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Protestos na Turquia se tornam dilema para governo do país

Senada Sokollu / Carlos Albuquerque13 de junho de 2013

Após ação violenta da polícia, premiê turco sugere realização de referendo em encontro com manifestantes. Para observadores, governo não sabe como agir diante da onda de protestos que tomou o país.

Foto: Reuters

Após quase duas semanas de manifestações contra a demolição do Parque Gezi, no centro de Istambul, o AKP, partido do primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, sugeriu a realização de um referendo sobre os controversos planos de construção de um centro comercial e de uma réplica de um quartel dos tempos do Império Otomano na área.

A população de Istambul ou do bairro de Beyoglu, onde fica o Gezi, poderia ser consultada se o parque deve continuar a existir ou não, afirmou a jornalistas o porta-voz do partido governista AKP, Hüseyin Celik. Ao mesmo tempo, Celik exigiu que os manifestantes abandonassem imediatamente o Parque Gezi. Caso contrário, a polícia seria obrigada novamente a agir, afirmou o porta-voz.

A dissolução de um acampamento no parque Gezi foi o estopim da onda de protestos, iniciados por ativistas que tentavam evitar o fechamento do parque pelas autoridades. Entre outros argumentos, a perda de uma das poucas áreas verdes da cidade se destacou. As manifestações logo se dirigiram contra o governo de Recep Tayyip Erdogan. Três pessoas morreram e mais de 5 mil teriam ficado feridas desde o começo dos protestos, de acordo com a associação de médicos local.

E os protestos continuam. Também nesta quinta-feira (13/06), manifestantes ocuparam a praça Taksim, em Istambul.

Mas, diferentemente da noite anterior, a polícia não interveio. A TV mostrou imagens de centenas de manifestantes, que demonstravam pacificamente seu descontentamento na praça e no vizinho Parque Gezi. Na capital Ancara, no entanto, houve novos protestos na madrugada. A polícia utilizou granada de fumaça para dispersar os manifestantes.

"Não é o momento certo para falar"

Na manhã de quarta-feira, Erdogan havia se encontrado em Ancara com 11 representantes do movimento de protesto – entre eles, artistas, estudantes e cientistas. A sugestão do referendo foi anunciada durante a conversa, afirmou o porta-voz Celik. No entanto, após a dura atuação da polícia na terça-feira, outros ativistas convidados não se mostraram mais dispostos a um encontro com o primeiro-ministro.

Erdogan (d) encontrou-se com ativistas em AncaraFoto: picture-alliance/AP Photo

"No atual contexto de violência, não é possível haver um diálogo saudável", disse a gerente de campanha da organização ambiental Greenpeace, Hilal Atici, sobre a decisão de não participar da conversa com Erdogan. O jornalista e ativista Hayko Bagdat é da mesma opinião. "A atuação da polícia na terça-feira foi muito violenta – e muitos ativistas convidados para o encontro foram atacados com gás lacrimogêneo", afirmou Bagdat à Deutsche Welle.

Quando o escritório do primeiro-ministro o contatou por telefone, ele não pôde falar devido ao gás lacrimogêneo. "Desde o princípio, eu considerei um encontro com Erdogan a coisa certa", disse Bagdat. "Mas ninguém pode entender a necessidade dessa violenta ação policial", assinalou o jornalista.

Contradições no primeiro escalão

Ao contrário de Erdogan, o presidente turco, Abdullah Gül, continua a apostar num procedimento mais brando. Em coletiva de imprensa, Gül voltou a salientar na quarta-feira sua opinião sobre a abordagem errônea da polícia e pediu mais diálogo com os manifestantes. Por outro lado, Erdogan continua a defender as autoridades. A partir de agora não há mais tolerância com os manifestantes, afirmou o premiê. O Parque Gezi não seria um lugar para invasores, disse Erdogan, fazendo referência aos controversos planos para o parque de Istambul.

Três pessoas morreram após confronto entre manifestantes e ativistasFoto: Reuters

Além disso, as manifestações públicas seriam negativas para a reputação da Turquia, criticou o chefe de governo turco – na noite de terça-feira, também o governador de Istambul passou para o seu lado. Hüseyin Avni Mutlu exigiu que todas as pessoas deixassem a praça Taksim. Os cidadãos deveriam manter-se afastados da praça, até que a segurança fosse restabelecida.

Perplexidade e teimosia

"Por um lado, Erdogan persegue uma retórica dura e chama seus próprios apoiadores a protestar. Pelo outro, ele aceita um encontro com 11 cidadãos para falar sobre o problema", declarou o jornalista e escritor turco Cengiz Aktar em conversa com a Deutsche Welle. Segundo Aktar, o próprio governo não sabe o que deve fazer. "Ele nunca enfrentou crise semelhante. Essa é a primeira vez", explicou o jornalista as incoerências por parte do governo turco.

Aktar afirmou que os políticos teriam muita dificuldade para entender as razões dos protestos. "Quando não se entendem os motivos, então é claro que não se pode encontrar uma solução adequada."

A única esperança seria que o premiê mudasse de opinião – mas ele não é esse tipo de pessoa, disse Aktar. "Ele nunca muda de opinião", disse o jornalista. E se Erdogan não recuar de sua posição, então a Turquia irá vivenciar uma crise ainda maior e ainda mais protestos, salientou Aktar.

Também para o ativista Hayko Bagdat, a linha dura de Erdogan seria o problema central – para ele, está claro que uma mudança de posição não significaria um recuo do governo, mas "um passo para a frente".

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