensacionalistas.

Prisão da oposicionista Lyubov Sobol, antes dos protestos de 3 de agosto de 2019
Prisão da oposicionista Lyubov Sobol, antes dos protestos de 3 de agosto de 2019Foto: Reuters/T. Makeyeva

Dezenas de milhares reuniram-se novamente nas ruas da capital russa, neste sábado (10/08), para protestar contra a exclusão dos candidatos oposicionistas e independentes das eleições para o parlamento municipal moscovita. Como nos fins de semana anteriores, também desta vez houve centenas de prisões.

Uma ausência chamou fortemente a atenção: a política de oposição Lyubov Sobol, de 31 anos, também impedida de concorrer a um cargo legislativo, foi detida pela polícia, pela segunda vez em duas semanas. "Não vou conseguir ir à manifestação, mas vocês sabem o que fazer sem mim", tuitou.

No primeiro sábado de agosto, policiais a retiraram de um táxi a caminho do "passeio de protesto" não autorizado em Moscou, durante o qual mais de 800 ativistas foram presos. Ela foi levada a tribunal e sentenciada a pagar multa por participar da manifestação da semana anterior, em que houve mais de 1.300 detenções e numerosos feridos em choques com as forças de segurança. Depois de interrogada a respeito de um outro caso, Sobol foi liberada à noite.

Há semanas, os moscovitas protestam por eleições justas. Tudo começou quando as autoridades eleitorais excluíram oposicionistas e independentes do pleito marcado para 9 de setembro, sob a alegação de que parte das assinaturas de eleitores necessárias à candidatura era forjada.

O pleito municipal de Moscou, que normalmente recebe pouca atenção pública, está fazendo manchetes, pois seus cidadãos são considerados especialmente críticos ao Kremlin. Num momento em que o partido Rússia Unida, que governa o país, vem perdendo popularidade, essa votação conta como um teste crítico do clima político.

Sobol aposta em estratégias midiáticas para ganhar espaço políticoFoto: DW/ Nemtsova.Interview

A atual onda de protesto é reminiscente do movimento de oposição que foi às ruas em 2011-2012 exigindo eleições justas, embora ainda não tenha alcançado as mesmas dimensões. Nas duas ocasiões, o alvo era o sistema político do presidente Vladimir Putin. Mais uma vez, não há um líder definido, embora Lyubov Sobol esteja emergindo como uma figura opositora relevante.

Tendo estudado direito na prestigiosa Universidade Estatal de Moscou, ela se destacou como advogada da Fundação Anticorrupção (FBK), de Alexei Navalny, um dos mais fervorosos críticos de Putin. Em 2018, foi eleita para o conselho central do partido Rússia do Futuro, de Navalny, o qual está proibido de concorrer nas eleições de setembro.

Diante desses obstáculos, o oposicionista e sua equipe passaram a concentrar-se em disseminar vídeos online denunciando a corrupção entre os altos detentores de poder russos. O papel de Sobol é crucial, como organizadora e figura frequente no canal do Youtube Navalny-Live, que conta mais de 1 milhão de assinantes.

Esta é a terceira tentativa da advogada de concorrer ao parlamento de Moscou, desde 2014. Uma vez ela retirou sua candidatura, devido ao número insuficientes de assinaturas de apoio; outra vez por não ter consultado outros partidos de oposição.

Em 2019, contudo, sua candidatura teve um lançamento promissor, pois Sobol reuniu mais signatários do que necessário. Até a Comissão Eleitoral declarar 14% das assinaturas "incorretas" – uma acusação rechaçada por Sobol. Em meados de julho ela entrou em greve de fome, em protesto à decisão, instalando-se na sede da Comissão em Moscou, da qual só saiu quando a polícia carregou para fora o sofá em que se encontrava.

Se nenhuma dessas iniciativas resultar numa anulação da proibição, Sobol planeja seguir os passos de Navalny, urgindo os eleitores a votarem em qualquer candidato de qualquer partido, menos do Rússia Unida.

O estilo da jovem política também tem seus críticos. Ela foi alvo de desaprovação, por exemplo, ao interceptar, no início de junho, no saguão da estação de rádio Eco de Moscou, a redatora-chefe da emissora internacional russa RT, Margarita Simonyan, grávida na época. Sobol a bombardeou com perguntas críticas sobre políticos locais, enquanto tentava filmá-la. Hospitalizada após o incidente, Simonyan queixou-se de que fora molestada.

Mais tarde, em entrevista à DW, Lyubov Sobol comentou que o apoio a ela dera um salto após ter confrontado a jornalista: "O número de meus assinantes nas redes sociais cresceu mais rápido do que nunca, e minhas postagens foram mais curtidas do que nunca, desde o incidente com Margarita Simonyan."

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