Jovem morre no noroeste do país, enquanto oposicionistas atacam e incendeiam homem em Caracas. Presidente Nicolás Maduro classifica adversários de "mercenários" e volta a acusar EUA de interferência no país.
Anúncio
Um jovem manifestante morreu com um tiro no peito, elevando para 48 o número de mortos em sete semanas de protestos contra o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, comunicaram neste domingo (21/05) as autoridades locais.
A morte ocorreu na cidade de Valera, no noroeste do país. Segundo comunicado da Procuradoria-Geral, pistoleiros abriram fogo no sábado contra uma manifestação antigoverno. Edy Alejandro Terán Aguilar, de 23 anos, recebeu uma bala no peito. Também ficaram feridos no tiroteio um homem de 18 anos e uma mulher de 50 anos.
Além disso, o Ministério Público (MP) venezuelano divulgou que um homem de 22 anos de idade foi queimado vivo durante uma manifestação da oposição. O ataque ocorreu no sábado, em Chacao, no leste de Caracas, e a vítima, Orlando José Figuera, encontra-se hospitalizado com seis ferimentos por arma branca e queimaduras de primeiro e segundo grau em 80% do corpo.
O ministro da Informação da Venezuela, Ernesto Villegas, publicou no Twitter um vídeo que mostra o incidente com Figuera: "A crescente insanidade. Um ser humano é incendiado numa 'manifestação pacífica'." O Ministério Público anunciou a abertura de uma investigação para averiguar o ataque. Segundo a imprensa local, um grupo de manifestantes identificou o rapaz como um suposto ladrão.
Maduro: "mercenários" e Trump manipulador
O governo Maduro responsabilizou a oposição, indicando que a vítima foi agredida depois de acusações de ser "chavista", sendo espancada, esfaqueada e queimada "como fazem os terroristas do Estado Islâmico (EI)". O presidente venezuelano culpou os "líderes de grupos de mercenários" pela violência, afirmando que vários deles já estavam na prisão.
Maduro também reiterou suas alegações de que o presidente dos EUA, Donald Trump, estaria por trás dos problemas do país. Segundo ele, Trump teria suas mãos "profundamente dentro desta conspiração que visa tomar o controle política da Venezuela".
O monitor não governamental Foro Penal registra que, desde que os protestos começaram, em 1º de abril, centenas de pessoas sofreram ferimentos e cerca de 2.200 foram detidas, das quais 161 estão presos sob ordens de tribunais militares.
Sete de cada dez venezuelanos rejeitam a liderança de Maduro, de acordo com pesquisas de institutos privados, em meio à devastação econômica generalizada agravada pela queda dos preços do petróleo em 2014, principal fonte de receita da Venezuela.
PV/lusa/afp
A crise na Venezuela pelo olhar de um fotógrafo
Imagens capturadas por fotojornalista venezuelano Iván Reyes documentam protestos contra o governo de Nicolás Maduro: da reação da polícia à coragem de jovens e mulheres.
Foto: Ivan Reyes
Jornalismo nascido da necessidade
"Eu já trabalhava há um ano como jornalista quando os protestos começaram em 2014. Muitos meios de comunicação independentes surgiram nos últimos dois anos devido à censura do governo, e é assim que eu me tornei repórter", diz Iván Reyes à DW. Ele começou a fotografar a nova onda de protestos no final de março.
Foto: Ivan Reyes
Idade da Pedra
A decisão do Supremo Tribunal de Justiça de tirar a imunidade dos parlamentares da oposição (logo revogada) desencadeou uma onda de manifestações que paralisou o país. Embora os protestos inicialmente tenham sido pacíficos, as forças governamentais começaram a atirar pedras contra os manifestantes. "Sério, deram pedras aos policiais! Este homem foi atingido por uma em 4 de abril ", afirma Reyes.
Foto: Ivan Reyes
Guerra contra os manifestantes
Os protestos ocorrem todos os dias em várias partes de Caracas, mas geralmente acabam nas grandes vias da cidade. A foto mostra os membros da Guarda Nacional disparando gás lacrimogêneo contra os manifestantes. "Segundo a legislação internacional, os projéteis devem voar por cima das cabeças das pessoas", diz Reyes. Mas, segundo ele, a determinação não é obedecida.
Foto: Ivan Reyes
"Todos somos Juan!"
Juan Pablo Pernalete, de 20 anos, morreu depois de ser atingido por um projétil em 26 de abril. A morte do estudante da Universidade Metropolitana desencadeou protestos indignados. "As pessoas gritavam: Somos todos Juan!'", conta Reyes. No enterro, a família entregou ao líder oposicionista venezuelano Henrique Capriles uma medalha que Juan Pablo ganhou nos Jogos da Juventude.
Foto: Ivan Reyes
Armas caseiras
Embora as lideranças dos protestos tenham apelado para que os manifestantes não recorram à violência, vários grupos começaram a usar armas de fabricação caseira contra as forças do governo, como estilingues e coquetéis molotov. "Esta é uma batalha que não podem vencer", afirma Reyes.
Foto: Ivan Reyes
Os heróis
"Jesus foi um dos feridos na manifestação de 4 de maio. Ele foi atingido na cabeça. As pessoas que estavam no local o carregaram até os paramédicos. Eles e os médicos da equipe de primeiros socorros UCV são os verdadeiros heróis", diz Reyes, referindo-se a médicos e estudantes de medicina que acompanham os protestos para ajudar os feridos.
Foto: Ivan Reyes
A fúria das mulheres
A marcha das mulheres organizada pelo partido oposicionista MUD em 6 de maio tinha como meta o Palácio da Justiça em Caracas. Mas elas foram barradas por uma unidade feminina das forças de segurança. As manifestantes usaram camisetas brancas, tal como as "Damas de Branco", de Cuba, que desde 2003 fazem manifestações todos os domingos pela libertação dos maridos e de outros políticos presos.
Foto: Ivan Reyes
Ode à Venezuela
Esta foto feita por Reyes viralizou nas redes sociais em 8 de maio. Ela mostra um jovem que toca o hino nacional venezuelano enquanto caminha pela rua. "Não acredito que os protestos vão terminar logo", assinala Reyes. "Vamos ver quem cansa primeiro!"