Protestos globais antecedem cúpula do clima de Paris
29 de novembro de 2015
Estima-se que 570 mil pessoas foram às ruas em todo o mundo para protestar contra aquecimento global, um dia antes da conferência do clima. Na capital francesa, evento termina em confronto entre polícia e manifestantes.
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Sob o lema "marcha climática global", milhares de pessoas participaram neste domingo (29/11) de protestos em várias cidades do mundo, um dia antes da abertura oficial, em Paris, da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP21).
Enquanto que as manifestações em diversos países, de forma geral, foram pacíficas, houve conflito entre forças de segurança e manifestantes na capital francesa. A polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar os ativistas, que, por sua vez, responderam arremessando sapatos e garrafas. Segundo as autoridades, mais de 200 pessoas foram detidas.
Como símbolo da proibição de marchas em Paris por motivos de segurança, após os atentados terroristas de 13 de novembro, ativistas deixaram cerca de 20 mil sapatos na Praça da República, no centro da capital francesa.
Entre eles estava um par doado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, como também outro do papa Francisco, que escreveu no objeto o seu nome e uma encíclica contra mudanças climáticas.
Mais cedo, cerca de 10 mil ativistas formaram uma corrente humana no percurso de três quilômetros entre a Praça da República e Praça das Nações. "Esse é o momento para o mundo dar as mãos", afirmou Ian Keith, diretor de campanhas da Avaaz e um dos organizadores do protesto.
Protestos no mundo
Mais de 2 mil protestos acontecem em cidades como Sidney, Berlim, Londres, São Paulo e Nova York. Organizadores estimam que os eventos reuniram cerca de 570 mil pessoas pelo mundo.
Na capital alemã, de acordo com dados da polícia, cerca de 5 mil pessoas participaram dos protestos. "Berlim envia um sinal claro para Paris", afirmaram os organizadores, que quantificaram os manifestantes em cerca de 17 mil.
Em Sidney, mais de 45 mil pessoas marcharam pelo distrito comercial até a Opera House, um dos símbolos da Austrália. Entre eles, estava o prefeito da cidade, Clover Moore, que afirmou pelo Twitter que esta era a maior manifestação contra as mudanças climáticas já realizadas no município. Manifestantes carregavam placas com dizeres como "não existe planeta B" e "diga não à queima de florestas nacionais por eletricidade".
Em Hong Kong, dois manifestantes carregaram um urso polar de isopor com uma faixa com os dizeres "sem casa e com fome" e "por favor, ajude" em alusão ao derretimento do círculo polar Ártico.
No Brasil, os protestos lembram ainda da tragédia causada pelo rompimento de duas barragens da mineradora Samarco em Mariana, há três semanas. No Rio de Janeiro, cerca de 200 manifestantes se reuniram na praia de Ipanema, pintados de marrom em referência à lama que atingiu o rio Doce e chegou ao oceano.
O grande objetivo da 21ª Conferência do Clima (COP-21) é chegar um acordo para que todos os países signatários reduzam suas emissões de gases que provocam o efeito estufa. Espera-se que isso ajude a conter o aumento da temperatura em até 2 graus centígrados em relação às temperaturas registradas no período pré-industrial.
Esse limite máximo foi adotado pela comunidade internacional em 2010, durante a COP-16, em Cancún, no México. Cientistas concordam que, se o aquecimento for limitado nesse nível, os efeitos podem ser administráveis.
Segurança redobrada em Paris
Após os ataques em Paris, a cidade vive sob um forte esquema de segurança que foi reforçado para o evento da ONU. Cerca de 2,8 mil policiais e soldados vão garantir a segurança no local da conferência, e 6, 3 mil estarão distribuídos por Paris.
O governo colocou ainda 24 ativistas sob prisão domiciliar antes da conferência, informou neste sábado o ministro do Interior francês, Bernard Cazeneuve. Ele disse que essas pessoas eram suspeitas de planejar protestos violentos durante a conferência. A França barrou também a entrada de 1 mil pessoas que poderiam representar riscos à segurança.
Os líderes dos EUA, Barack Obama, da Rússia, Vladimir Putin, da China, Xi Jinping, da Índia, Narendra Modi, e do Brasil, Dilma Rousseff, estão entre os mais de 140 chefes de Estado e de governo que participarão da abertura da conferência nesta segunda-feira.
FC/rtr/dpa/afp/epd/lusa/efe
Giro por um mundo transformado pelo clima
As mudanças do clima global estão alterando a face do mundo, do derretimento do gelo polar e elevação do nível do mar à migração da vegetação. Quem quiser mostrar aos filhos como é uma geleira de verdade, que se apresse.
Foto: Reuters/Mariana Bazo
Mundinho pequeno
Mesmo se conseguirmos manter o aquecimento global abaixo de 2°C, 2015 poderá ser o ano mais quente já registrado desde a era pré-industrial. O risco de o nível do mar subir mais de um metro e submergir Amsterdã persiste. Se continuarmos a emitir dióxido de carbono na velocidade atual, até 2100 a Terra terá se aquecido em 4°C – e Nova York estará sob o mar.
Foto: CC BY 2.0 Duncan Hull
Recifes de coral por um fio
Mergulhar na Austrália para admirar os belos recifes de coral pode ser um prazer com dias contados, pois o aquecimento global vai destruindo esses ecossistemas submarinos. As águas cada vez mais quentes causam a descoloração dos corais, e um aumento de 2°C pode dissolvê-los. O acréscimo de CO2 torna a água dos oceanos mais ácida, impedindo o crescimento normal das estruturas calcárias.
Foto: picture-alliance/ dpa
Alpes sem esqui
O aquecimento nos Alpes é "três vezes a média global", segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. O nível de neve diminui a cada ano e a vegetação conquista montanhas mais altas. Estações de esqui nas zonas inferiores estão ameaçadas de falência. Alguns resorts até cobrem a neve com material reflexivo durante os meses mais quentes, na tentativa de deter o derretimento.
Foto: picture-alliance/chromorange
Veneza – beleza submersa?
A italiana Veneza é apenas uma entre as cidades ameaçadas de desaparecer com a subida do nível do mar. Ou de se tornar inabitável, devido a inundações e tempestades cada vez mais fortes. O mesmo medo atinge Miami, Nova York, Santo Domingo, Bangkok, Barranquilla, Hong Kong, Cidade de Ho Chi Minh, Palembang, Tóquio, Mumbai, Alexandria, Amsterdã: todas elas correm risco.
Foto: picture-alliance/dpa
Passagem Noroeste
O derretimento das geleiras está permitindo que navios cortem caminho entre a Europa e a Ásia pela historicamente intransitável Passagem Noroeste. Em 2007, a Agência Espacial Europeia anunciou que o trecho estava "inteiramente navegável". Embora ainda não esteja suficientemente livre para navios de carga, os cruzeiros agora já oferecem uma rota antes reservada aos aventureiros e exploradores.
Foto: DW/I.Quaile
Elefantes em perigo
O aumento populacional e as mudanças climáticas afetam os animais. Eles lutam para se ajustar às secas cada vez mais frequentes e intensas, ondas de calor, tempestades e o aumento do nível do mar. A organização de proteção ambiental WWF incluiu o elefante africano na lista das espécies e lugares atingidas pelas mudanças climáticas, juntamente com as tartarugas, tigres, golfinhos e baleias.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Seca californiana
As mudanças climáticas são claramente visíveis no estado americano da Califórnia, que é afetado por fortes períodos de seca. Os últimos três anos foram os mais quentes de todos os tempos. Quem quiser passear pelas plantações de amêndoas na Califórnia, as de café no Brasil ou os campos de arroz no Vietnã, é agora ou nunca.
Foto: Reuters/L. Nicholson
Escalando as últimas geleiras
A lista do Patrimônio Mundial da Humanidade inclui numerosas belezas naturais, mas com um aquecimento global de 3°C, 136 dessas 700 maravilhas serão afetadas. Entre elas o Glacier National Park, nos EUA, onde os efeitos das mudanças climáticas estão sendo estudados. Das 150 geleiras existentes aqui no século 19, sobravam 24 em 2010. A previsão é que em 2030 o parque estará privado de todas elas.
Foto: gemeinfrei
Mudança climática a domicílio
Se depois de todas essas imagens, você ainda não teve vontade de conhecer nenhum desses lugares, pode ficar onde está. As mudanças climáticas poderão vir bater à sua porta, sem que você sequer precise se levantar do sofá. A Climate Central acredita que mais de 150 milhões de pessoas moram em áreas que serão submersas ou estarão sujeitas a inundações constantes até 2100. Ou mesmo bem antes disso.